terça-feira, 28 de agosto de 2018

Rubens Barbosa: Descrédito do Brasil no exterior

-Folha de S. Paulo (27/8/2018

PT usa falsa retórica em campanha externa pró-Lula

O ex-ministro Celso Amorim, em artigo publicado neste espaço (21/8), dá curso à versão de que a eleição sem Lula é uma fraude. Com crescente protagonismo na divulgação das políticas e ações desenvolvidas pelo PT, Celso Amorim tornou-se o agente e o arauto das ações lulopetistas no exterior, com crescente visibilidade interna e externa.

No artigo, a realidade é obscurecida por inverdades como forma de iludir os (e)leitores. O papa Francisco, a pedido do ex-ministro, em vez de manifestar apoio ao ex-presidente, mineiramente pediu que Lula rezasse por ele...

A teoria conspiratória da trama urdida com ramificações fora do país está longe de poder ser comprovada. A medida liminar dos peritos do Comitê de Direitos Humanos, sem nenhum aviso ou pedido prévio de informações, não tem validade porque, ao contrário do que se afirmou, o Protocolo Facultativo do Pacto de Direitos Civis e Políticos não foi promulgado no Brasil por inépcia do governo petista.

Pela primeira vez, o comitê opinou sobre eleições, confundindo direitos humanos (universais) e direitos políticos (que dependem da legislação de cada país). Cumprido todo o devido processo legal no julgamento do ex-presidente, a eleição será legítima, e não uma fraude. Amorim continuou a prática de substituir a realidade por uma falsa retórica, iniciada durante sua passagem pelo Itamaraty.

Desde 2016, a campanha no exterior ganhou várias vertentes: golpe do impedimento da presidente Rousseff mobilizando até candidato à Presidência dos EUA e líderes de partidos ideologicamente afins ao PT na Europa; versão da vitimização com o desrespeito aos direitos e a privação de liberdade do ex-presidente, apresentado como prisioneiro político; publicação de carta do ex-presidente com essa ficção no jornal "The New York Times"; politização das decisões da Justiça brasileira com recurso ao comitê facultativo do Conselho de Direitos Humanos.

Dando seguimento à divulgação da versão petista da realidade, segundo se informa, o PT vai aumentar a ofensiva internacional para garantir a presença de Lula nas eleições.

Trata-se realmente de uma campanha liderada pelo partido na mobilização de jornais, cientistas políticos, ONGs, governos e Parlamentos desinformados —ou que não querem se informar— sobre as leis, a Justiça e a democracia brasileira.

A estratégia é colocar em questionamento o regime democrático caso Lula seja, de fato, barrado pela Lei da Ficha Limpa. Não conheço ação semelhante em outro país. Nenhum partido político age de forma tão desassombrada contra a reputação de seu país, não para defender princípios ou direitos inquestionáveis, mas para auferir ganhos políticos de curto prazo.

Por que o PT não se associa aos que lutam pela democracia e a liberdade de verdadeiros prisioneiros políticos, como fazem os partidos de oposição na Venezuela, em vez de defender o regime autoritário de Maduro?

É inaceitável que, a partir de retórica distorcida e repleta de inverdades, essa campanha seja utilizada para reforçar o descrédito das instituições e das leis brasileiras.

Eliane Cantanhêde: Arrastão do Bolsonaro

- O Estado de S.Paulo

O candidato do PSL à Presidência avança sobre agronegócio, evangélicos e malufistas, eleitorados que pareciam ter 'dono', ou 'dona'

Nas pesquisas sem o ex-presidente Lula, Jair Bolsonaro (PSL) lidera em todas as regiões, menos no Nordeste, e avança sobre votos que seriam naturalmente de seus adversários em três segmentos ao menos: agronegócio, evangélicos e, como mostrou o Estado, até os velhos malufistas de São Paulo. Mas, se tem 20% a seu favor, ele precisa amansar os 37% que não votam nele de jeito nenhum e disputar os incríveis 38% ainda sem voto.

Na opinião de Marina Silva (Rede), a segunda colocada, a transferência de votos para um neófito em disputas presidenciais como Bolsonaro, inclusive ou principalmente de setores evangélicos, se deve a um “populismo de extrema direita”. Ela reforça o perigo do populismo, tanto à direita quanto à esquerda, mas o difícil é o eleitor e a eleitora se darem conta disso.

Não fosse a solidez da agricultura, a recessão dilmista teria ido ainda mais fundo, teria sido mais danosa, e o agronegócio brasileiro não é apenas um dos mais competitivos do mundo como tem líderes, máquinas e logística modernos e sofisticados, mas continua sendo fortemente conservador em termos de costumes. Nada como um candidato que fale em ordem, tradição, família, Deus e... armas.

Merval Pereira: Bolsonaro em julgamento

- O Globo

Ministros terão que decidir se, ao medir o peso dos quilombolas em arrobas, candidato queria compará-los a animais

A Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) pode tornar hoje o candidato à presidência da República do PSL, Jair Bolsonaro réu pela segunda vez. Ele já o é por incentivo ao estupro, devido ao episódio envolvendo a deputada Maria do Rosário. Desta vez, será julgado, antes do início da propaganda eleitoral de rádio e televisão a próprio pedido, por declarações consideradas racistas sobre os quilombolas.

A maioria da Primeira Turma já firmou posição de que a imunidade parlamentar não significa impunidade, como disse a ministra Rosa Weber. E que o parlamentar só tem direito à proteção da lei caso suas palavras tenham sido proferidas durante o mandato e em função dele.

Hoje, os ministros terão que decidir se, quando Bolsonaro mediu o peso dos quilombolas em arroubas em uma palestra, queria compará-los a animais, como está sendo acusado pela Procuradoria-Geral da República, ou se foi apenas um vício de linguagem, uma piada de caserna, sem insinuações racistas.

Os comentários de Bolsonaro ganharam ressonância maior devido a declarações de seu candidato a vice, General Mourão, para quem o Brasil "herdou a cultura de privilégios dos ibéricos, a indolência dos indígenas e a malandragem dos africanos". Mesmo tendo se declarado indígena no registro no TSE, o General provocou polêmica.

O historiador Alberto da Costa e Silva, da Academia Brasileira de Letras, o maior especialista brasileiro em África, tem outra visão: “Foi o africano que ensinou o europeu no Brasil a batear o ouro dos rios, a cavar poços, a fundir o ferro. Foi o africano que desenvolveu a pecuária de grande extensão, onde o gado é solto no pasto, sem currais. Os africanos trouxeram uma nova maneira de vestir e de se comportar, de sentar, caminhar, construíram a casa de pau a pique, diferente da casa de taipa de Portugal. Os africanos trouxeram novos instrumentos musicais, comidas, vegetais”, cita o historiador.

Costa e Silva lembra que o português falado no Brasil foi influenciado e enriquecido com palavras de línguas faladas, principalmente, em Angola. “Quando eu xingo, eu estou falando em kikongo, quando eu cochilo, estou falando em kimbundu”.

Míriam Leitão: Bolsonaro e o uso da religião

- O Globo

Usar Cristo para justificar a proposta de armar a população brasileira é subverter a sua mensagem pacifista

O candidato Jair Bolsonaro fez o sinal da cruz antes de entrar no local onde seria entrevistado e o repetiu no início das perguntas. Esse é um gesto católico, que não é feito por evangélicos ou protestantes. Ele se diz “cristão”, mas deixa a definição imprecisa para ser aceito pelos evangélicos, como um deles, e não sofrer rejeição de outros grupos religiosos. Ao citar a Bíblia, demonstra falta de intimidade com o livro que chama de “caixa de ferramentas”.

Bolsonaro tem usado a religião de diversas formas. Afirma que está cumprindo “uma missão de Deus”. Colocar-se como um ungido, com uma missão divina, é uma forma de tentar atrair setores religiosos mais extremados.

Suas citações da Bíblia parecem mais repetição de algum trecho que lhe dão, do que conhecimento advindo da leitura do texto sagrado. Isso ficou claro ao fim do debate da Rede TV!, quando ele responde a Marina. “Leia o livro de Paulo.” Não existe um livro chamado Paulo. Existem vários livros escritos pelo apóstolo, no seu trabalho de construir as bases doutrinárias do cristianismo. São as epístolas às várias comunidades, os livros aos Romanos, Coríntios I e II, Gálatas, Efésios, Filipenses, Colossenses e Tessalonicenses I e II. Há também as endereçadas a Timóteo (duas), Tito e Filemon. Uma frase como essa de Bolsonaro revela desconhecimento elementar. Existem dois livros de Pedro, quatro com o nome de João — um do Evangelho e três epístolas — mas nenhum dos 66 livros da Bíblia protestante, nem dos 73 da Bíblia católica, chama-se Paulo.

Ao explicar o que tentara dizer a Marina, naquela indicação de leitura, Bolsonaro errou um pouco mais. Disse que se referia a uma passagem que diz “venda suas capas e compre espadas” e que teria sido dita por Paulo. O GLOBO informou que isso estava em Lucas. Bolsonaro foi além. “É que naquele tempo não existia arma de fogo, senão seria ponto 50 e fuzil.”

José Casado: Companheiros golpistas

- O Globo

Razão tinha o poeta Drummond, quando dizia que uma eleição é feita para corrigir o erro do pleito anterior, mesmo que o agrave

Para alguns candidatos será constrangedor e difícil explicar. Para milhões de eleitores vai ser quase impossível entender as próximas cenas da campanha eleitoral.

O primeiro capítulo vai ao ar na sexta-feira, quando começa propaganda política no rádio e na televisão. Nesse dia, por coincidência, se completam dois anos do último impeachment (em três décadas de democracia, o país já derrubou metade dos quatro presidentes que chegaram ao Planalto pelo voto direto).

Em vários estados o eleitor será surpreendido com o desfile do PT de Dilma e Lula abraçado aos “golpistas” do MDB de Michel Temer. Foram parceiros no poder por 12 anos e sete meses, até o impeachment de Dilma.

Atravessaram os últimos 24 meses em histeria na Câmara e no Senado. Todo dia, gastavam hora e meia nos plenários injuriando-se como “ladrões” e “corruptos” — não necessariamente nessa ordem. Houve parlamentar petista que fez 350 discursos de ataques aos “golpistas”, dois terços do Legislativo.

Agora, o PT está de novo entrelaçado ao MDB de Temer, ao PR de Valdemar Costa Neto, ao PP de Ciro Nogueira, ao PTB de Roberto Jefferson, ao PSD de Gilberto Kassab, ao SD de Paulinho da Força, ao DEM de Rodrigo Maia e ao PSB dos Arraes. Por milagre eleitoral, todos voltaram a ser bons companheiros.

Raymundo Costa: Eleição de senadores é derrota da Lava-Jato

- Valor Econômico

Mantida correlação de forças no Senado, segundo pesquisas

A desconcertante liderança de Lula nas pesquisas eleitorais não é a única derrota em curso da Operação Lava-Jato. No Senado, palco de um dos maiores confrontos entre o Legislativo e o Judiciário por conta das investigações, o senador Renan Calheiros (MDB) está com sua reeleição praticamente assegurada. Junto com ele estão de volta todos os principais investigados pelas operações iniciadas ao amanhecer e que viraram de ponta cabeça o mundo da política, segundo as pesquisas divulgadas na última semana. Em resumo, pelo menos na chamada Câmara Alta o efeito da Lava-Jato é zero.

A renovação, como um todo, é mínima, pois os "novos senadores" que estão à frente nas pesquisas eleitorais ou já ocuparam o cargo ou são políticos de velha cepa, como Sarney Filho, o Zequinha, do clã Sarney, cuja irmã Roseana, mais uma vez concorre ao governo do Maranhão.

O filhotismo, aliás, é outra praga que os novos tempos enunciados pela Lava-Jato não conseguiram erradicar. "As cadeiras seguirão nas mãos de oligarquias conhecidas", diz o consultor e jornalista Weiller Diniz, vice-presidente da Máquina Cohn & Wolfe, do alto de sua experiência de 30 anos no Senado, que se dedica a esmiuçar e decifrar números relativos ao Congresso para as grandes corporações do pais.

O cenário hoje registrado pelas pesquisas é uma fotografia do momento, pode mudar sobretudo após o início da propaganda eleitoral gratuita. Mas os levantamentos já feitos nos 26 Estados e Distrito Federal, sobretudo aqueles com a marca Datafolha e Ibope, indicam que o MDB - um dos partidos mais atingidos pelas investigações - continuará no comando do Senado, pois está em vias de eleger 12 senadores que se somariam aos 4 que têm mandato até 2022. Perderia 1 cadeira [hoje tem 17], mas continuaria com a maior bancada.

Ao menos 7 dos atuais caciques do MDB devem se reeleger: Eunício Oliveira (CE), atual presidente da Casa, Renan Calheiros (AL), líder da bancada, Jader Barbalho (PA), Garibaldi Filho (RN), que também já presidiu o Senado, Eduardo Braga (AM), ex-ministro de Minas e Energia, Roberto Requião (PR), da ala dissidente da atual direção partidária, e Romero Jucá (RR), uma espécie de faz-tudo no governo Temer (até a saída da liderança, ontem, não passa de uma jogada eleitoral). Eles detêm o controle da Casa. Entre os "novos", José Fogaça (RS) e Jarbas Vasconcellos (PE) - 2 ex-senadores - devem engrossar a bancada, mas provavelmente serão minoritários.

Bruno Boghossian: Saltos ornamentais

- Folha de S. Paulo

Políticos abandonam antigos aliados e buscam novos parceiros para sobreviver

Há um ano, Renan Calheiros (MDB-AL) percebeu que corria risco de derrota em sua campanha à reeleição. Muita gente estranhou quando o senador, que ajudou Michel Temer a subir ao poder, começou a atacar o governo de seu partido.

Renan arrumou briga com o MDB e foi destituído da liderança da sigla pelo colega Romero Jucá. Na ocasião, corria uma brincadeira entre os que questionavam seus motivos: “Se o Renan pular do 10º andar, pode ir atrás, porque embaixo é água”.

Jucá deu um salto ornamental nesta segunda (27). Articulador do “grande acordo” que derrubou Dilma Rousseff, o senador entregou o cargo de líder do governo para tentar conter o desgaste com a crise de imigração venezuelana em Roraima.

O senador disputa a reeleição pelo estado, e a campanha está longe de ser um passeio. Quatro candidatos se acotovelam por duas vagas, e ele aparece em terceiro lugar.

“Entre o cargo de líder, o governo federal e a população de Roraima que me elege, é claro que eu opto pela população”, disse Jucá.

Joel Pinheiro da Fonseca: Uma ideia em troca de dinheiro

- Folha de S. Paulo

Ser remunerado para defender uma posição, influenciar e formar opinião é errado?

"Influenciadores digitais" (podemos ficar com o velho "formadores de opinião") receberam pagamento para defender o PT em suas redes. Inicialmente, foi-lhes vendida a ideia de que se engajariam na promoção de pautas progressistas e apartidárias que lhes seriam fornecidas rotineiramente. Em algum momento entre defender Gleisi Hoffmann e cantar loas ao governador do Piauí Wellington Dias, os mais inteligentes entre eles devem ter percebido o claro viés político do esquema.

O esquema é, ademais, ilegal, pois viola as leis de financiamento de campanha. Quero, no entanto, discutir a ética dessa relação: receber dinheiro para defender uma certa posição. Desde que o esquema foi revelado, os "influenciadores", constrangidos, estão tendo que se explicar para o público. Mas afinal, há motivo para se explicar? Fizeram algo de errado?

O teor ideológico do que é defendido é o que menos importa aqui. A ideologia tem, na verdade, um papel perverso: ela justifica uma escolha que seria condenada em outros casos. A bondade da causa —os valores progressistas, o meio ambiente, etc.— justifica a maleabilidade do caráter. Na prática, pessoas de direita e de esquerda usam dos mesmos artifícios e se deparam com os mesmos dilemas.

O filósofo conservador Roger Scruton, por exemplo, recebia pagamentos mensais da Japan Tobacco International no início dos anos 2000 para defender o cigarro na mídia. Quando a relação veio à tona em 2002, numa matéria do jornal The Guardian, Scruton perdeu espaço em diversas publicações. Parece bastante perverso, não é? Não é pior do que os influenciadores agora pagos para elogiar o PT.

Luiz Carlos Azedo: A lei de Murici

- Correio Braziliense

A saída de Jucá da liderança sinaliza descolamento do governo Temer da poderosa bancada de senadores do PMDB, que pode diminuir de tamanho nas eleições deste ano

O senador Romero Jucá (MDB-RR) anunciou sua saída da liderança do governo no Senado, o que é um fato extraordinário, em se tratando de um parlamentar que se notabilizou por servir a todos os governos e só deixar o cargo contra a própria vontade, a pedido do presidente da República. Alegou não concordar com a forma como o Palácio do Planalto tem conduzido a crise dos imigrantes venezuelanos em Roraima. Jucá bateu em retirada defendendo o fechamento da fronteira do Brasil com a Venezuela, o que seria uma inconstitucionalidade. Foi uma jogada política para evitar uma derrota eleitoral acachapante.

Ex-interventor federal em Roraima no governo de José Sarney, embora seja pernambucano de origem, Jucá é o político mais importante da história do estado. Roraima somente adquiriu esse status com a promulgação da Constituição de 1988, ocasião em que se tornou seu primeiro governador. O antigo território federal de Rio Branco (criado em 1943, por causa da II Guerra Mundial) faz parte do Brasil desde a construção do Forte de São Joaquim, em 1778.

Graças à localização na confluência do rio Uraricoiera com o rio Tacutu, que formam o Rio Branco, a fortificação (que não existe mais) impediu que espanhóis, ingleses e neerlandeses se apossassem do território. No extremo Norte da Amazônia, faz fronteira com a Venezuela e a Guiana. Roraima tem enfrentado dificuldades para lidar com o volume de estrangeiros que deixam a Venezuela para fugir da crise econômica e social.

Presidente do PMDB, sua saída do governo Temer sinaliza um processo muito mais amplo de descolamento do partido do Palácio do Planalto, principalmente no Senado, onde a poderosa bancada de senadores pode diminuir bastante de tamanho. O ex-presidente do senado Renan Calheiros (AL) e o atual presidente da Casa, Eunício de Oliveira (CE), que também disputam a reeleição, já estão aliados ao PT.

Com 25% das intenções de voto na mais recente pesquisa do Ibope, Jucá está tecnicamente empatado com Ângela Portela (PDT), com 30%, e Mecias de Jesus (PRB), que aparece com 26%. Ambos defendem o fechamento da fronteira, juntamente à governadora Sueli Campos (PP). Na carta entregue pessoalmente ao presidente Temer, o senador nega um rompimento com Temer, mas diz que discorda “da forma como o governo federal está tratando a questão dos venezuelanos em Roraima”.

“O governo disse que é inegociável fechar a fronteira sob qualquer ponto de vista, e eu entendo que sem o fechamento da fronteira para organizar o trabalho, o assunto só vai agudizar”, justificou depois, em entrevista coletiva. Além do fechamento provisório da fronteira com a Venezuela, Jucá defende a fixação de cotas para imigrantes e a criação de um corredor humanitário para levá-los para outros estados. Com essas bandeiras, acredita que pode neutralizar o desgaste político e evitar a derrota eleitoral. Sem o mandato de senador, corre sério risco de ser julgado pelo juiz Sérgio Moro, da 13ª Vara Federal de Curitiba, o grande temor dos políticos sem mandato.

Ricardo Noblat: Ciro morde e assopra

- Blog do Noblat | Veja

Sem outro caminho para chegar lá

Que situação, a de Ciro Gomes, candidato do PDT a presidente da República. O PT deu-lhe as costas. Nem com reza braba o apoiaria, como observou certa vez a senadora Gleisi Hoffman, presidente do partido. Na última hora, sabotou a pretensão de Ciro de unir-se ao PSB. Deu ao PSB tudo o que ele queria em troca de o PSB não dar a Ciro seu tempo de propaganda eleitoral no rádio e na televisão.

Mas como precisa desesperadamente do voto de pelo menos parte do PT para disputar o segundo turno, Ciro finge não passar recibo do que lhe fizeram. Não perde oportunidade de elogiar Lula. E lamenta que a justiça o tenha impedido de visitá-lo em Curitiba. Assopra Lula e o PT dia sim e o outro também. Morde de leve seus calcanhares. Morde com gosto os de Geraldo Alckmin (PSDB).

Em um eventual segundo turno contra Alckmin ou o ex-capitão Jair Bolsonaro (PSL), Ciro aposta que o PT cairá de graça no seu colo. De graça é exagero.
Algum preço ele terá de pagar.

A volta dos aloprados do PT

É assim a cada eleição

A contratação de internautas para elogiarem o governador do Piauí, candidato à reeleição, é o primeiro ato conhecido nesta eleição dos aloprados do PT, encarregados do trabalho sujo.

Foi Lula que batizou de aloprados seus companheiros de partido como se nada tivesse a ver com eles. Em 2006, quando tentava se reeleger, gente de sua campanha forjou um dossiê contra o PSDB.

Com ele pretendia-se ligar bandidos que superfaturavam os preços de ambulância a Geraldo Alckmin (PSDB), candidato a presidente, e a José Serra (PSDB), candidato a governador de São Paulo.

A Polícia Federal prendeu militantes do PT e uma mala de dinheiro que pagaria pela confecção do dossiê. Como sempre, Lula mostrou-se indignado e surpreso. O caso deu em nada.

Alckmin critica Bolsonaro por apoio à greve dos caminhoneiros

Em Porto Alegre, presidenciável do PSDB nas eleições 2018 afirma que 'teve candidato da bala que saiu correndo para bater palma'

Filipe Strazzer | O Estado de S.Paulo

PORTO ALEGRE - O candidato do PSDB à Presidência da República nas eleições 2018, Geraldo Alckmin, voltou a criticar o candidato Jair Bolsonaro (PSL), em evento para empresários e políticos em Porto Alegre, realizado na noite desta segunda-feira, 27. Em seu discurso, o tucano afirmou, sem citar o nome do adversário, que “teve candidato da bala aplaudindo a greve dos caminhoneiros” e que a população seria penalizada como resultado. Alckmin também elogiou sua candidata a vice, a senadora gaúcha Ana Amélia(PP), e falou sobre reformas.

Ao afirmar que o “corporativismo tomou conta do País”, Alckmin deu como exemplo a greve dos caminhoneiros, que ocorreu em maio deste ano, e criticou Bolsonaro, sem citar seu nome. “Tem candidato da bala que saiu correndo para bater palma, para dizer que podia fazer greve que ele ia depois perdoar todas as dívidas. Qual o resultado? R$ 14 bilhões de subsídio ao combustível fóssil. Quem vai pagar? Nós”, disse o tucano em seu discurso no painel “Brasil de Ideias”, promovido pela revista Voto, na capital gaúcha.

O presidenciável também criticou o “novo na política”. “Aqui em Porto Alegre, um ano atrás, me perguntaram o que era o novo. O novo é idade? É ter 30 anos e não ter 60, 70? Nunca ter disputado uma eleição? Não ter experiência? O novo é defender o interesse coletivo”, disse o candidato.

Sobre as reformas, o tucano afirmou que “ninguém está feliz com a política do Brasil” e disse que irá propor quatro - política, previdência, tributária e do Estado -, tendo como prioridade a reforma política. “Como você vai governar com 25 partidos na Câmara? Não tem democracia no mundo com isso. É uma proliferação absurda (de partidos)”, criticou.

Alckmin foi bastante aplaudido pelo público ao afirmar que fará um governo “a quatro mãos”, se referindo a sua vice, Ana Amélia. O tucano também chegou a dizer que a considerava “muita areia para ele”. “Estive aqui há cerca de um ano e alguém assoprou: ‘Se você conseguisse a Ana Amélia como vice seria um espetáculo’. Eu disse que seria muita areia para meu caminhãozinho”, afirmou.

Em sua fala, Ana Amélia pediu a Alckmin mais mulheres no governo e afirmou que não será uma “vice decorativa”. “Só pedi a ele mais mulheres no governo. Não serei uma vice decorativa, terei com ele uma grande lealdade, disciplina e responsabilidade”, disse. A vice também brincou com a ocasião em que o tucano a confundiu com Kátia Abreu(PDT) - companheira de chapa do presidenciável Ciro Gomes (PDT). “Quem nunca na vida cometeu um ato falho?”, afirmou Ana Amélia.

Alckmin reafirma aposta no horário eleitoral gratuito

Por André Guilherme Vieira | Valor Econômico

SÃO PAULO - O presidenciável Geraldo Alckmin (PSDB) fez ontem um ataque indireto ao candidato a presidente do PSL, Jair Bolsonaro, depois de indagado se o horário eleitoral na TV, que começa em 31 de agosto, poderá impulsionar a candidatura tucana.

"Acho que o país está em uma encruzilhada. Ou nós vamos pegar aí o rumo da confiança e das reformas, ou o Brasil não vai mudar no berro. Não vai mudar com violência, ele vai mudar é com reformas, com diálogo. Confiança para ter investimento no país", disse Alckmin, após cumprir agenda de campanha em Pelotas (RS).

Questionado por um jornalista se sua campanha conseguirá apoio do agronegócio, Alckmin disse que é "um homem do campo" e voltou a dizer que não acredita no sucesso da candidatura Bolsonaro. "Acho que o Bolsonaro é uma candidatura inviável. Porque no segundo turno não ganha de ninguém. Isso é fato. Não vai chegar lá, é uma coisa transitória", afirmou.

Na avaliação de Alckmin, as pesquisas de intenção de voto somente devem ser consideradas após o início da propaganda eleitoral gratuita no rádio e na TV. "Vocês acreditam em pesquisa. Pesquisa, neste momento, não tem maior significado. É como um perfume, é só para sentir".

Alckmin defende reforma de Estado para sanar contas públicas sem aumentar impostos

PELOTAS (RS) - O candidato do PSDB à Presidência, Geraldo Alckmin, falou nesta segunda-feira, durante agenda em Pelotas, no Rio Grande do Sul, sobre a importância da reforma de Estado para reduzir os gastos do governo e sanar as contas públicas sem aumentar impostos. “A PEC do Teto não precisaria existir se não existisse o PT, que quebra o governo para ganhar eleição. Nós vamos para o 6º ano de déficit primário. Isso vai quebrar o país”, disse.

“As pessoas não acreditam que dá para cortar gasto. Acham que, sem aumentar imposto, não tem solução. Tem sim. Governante tem que zelar pelo dinheiro do povo”, prosseguiu.

Ao lado de sua candidata a vice, a senadora Ana Amélia, Alckmin reiterou a importância de tê-la na chapa: “Ela ter aceito nosso convite mostra grande generosidade. Ana Amélia teria uma reeleição muito provável para o Senado, e veio somar conosco nesse momento em que o Brasil tanto precisa. Nosso país está em uma encruzilhada: ou trilha o caminho das reformas, ou o caminho do berro. Mas o Brasil não vai mudar no grito, com violência. Vai mudar com reformas, com diálogo”.

Alckmin visitou o Centro de Atendimento ao Autista Dr. Danilo Rolim de Moura, que classificou como uma referência para todo o Brasil. E reforçou seu compromisso com a saúde, salientando a importância de uma rede nacional de assistência às pessoas com deficiência. “Fiz questão de vir aqui conhecer esse centro de atendimento, que é um exemplo. É inspirador para que a gente possa ter mais trabalhos como esse no Brasil inteiro”.

*Ouça aqui  a entrevista coletiva.

Alckmin garante prioridade a políticas públicas para pessoas com deficiência

Por Shirley Loiola 

SÃO PAULO - O candidato à Presidência da República pelo PSDB, Geraldo Alckmin, garantiu nesta segunda-feira (27) que, se eleito, uma das prioridades de seu governo serão políticas públicas para pessoas com deficiência.

“Vamos dar grande prioridade a políticas públicas para as pessoas com deficiência. Nós temos mais de 20% da população brasileira com algum tipo de deficiência e quase 5 milhões de deficiência mais grave.”, afirmou o candidato tucano.

Alckmin destacou que vai fiscalizar se empresas estão cumprindo a lei para que a pessoa com deficiência tenha oportunidade no mercado de trabalho. O tucano ainda ressaltou que irá priorizar o acesso destas pessoas à saúde pública.

“A primeira coisa é a saúde, o acesso à saúde. Imagina uma pessoa com lesão medular. Então, garantir rapidamente o acesso à saúde. Uma rede de atendimento na parte fisioterápica, de fisiatria como fizemos em SP a rede Lucy Montoro, educação inclusiva, qualificação e inserção no mercado de trabalho.”

Geraldo Alckmin falou com a imprensa antes de participar de uma cerimônia, em São Paulo, em homenagem a Otávio Frias Filho, diretor de redação da “Folha de S.Paulo”, morto na última semana, vítima de um câncer.

“Quero deixar meus sentimentos, minhas orações à família do Otavio. Alguém que prematuramente perdeu a vida. Fica seu grande exemplo de alguém que dedicou sua vida à sociedade e ao jornalismo independente. Um jornalismo buscando a verdade e a Justiça”, disse o candidato.

O ex-governador de São Paulo também falou sobre a campanha eleitoral. Para ele, o início da propaganda eleitoral de rádio e TV, marcado para a sexta-feira (31), vai despertar maior atenção da população. Alckmin é o candidato à Presidência que vai ter mais tempo no rádio e na TV, quase a metade.

“São importantes porque o Brasil é um país continental, um país muito grande, e é uma oportunidade de a gente poder levar nossas ideias, nossas propostas, dialogar com o eleitorado. Também aumenta muito o interesse pela eleição. Diria que agora que está começando efetivamente a campanha eleitoral.”, acredita.

*Ouça aqui  a entrevista coletiva.

Alckmin vai para o segundo turno e aceita qualquer apoio, diz FHC

Ex-presidente rebate polêmica sobre possível aliança entre PSDB e PT em eventual segundo turno nas eleições 2018

Cristian Favaro | O Estado de S.Paulo

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso rebateu a polêmica sobre uma possível aliança entre o PSDB e o PT, em eventual segundo turno, para derrotar o candidato do PSL ao Planalto, Jair Bolsonaro. FHC disse que a fala foi "uma má colocação" e que o candidato tucano, Geraldo Alckmin, vai para o segundo turno.

"Ali (na entrevista) foi uma má colocação. Porque a pergunta foi que havia uma pré-disposição a apoiar e eu disse que o Geraldo vai para o segundo turno. Claro que se aceita qualquer colaboração, qualquer apoio. E aí transformaram... porque o momento do Brasil é de ódio e eu não gosto disso", disse, nesta segunda-feira, minutos após participar de homenagem ao jornalista Otavio Frias Filho, na Matriz Paroquial Nossa Senhora do Rosário de Fátima, em Sumaré, zona oeste de São Paulo.

A missa ao jornalista, morto na semana passada, contou também com a presença de Alckmin, de Ana Amélia (PP), vice na chapa tucana, além de José Serra.

Em entrevista recente, FHC disse que não descartaria uma eventual aliança entre PT e PSDB no segundo turno para derrotar Jair Bolsonaro. A fala levou Alckmin às redes sociais para dizer que não haverá aliança alguma com o PT e que o compromisso dele era com os brasileiros.

Segundo FHC, a polêmica sobre sua frase "está no Brasil, não em mim". "Eu sou ao contrário. Eu debato. Não sinto ódio", disse. Ainda sobre os atuais conflitos no País em uma das eleições mais complexas da história, FHC acrescentou: "Eu acho que não é preciso transformar os adversários em inimigos. Eu nunca fiz isso".

MP acusa Haddad de enriquecimento ilícito por meio de caixa 2

Promotoria acusa Fernando Haddad de enriquecimento ilícito

Ação diz que ex-prefeito, candidato a vice na chapa do PT, tinha ‘domínio’ de pagamento, via caixa 2, pela UTC, de uma dívida de R$ 2,6 mi da campanha de 2012

Fabio Leite | Estado de S. Paulo

O Ministério Público de São Paulo moveu nesta segunda-feira, 27, uma ação de improbidade administrativa contra o ex-prefeito da capital Fernando Haddad (PT) na qual pede a condenação do petista por enriquecimento ilícito. O MP sustenta que Haddad “tinha pleno domínio” sobre o pagamento, pela UTC Engenharia, de uma dívida de R$ 2,6 milhões da campanha de 2012 à Prefeitura com recursos de caixa 2.

Na ação, o promotor Wilson Tafner, da Promotoria do Patrimônio Público, requer, ainda, o bloqueio de bens no valor de R $ 15,1 milhões, o ressarcimento do dano causado, multa civil e a suspensão dos direitos políticos de Haddad.

O ex-prefeito é candidato a vice na chapa de Luiz Inácio Lula da Silva – condenado e preso na Lava Jato – e apontado como virtual substituto do ex-presidente na disputa pelo Planalto.

A ação pede a condenação de outros seis acusados, entre os quais José de Filippi Júnior, ex-secretário de Saúde na gestão do petista (2013-2016).
A acusação é baseada em depoimentos de Ricardo Pessoa e Walmir Pinheiro, respectivamente ex-presidente e ex-diretor financeiro da UTC, prestados à Promotoria neste mês.

Pessoa e Pinheiro reafirmaram o que já haviam dito à Polícia Federal no ano passado: de que pagaram, entre maio e junho de 2013, a dívida de campanha de Haddad com duas gráficas no valor de R$ 2,6 milhões, por meio do doleiro Alberto Youssef e a pedido do ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto.

O teor da ação de improbidade é semelhante ao da denúncia feita à Justiça Eleitoral em maio pela Promotoria Eleitoral contra Haddad por suposto caixa 2 na campanha de 2012, quando ele foi eleito prefeito de São Paulo. Haddad nega que tenha cometido irregularidades na campanha.

Nesta segunda-feira, o juiz Francisco Shintate, da 1.ª Zona Eleitoral da capital, negou pedido da defesa de Haddad de “nulidade processual” por causa do compartilhamento de provas da Operação Custo Brasil e “inépcia formal da denúncia”. Em seu despacho, o magistrado afirma que “se vislumbra, ao menos neste juízo de cognição sumária, elementos de prova que indicam a materialidade do crime e a coparticipação” do ex-prefeito.

Já na ação civil ajuizada nesta segunda, o promotor Wilson Tafner afirma que Haddad “tinha pleno domínio” do pagamento da dívida de campanha com recursos ilegais da UTC, o que, pela Lei de Improbidade, configura enriquecimento ilícito (auferir qualquer tipo de vantagem patrimonial indevida em razão do exercício de cargo). Como Haddad foi um dos responsáveis pelas contas de campanha, as dívidas estavam atreladas a ele.

Supremo deve decidir se Bolsonaro vira réu mais uma vez

Primeira Turma prevê julgar nesta terça (28) recebimento de denúncia sob acusação de racismo

Reynaldo Turollo Jr. – Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - A Primeira Turma do STF (Supremo Tribunal Federal) prevê julgar nesta terça-feira (28) o recebimento de uma denúncia contra o candidato a presidente Jair Bolsonaro (PSL), acusado do crime de racismo em relação a quilombolas, indígenas, refugiados, mulheres e LGBTs.

A turma, considerada linha-dura, é formada pelos ministros Alexandre de Moraes, Luiz Fux, Rosa Weber, Luís Roberto Barroso e Marco Aurélio, relator do processo.

Se o colegiado entender que há elementos que justifiquem a abertura de uma ação penal, Bolsonaro vai se tornar réu sob acusação de racismo. O candidato já é réu em outras duas ações penais no STF acusado de incitar o estupro, em um caso envolvendo a deputada Maria do Rosário (PT-RS).

Naquele caso, Bolsonaro foi denunciado após ter dito que não estupraria a colega porque ela “não merecia”. A denúncia foi recebida por 4 votos a 1. Somente Marco Aurélio votou contra a abertura de ação penal.

Inicialmente, o julgamento do recebimento da denúncia de racismo estava previsto para 4 de setembro, quando a campanha eleitoral já estará a pleno vapor na TV. A defesa de Bolsonaro pediu a Marco Aurélio para adiantar a análise para esta terça e o relator atendeu.

O advogado do candidato afirmou ao STF que não estará disponível para participar da sessão no dia 4, o que embasou o pedido de antecipação. Há um temor do impacto do julgamento sobre a campanha.

Vice de Marina propõe reformulação do SUS

Por Ricardo Mendonça | Valor Econômico

SÃO PAULO - Candidato a vice-presidente na chapa de Marina Silva (Rede), o ex-deputado Eduardo Jorge (PV) defendeu ontem uma reforma no Sistema Único de Saúde (SUS) para promover ganhos de escala e, ao mesmo tempo, melhorar a distribuição de responsabilidades entre União, Estados e municípios. A ideia é implementar uma arrumação que desestimule governantes habituados a "empurrar" pacientes para entes vizinhos.

Jorge propôs dividir o país em 400 "regiões de saúde". O critério para delimitação seria populacional: cada polo responsável pelo atendimento de 500 mil habitantes. Em cidades grandes, uma "região de saúde" poderia abranger vários de bairros. Nas áreas menos populosas, a abrangência agruparia municípios vizinhos. O financiamento de cada área seria compartilhado de forma proporcional entre a União, o respectivo Estado e os municípios atendidos.

Jorge foi um dos formuladores do SUS na Constituinte. Ele fez defesa enfática do sistema e listou conquistas obtidas nas últimas décadas, como a erradicação do sarampo antes de Holanda e Japão. Mas disse que ainda "falta muito" para que se alcance o modelo concebido. Reconheceu que a população tem razão para reclamar.

A dupla falou do tema durante uma visita à ONG Educafro, no centro de São Paulo. "O sistema de saúde precisa ter escala", defendeu Jorge. Depois de citar centros trabalham no limite da capacidade, lembrou que há hospitais pelo país com de ociosidade de 50%.

"Além de gastar pouco, estamos gastando mal", disse. Segundo ele, o Brasil investe R$ 3 por pessoa por dia na saúde, "da vacinação ao transplante". Além da necessidade de disputar mais recursos, ele defendeu fim do aparelhamento partidário no setor, mais investimentos na prevenção e humanização.

Marina reza o Pai Nosso em ato por cotas raciais
Na Educafro, Marina e Jorge se comprometeram com pautas de interesse do movimento negro, como apoio às políticas de ação afirmativa e combate a fraudes nas políticas de cotas de universidades. Após o evento, ela foi levada pelos organizadores a um ato no interior da Secretaria da Justiça e da Defesa da Cidadania do Estado de São Paulo. Num hall interno do edifício, sete jovens estão há sete dias acorrentados em protesto contra o governo paulista. Eles defendem a regulamentação de uma lei aprovada em 2015 que estabelece ações afirmativas em concursos públicos do Estado.


Ciente da norma que proíbe campanha em repartição pública, Marina não discursou. Mas posou para fotos, cumprimentou os presentes, acompanhou um discurso do frei David Santos (coordenador da ONG) e rezou um Pai Nosso.

O religioso criticou o governador Márcio França (PSB), candidato à reeleição, o ex-governador Geraldo Alckmin (PSDB), candidato à Presidência, e admitiu que estava discursando apesar do pedido de Marina para não falar.

A presença de Marina na sede da secretaria gerou tumulto. Sem saber da visita, seguranças demoraram para permitir a entrada da imprensa, de militantes e de assessores da campanha. Na chegada, ela chegou a ficar presa num corredor de acesso, espremida entre repórteres e cinegrafistas. 

Na saída, teve a oportunidade de notar a presença de viaturas e policiais militares que já se concentravam na porta de entrada do edifício ocupado.

Após o ato, o secretário de Justiça, Márcio Elias Rosa, recebeu repórteres em seu gabinete. Ele classificou a causa do Educafro como "legítima", mas criticou o "modo de reivindicação" e a "apropriação política" do protesto. Afirmou que há divergência entre o interesse da ONG e a norma a ser regulamentada. A ideia é aprovar um sistema de pontuação diferenciada para negros em concursos, afirmou. "Mas ele [frei David] quer cota", o que é "juridicamente inviável". Rosa disse que o governador quer resolver a questão em novembro.

Rosa disse ainda que gostaria de ter conversado com Marina quando soube da visita inesperada. Ele pediu para um assessor convidá-la para subir e lamentou a recusa. Mas evitou criticar a presença da candidata em ato nas dependências da pasta. "O propósito dela não foi esse. É uma humanista."

A encruzilhada nacional: Editorial | O Estado de S. Paulo

Há quem considere desnecessárias as reformas que se impõem. Saber como se chegou à situação atual é o primeiro passo para evitar que charlatães triunfem

Eleições podem ser ensejo para a multiplicação de ilusões com o objetivo de seduzir o eleitor. Não se trata necessariamente de apelar para mentiras ou fraudes, embora isso também aconteça; o que tem marcado as campanhas é o reducionismo marqueteiro, que transforma grandes temas em slogans de fácil digestão. Ganha mais votos aquele cuja lábia convence o eleitor de que é capaz de trazer a felicidade pelo menor custo. O atual momento brasileiro, no entanto, mais do que qualquer outro da história recente, exige que o eleitor saiba exatamente o que lhe estará reservado no futuro próximo caso não sejam tomadas imediatamente medidas de austeridade para tirar o Brasil da beira do abismo. E isso, infelizmente, não está acontecendo - há, pelo contrário, um “enorme grau de incompreensão” da população sobre o “curso absolutamente insustentável” em que o País se encontra, como alertou recentemente o ex-ministro da Fazenda Pedro Malan.

Tendo sido um dos principais responsáveis pela implantação do Plano Real, Malan tem autoridade para falar sobre o quão duro é um processo de estabilização de uma economia em frangalhos. Esse processo demanda, antes de tudo, a colaboração consciente do conjunto da sociedade. O Plano Real funcionou porque, ao contrário dos planos anteriores, não foi implantado de cima para baixo. Na prática, o Real foi uma espécie de convite para que os cidadãos imaginassem a economia sem inflação, com o restabelecimento do valor das coisas, sem a variação diária de preços. A população, aos poucos, aderiu, porque se sentiu como parte da solução. Mas o plano não foi bem-sucedido apenas por isso. Como preço a pagar pela sonhada estabilidade, os brasileiros foram chamados a apoiar uma dura série de medidas, que incluíram a renegociação das dívidas dos Estados, a venda de estatais, a reestruturação do sistema bancário e o ajuste fiscal. Com a notória exceção do PT, o Real foi amplamente aceito - o que significa que, se bem explicadas e transparentes, as reformas necessárias para reequilibrar as contas nacionais podem, sim, como sugere Malan, receber apoio dos eleitores.

Fôlego do investimento direto diminuiu até julho: Editorial | Valor Econômico

O investimento direto estrangeiro no Brasil segue encolhendo e acendeu um sinal de alerta em julho, ao despencar 40%. Conforme dados divulgados ontem pelo Banco Central (BC), o investimento direto no país (IDP) ficou em US$ 3,9 bilhões no mês passado, em comparação com US$ 6,5 bilhões em junho. O BC já havia abandonado a previsão de que o IDP chegaria a US$ 80 bilhões neste ano. Agora aposta que o saldo será de US$ 70 bilhões, praticamente o mesmo patamar de 2017, que foi de US$ 70,7 bilhões e colocou o país como o quarto país d mundo que mais recebeu recursos diretos. Em agosto, entretanto, esses investimentos deram um salto expressivo. Até o dia 23, totalizavam US$ 8,5 bilhões e a estimativa é de que cheguem a US$ 9,5 bilhões.

Apesar disso. uma nova revisão pode ser necessária, porém. O investimento direto no país acumula US$ 33,8 bilhões neste ano, até agora. Para atingir os US$ 80 bilhões inicialmente estimados, a média mensal de ingresso teria de chegar a US$ 8,3 bilhões. Para repetir os US$ 70 bilhões de 2017, poderá ser menor, de US$ 5,8 bilhões, ainda assim uma meta desafiadora para o patamar atual. A reversão das expectativas começou a ficar mais evidente em abril, após a campanha eleitoral começar a ganhar corpo. A greve dos caminhoneiros no fim de maio confirmou a avaliação de que este ano tem motivos de sobra para ser diferente dos demais.

A turbulência política, as dúvidas em relação à implementação das reformas, a virtual paralisação do programa de concessões e a queda dos juros deixaram os investidores ressabiados. Como se tudo isso não bastasse, houve também influência do cenário internacional nada favorável aos emergentes, com a elevação dos juros americanos e o acirramento da guerra comercial promovida pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.

Olho no Congresso: Editorial | Folha de S. Paulo

Ferramenta lançada pela Folha ajuda o eleitor na crucial escolha do deputado federal

A corrida ao Palácio do Planalto atrai a maior parte das atenções da campanha eleitoral, o que, em boa medida, é compreensível —vivemos num sistema presidencialista.

Entretanto poucas vezes o peso decisivo do voto para o Congresso Nacional se mostrou tão evidente como agora. O país vive as consequências traumáticas de um descompasso entre Executivo e Legislativo, materializado no segundo processo de impeachment em pouco mais de três décadas de restabelecimento da democracia.

Não há, provavelmente, demonstração mais cabal da extensão das prerrogativas legais de deputados e senadores; mesmo sem recorrer a exemplo tão radical, a experiência brasileira não deixa dúvida quanto à relação entre alianças parlamentares e capacidade de governar.

Ao mesmo tempo, ficam escancaradas as deficiências do modelo nacional para a escolha dos legisladores —cuja característica mais proverbial é o afastamento, quando não esquecimento mútuo, entre representados e representantes.

É preciso abrir a caixa-preta da Fetranspor: Editorial | O Globo

Ainda há muito a esclarecer sobre esquema de corrupção envolvendo empresários de ônibus e políticos

Durante décadas, ouviu-se falar na caixinha da Fetranspor, a poderosa Federação das Empresas de Transporte do Estado do Rio de Janeiro. E a instituição sempre negou. Parecia mais uma daquelas lendas urbanas. Mas, em julho do ano passado, a força-tarefa da Operação Calicute, braço da Lava-Jato no Rio, jogou luz sobre o assunto. As investigações mostraram que empresários de ônibus pagavam propina ao então governador Sérgio Cabral e a políticos como Jorge Picciani e Paulo Melo, ex-presidentes da Assembleia Legislativa, e Edson Albertassi, todos do MDB, em troca de vantagens como reajuste de tarifa ser et en ção de créditos do RioCard.

Na última sexta-feira, a confirmação da existência da caixinha veio de ninguém menos que Jacob Barata Filho, conhecido como o Rei do Ônibus, em depoimento ao juiz Marcelo Bretas, da 7ª Vara Federal Criminal. O empresário, que não usou a palavra propina, disse que “o objetivo desse caixa era buscar a satisfação do usuário e evitar projetos que viessem a prejudicar o setor”. Segundo Jacob Barata, a prática começou há cerca de 20 anos.

Nas duas últimas décadas, o Estado do Rio teve cinco governadores, mas pouco ou nada se sabe sobre as relações dos empresários com outros mandatários além de Cabral. E com outros presidentes da Assembleia Legislativa, fora Picciani e Melo.

Clara Nunes: Minha missão

Pablo Neruda: Assim é minha vida

Meus deveres
caminham com meu canto.
Sou e não sou:
é esse meu destino.
Não sou,
se não acompanho as dores
dos que sofrem:
são dores minhas.
Porque não posso ser
sem ser de todos,
de todos os calados
e oprimidos.
Venho do povo
e canto para o povo.
Minha poesia
é cântico e castigo.
Me dizem:
"Pertences à sombra".
Talvez, talvez,
porém na luz caminho.
Sou o homem
do pão e do peixe,
e não me encontrarão
entre os livros,
mas com as mulheres
e os homens:
eles me ensinaram o infinito