Valor Econômico
Alemanha, Austrália, Canadá são alguns dos
países onde a esquerda tende a perder espaço
A vitória de Donald Trump nas eleições
americanas no ano passado pode ser a primeira de uma série mundial de guinadas
conservadoras.
O ano de 2025 no mundo não será tão agitado eleitoralmente como 2024, mas poderá representar uma troca de guarda em nações cuja política doméstica tem o condão de mudar o equilíbrio de poder em blocos regionais inteiros. Trump e o quase futuro copresidente dos Estados Unidos Elon Musk arregaçaram as mangas, especialmente o último, para interferir em processos eleitorais alheios. Na maioria dos casos, contudo, a tendência conservadora precede a intromissão da dupla de extremistas que tomará conta da Casa Branca.
Empresas e publicações de especialistas em
análises internacionais como a Eurasia, o Foreign Policy e outros têm se
dedicado a identificar quais são as dez eleições mais importantes de 2025. Há
nove que figuram em todas as listagens, e por ordem de importância quem vem na
frente, de longe, é a Alemanha.
A eleição para o parlamento alemão está
marcada para 23 de fevereiro e o processo eleitoral foi agitado nos últimos
dias pela ação de Musk. Em postagens nas redes sociais e em um artigo no jornal
“Welt am Sonntag” publicado dia 28, Musk declarou apoio ao partido Alternativa
para a Alemanha (AfD), suspeito de veleidades neonazistas. Musk, evidentemente,
tenta desconstruir a imagem de extrema-direita amplamente consolidada da AfD.
A AfD tem crescido nos últimos anos e
alcançou o segundo lugar nas pesquisas de intenção de voto, à frente do
social-democrata SPD, do chanceler Olaf Scholz, que está no poder e deve
perdê-lo no próximo mês. Mas antes da entrada em cena de Musk vinha patinando
nas sondagens. Segundo um agregador de pesquisas publicado no site Politico, a
intenção de voto da AfD oscilou de 22% para 19% ao longo de 2024. O franco
favorito para ganhar as eleições do terceiro maior PIB do mundo e principal
economia da União Europeia é, ou pelo menos era, a CDU, da direita
convencional, liderada por Friedrich Merz, com percentuais de intenção de voto
estáveis em torno de 30%. A possibilidade de a AfD conseguir maioria para
governar a Alemanha pode ser descartada, mas seu crescimento promete mais
instabilidade para o continente.
Dois outros países do bloco dos mais ricos
tendem a deixar o campo progressista para ingressar no conservador: Canadá e
Austrália. Nos dois casos a data para a eleição dos parlamentos é incerta, mas
deve ocorrer até maio no caso australiano e até outubro, no canadense. Os
governantes atuais, Justin Trudeau no Canadá e Anthony Albanese na Austrália,
são impopulares.
Trudeau é alvo de uma espécie de “bullying”
da direita americana. De forma humilhante, Trump deu declarações depois de se
encontrar com Trudeau de que o Canadá poderia preferir se tornar o 51º estado
americano. Ele é contestado pelas suas políticas econômica, de defesa e
migratória. O favorito para sucedê-lo é o conservador Pierre Poilievre, que se
define como “libertário” na economia.
Na Austrália, o trabalhista Albanese está em
crise, mas o conservador oposicionista Peter Dutton não empolga nas pesquisas.
Tanto o Canadá quanto a Austrália são países estratégicos para a política
externa americana, sobretudo em um cenário de confrontação com a China.
Na perspectiva brasileira, o presidente Luiz
Inácio Lula da Silva pode testemunhar a consolidação ou a ascensão da direita
na América do Sul, revertendo a “onda rosa” dos últimos anos. A primeira
eleição acontecerá no Equador, em que o presidente Daniel Noboa, de direita,
buscará um novo mandato em 9 de fevereiro.
Nascido em Miami e formado nos Estados
Unidos, Noboa governa em meio a uma gravíssima crise de segurança pública, se
identifica como de direita e não hesitou em mandar invadir a embaixada do
México para prender um político opositor, condenado por corrupção, em abril do
ano passado. Não será uma eleição fácil. Noboa certamente enfrentará um segundo
turno, provavelmente contra a esquerda. Mas lidera as pesquisas atuais.
A situação mais nebulosa é a da Bolívia, que
escolhe novo presidente em agosto. De acordo com analistas internacionais, a
guerra aberta entre os dois líderes do esquerdista MAS, o atual presidente Luis
Arce e o ex-presidente Evo Morales, declarado inelegível, torna o cenário
imprevisível do ponto de vista institucional. Há chance dessa confusão abrir
espaço para um conservador, o prefeito de Cochabamba, Manfred Reyes Villa.
A troca de mando, da esquerda para a direita,
é provável no Chile, que faz eleições presidenciais em novembro. O presidente
Gabriel Boric, que não pode se reeleger, é impopular e quem lidera as pesquisas
é a conservadora Evelyn Matthei. As eleições chilenas estão distantes, mas
Matthei lidera todas as pesquisas há mais de um ano.
As eleições parlamentares da Argentina em
outubro aparecem menos no radar dos analistas internacionais porque não
envolvem sucessão presidencial, mas merecem ser mencionadas nessa coluna pela
importância da política argentina no cenário brasileiro. De acordo com o jornal
“Clarín”, oito pesquisas de opinião indicam o favoritismo do partido do
presidente Javier Milei, um falcão da direita. Atualmente Milei é minoritário
no Congresso e forçado a negociar para conseguir avanços em sua agenda.
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