Marcos Coimbra
Sociólogo e presidente do Instituto Vox Populi
DEU NO ESTADO DE MINAS
"É, então, perfeitamente possível que, com pouquíssimos dias de propaganda eleitoral, tenhamos cenários novos e que parecem surpreendentes, mesmo que já fossem antecipados por quem acompanha esses processos"
Até os melhores analistas na imprensa têm dificuldade de explicar o que acontece em uma eleição quando se inicia a propaganda eleitoral nos meios de comunicação de massa. Como quase todos se formaram na escola da imprensa escrita, pode ser que ela decorra de sua natural relutância em admitir que a maioria do eleitorado é pouco afetada pelo noticiário dos veículos onde trabalham.
Só quando chega à televisão e, secundariamente, ao rádio, é que a eleição começa para as pessoas que não lêem com regularidade os jornais diários. Elas são cerca de 90% do universo de eleitores, sendo que os que buscam habitualmente as seções dedicadas à política ficam mais perto de 5%. Somados aos leitores não habituais, chegamos, no máximo, talvez a 25% ou 30% do total.
Essa parcela é a mesma que consome a informação política veiculada no jornalismo das emissoras de televisão e de rádio. O conjunto de espectadores e ouvintes de sua programação jornalística é certamente maior, mas o desinteresse da maior parte faz com que a absorção seja pequena. Ficam na frente da televisão, mas pouco atentos aos momentos em que se fala de política.
Tomando como base pesquisas recentes da Vox Populi em São Paulo, no Rio de Janeiro e em Belo Horizonte, podemos dizer que quem se interessa “muito” por política representa, neste momento, cerca de 15% do eleitorado das grandes cidades, enquanto que os que se interessam “mais ou menos” são perto de 30% do total. A outra metade se divide em duas partes: os que se interessam “um pouco” e os que “não têm qualquer interesse”, sendo os primeiros cerca de 20% e os segundos os 35% finais.
Cada um desses estratos reage à sua maneira ao fluxo de informações do processo eleitoral. Mas há uma semelhança entre os dois extremos, que nem sempre imaginamos.
Tanto quem tem muito, como quem não tem nenhum interesse tende a ser pouco afetado pela nova informação. Uns, por já terem tanta que a nova provoca pouca mudança. Costumam fazer cedo suas escolhas e chegam à altura em que estamos do processo eleitoral com posições definidas. Os outros, por seu interesse ser tão pequeno que nem a mídia eletrônica os atinge, a não ser muito tarde.
Nos dois estratos intermediários, novas informações provocam efeitos que podem ser espetaculares, conforme as condições políticas da eleição. Como são, na maioria das vezes, pessoas com limitada bagagem de informação e que não costumam exigir grandes detalhes (até por não terem suficiente interesse), um mínimo pode ser suficiente para motivá-las. Dois ou três fatos relevantes são bastantes para fazer com que se inclinem para cá ou para lá. Se, além disso, essa informação lhes chegar em volume significativo, podemos ter mudanças drásticas, “da noite para o dia”, nas intenções de voto.
É, então, perfeitamente possível que, com pouquíssimos dias de propaganda eleitoral, tenhamos cenários novos e que parecem surpreendentes, mesmo que já fossem antecipados por quem acompanha esses processos.
É o que está acontecendo em Belo Horizonte, por exemplo, pelo que deixam evidente as primeiras pesquisas divulgadas pós-TV. A candidatura de Marcio Lacerda, o candidato que Aécio e o prefeito Fernando Pimentel apóiam, cresceu 15%, segundo dados da última pesquisa, em apenas dois dias de veiculação da propaganda eleitoral.
Com isso, nem bem começou a eleição, alcançou o primeiro lugar.
Fenômeno brasileiro, que ilustra nosso subdesenvolvimento político? Não, nossos eleitores não são diferentes dos que temos em outras democracias, incluindo as mais tradicionais e avançadas.
É assim que as coisas são: há quem goste e quem não goste de política, há quem sabe muito e exige muito em matéria de informação e quem se contenta com menos. Nas democracias, existem diversos tipos de eleitor e nenhum é melhor que outro.
Sociólogo e presidente do Instituto Vox Populi
DEU NO ESTADO DE MINAS
"É, então, perfeitamente possível que, com pouquíssimos dias de propaganda eleitoral, tenhamos cenários novos e que parecem surpreendentes, mesmo que já fossem antecipados por quem acompanha esses processos"
Até os melhores analistas na imprensa têm dificuldade de explicar o que acontece em uma eleição quando se inicia a propaganda eleitoral nos meios de comunicação de massa. Como quase todos se formaram na escola da imprensa escrita, pode ser que ela decorra de sua natural relutância em admitir que a maioria do eleitorado é pouco afetada pelo noticiário dos veículos onde trabalham.
Só quando chega à televisão e, secundariamente, ao rádio, é que a eleição começa para as pessoas que não lêem com regularidade os jornais diários. Elas são cerca de 90% do universo de eleitores, sendo que os que buscam habitualmente as seções dedicadas à política ficam mais perto de 5%. Somados aos leitores não habituais, chegamos, no máximo, talvez a 25% ou 30% do total.
Essa parcela é a mesma que consome a informação política veiculada no jornalismo das emissoras de televisão e de rádio. O conjunto de espectadores e ouvintes de sua programação jornalística é certamente maior, mas o desinteresse da maior parte faz com que a absorção seja pequena. Ficam na frente da televisão, mas pouco atentos aos momentos em que se fala de política.
Tomando como base pesquisas recentes da Vox Populi em São Paulo, no Rio de Janeiro e em Belo Horizonte, podemos dizer que quem se interessa “muito” por política representa, neste momento, cerca de 15% do eleitorado das grandes cidades, enquanto que os que se interessam “mais ou menos” são perto de 30% do total. A outra metade se divide em duas partes: os que se interessam “um pouco” e os que “não têm qualquer interesse”, sendo os primeiros cerca de 20% e os segundos os 35% finais.
Cada um desses estratos reage à sua maneira ao fluxo de informações do processo eleitoral. Mas há uma semelhança entre os dois extremos, que nem sempre imaginamos.
Tanto quem tem muito, como quem não tem nenhum interesse tende a ser pouco afetado pela nova informação. Uns, por já terem tanta que a nova provoca pouca mudança. Costumam fazer cedo suas escolhas e chegam à altura em que estamos do processo eleitoral com posições definidas. Os outros, por seu interesse ser tão pequeno que nem a mídia eletrônica os atinge, a não ser muito tarde.
Nos dois estratos intermediários, novas informações provocam efeitos que podem ser espetaculares, conforme as condições políticas da eleição. Como são, na maioria das vezes, pessoas com limitada bagagem de informação e que não costumam exigir grandes detalhes (até por não terem suficiente interesse), um mínimo pode ser suficiente para motivá-las. Dois ou três fatos relevantes são bastantes para fazer com que se inclinem para cá ou para lá. Se, além disso, essa informação lhes chegar em volume significativo, podemos ter mudanças drásticas, “da noite para o dia”, nas intenções de voto.
É, então, perfeitamente possível que, com pouquíssimos dias de propaganda eleitoral, tenhamos cenários novos e que parecem surpreendentes, mesmo que já fossem antecipados por quem acompanha esses processos.
É o que está acontecendo em Belo Horizonte, por exemplo, pelo que deixam evidente as primeiras pesquisas divulgadas pós-TV. A candidatura de Marcio Lacerda, o candidato que Aécio e o prefeito Fernando Pimentel apóiam, cresceu 15%, segundo dados da última pesquisa, em apenas dois dias de veiculação da propaganda eleitoral.
Com isso, nem bem começou a eleição, alcançou o primeiro lugar.
Fenômeno brasileiro, que ilustra nosso subdesenvolvimento político? Não, nossos eleitores não são diferentes dos que temos em outras democracias, incluindo as mais tradicionais e avançadas.
É assim que as coisas são: há quem goste e quem não goste de política, há quem sabe muito e exige muito em matéria de informação e quem se contenta com menos. Nas democracias, existem diversos tipos de eleitor e nenhum é melhor que outro.
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