A CIDADE MARIVILHOSA VIROU UMA IMENSA FAVELA
Villas-Bôas Corrêa
Esta semana, minha mulher, eu e um filho fomos com um casal amigo a uma solenidade no Centro da cidade, nas proximidades da Praça 15 de Novembro e que terminou antes das 22 horas.
Esta semana, minha mulher, eu e um filho fomos com um casal amigo a uma solenidade no Centro da cidade, nas proximidades da Praça 15 de Novembro e que terminou antes das 22 horas.
Para aproveitar o friúme da noite e esticar as pernas entorpecidas pelas horas de imobilização forçada, resolvemos caminhar até para pegar o táxi na Avenida Rio Branco.
E descobrimos o que só eu já sabia, que o centro da Cidade Maravilhosa "cheia de encantos mil", cantada em prosa e verso, repisando o mote da atração de Copacabana, a Princesinha do Mar que atraia e ainda seduz turistas de todo o mundo tinha se transformado, em poucos anos de descaso de sucessivos governos federais e estaduais, numa imensa favela.
O choque é de disparar as batidas cardíacas com risco de infarto. Pelas ruas principais e suas transversais o quadro é o mesmo. Em meio à imundície que empesta as calçadas, com lixo empilhado nos cantos ou no meio da rua, uma população de mendigos de todas as idades, desde crianças que andam em grupos ou bandos praticando pequenos e médios assaltos. Agem com a habilidade de profissionais, cercando os desavisados transeuntes para a limpeza dos bolsos e bolsas de incautos, com especial preferência pelos relógios arrancados do pulso na marra e pelos celulares da moda aos adultos que sacam as armas, das facas e estoques aos revolveres com a rapidez do raio.
É um cenário não apenas comparável, mas idêntico aos dos bolsões de miséria do mundo. Nada fica dever ao que as fotos exibem nos jornais e revistas ou que, com os detalhes da degradação da condição humana, as televisões mostram nos noticiários ou em reportagens especiais.
O motorista do táxi que nos levou para casa advertiu-nos para o risco que corremos com a nossa ignorância. Testemunha todas as noites e madrugadas, com os colegas do ponto, uma média de cinco a 10 assaltos. Praticados pelos mesmos grupos que parecem donos do ponto, distribuídos nos acertos de cavalheiros.
Só quem não sabe de nada ou não quer saber para não esquentar a cabeça são as autoridades que hoje batem cabeça com a operação, típica de véspera de eleição, da ocupação de favelas selecionadas para a realização de obras que não constam do Programa de Aceleração do Crescimento, o PAC da madrinha, a ministra Dilma Rousseff. E que mereceram o privilégio da visita do presidente Lula, cercado por um esquema de segurança com todos os compreensíveis requintes que as circunstâncias exigiam.
É difícil – ou, quem sabe – fácil demais, entender a lógica cerebrina das cucas oficiais. Como se permitiu que em tão pouco tempo, a degradação da antiga capital do país, fosse ocupada pelas gangues do tráfico, que disputam a bala os pontos nas mais de mil favelas que incham todos os dias e noites com novos barracos em áreas de risco, que despencam nas chuvaradas do verão, com a cota de vítimas fatais e de famílias que perdem o pouco que tinham e não abandonadas à mendicância?
Nada aconteceu de repente ou de surpresa. A migração interna do campo para as cidades obedeceu à lógica da redução dos postos de trabalho na zona rural com a mecanização da lavoura e da produção do leite. Uma escavadeira faz o trabalho de uma centena de enxadeiros. A mecanização da ordenha acabou com o tirador de leite da lembrança de quantos conheceram a vida da fazenda nas férias escolares.
A simples providência da demarcação de áreas para construção de casas populares teria garantido um mínimo de controle na ocupação dos morros.
Perdemos a hora e estamos perdendo a ex-cidade maravilhosa. E temos de apostar a última ficha no PAC, que promete milagres até as eleições de outubro.
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