terça-feira, 8 de julho de 2008

DEU NO VALOR ECONÔMICO


REVOLUÇÃO DENTRO DA ORDEM
Raymundo Costa


A ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, impôs uma condição ao PT para ser candidata em 2010: ela precisa ser escolhida pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. "Com todo o respeito que o PT merece, eu não sou candidata sem a escolha do Lula", disse a ministra num encontro recente que teve com a bancada do partido na Câmara.

No PT e no governo, afirma-se que a candidatura Dilma encorpou, em vez de encolher, no semestre em que esteve no centro de críticas e acusações devastadoras para candidatos a qualquer coisa, em especial presidente da República.

Dilma nunca foi considerada um ser da burocracia partidária. Saída do PDT, era uma estranha vista com desconfiança no PT. O curioso é que a aproximação ministra-partido se deu justamente no dia em que a ex-diretora da Agência Nacional da Aviação Civil (Anac) Denise Abreu colocou a ministra sob a suspeita de praticar tráfico de influência na venda da VarigLog, em depoimento prestado a uma comissão técnica do Congresso. Dilma mal havia se safado da suspeita de ter mandado confeccionar um dossiê com os gastos da corte tucana de Fernando Henrique Cardoso com cartões corporativos de crédito.

O encontro reuniu pelo menos 32 deputados do PT, das tendências mais importantes. Não por acaso faltaram em peso aqueles mais ligados à tendência Mensagem, liderada pelo ministro da Justiça, Tarso Genro. Entre eles o secretário-geral do PT, José Eduardo Cardozo (SP), o líder do governo na Câmara, Henrique Fontana (RS), e o candidato a prefeito de Salvador, deputado Walter Pinheiro (BA).

Dilma quer o PT ativo mas sem hegemonia em 2010

A revelação que o ministro tentava articular uma nova maioria no PT, na qual a ministra seria apenas "mais um" dos candidatos a candidatos, serviu para a turma que não gosta de Genro se aproximar de Dilma e como uma deixa que ela aproveitou para se aproximar dos deputados. A movimentação de Genro, na realidade, procurava evitar que a candidatura da ministra da Casa Civil, abraçada com entusiasmo por Lula, se tornasse um fato consumado. É provável que mais gente no PT concorde que o presidente está indo muito depressa, mas nenhum dos figurões citados por Genro como nomes-chaves da nova maioria saiu em sua defesa. O ministro Luiz Dulci, aliás, fez questão de lembrar que ele e Marco Aurélio Garcia haviam procurado Lula para sugerir o nome de Dilma para a Casa Civil, quando José Dirceu deixou o cargo, e só então teriam notado que o presidente já fizera a opção por ela.

O jantar de Dilma com a bancada foi na casa do deputado ex-líder Luiz Sérgio (RJ). A relação de presentes é significativa pelo que representa. Pelo grupo majoritário, falaram o ex-ministro Antonio Palocci, que já esteve no topo da relação de presidenciáveis petistas, e os deputados federais José Genoino e João Paulo Cunha. Do grupo Marta Suplicy, também presidenciável, Cândido Vaccarezza e Jilmar Tatto, além do presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia, que lidera uma tendência própria.

O grupo, que continuará se reunindo, também estabeleceu suas condições a Dilma: 1- Eles não queriam conversar de Pro-grama de Aceleração do Crescimento (PAC), que está para a ministra assim como o programa renda mínima está para o senador, Eduardo Suplicy (SP); 2- Se Dilma de fato quer ser candidata à sucessão de Lula, tem que conversar com a bancada.

No final da década de 60, Dilma pegou em armas para derrubar a ditadura militar. Passados mais de 30 anos, ela ainda se sente parte de um processo revolucionário. Segundo Dilma disse aos deputados, o Brasil está virando um outro país, graças às políticas do governo Lula. "O governo Lula está fazendo uma revolução dentro da ordem", enfatizou a ex-militante da VAR-Palmares, cérebro por trás de uma das mais espetaculares ações da guerrilha urbana no Brasil - o assalto ao cofre do ex-governador de São Paulo Adhemar de Barros, em 1969.

Às condições do PT, desenhou ela própria o que considera que deve ser o papel do partido na sucessão de 2010, segundo o relato dos deputados: o PT precisa ser um sujeito ativo na campanha para a eleição do sucessor de Lula, mas sem querer ser hegemônico. E Lula deve indicar o candidato. "Eu não sou candidata sem a escolha do Lua", reafirmou por mais de uma vez. Dois depoimentos, feitos ao longo da reunião, resumem o que foi o encontro de candidata que Dilma teve com a bancada do PT, que repercutiu pouco na imprensa e no Congresso devido ao depoimento de Denise Abreu. Um de Chinaglia, que classificou a conversa "iniciativa muito positiva" e terminou com uma opinião firme: "Dilma deve ser a candidata". O outro foi de Palocci: "Se você quer se viabilizar, tem que entrar para o debate político, não basta gerenciar bem as políticas específicas do governo".

Raymundo Costa é repórter especial de Política, em Brasília. Escreve às terças-feiras

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