quarta-feira, 27 de agosto de 2008

Garibaldi foi à forra


Villas-Bôas Corrêa
DEU NO JORNAL DO BRASIL


Conheço o senador Garibaldi Alves, presidente do Senado, desde menino, do tempo em que seu tio, o então governador do Rio Grande do Norte, Aluísio Alves, revolucionava os caducos modelos tradicionais de campanha eleitoral, com a criatividade, a garra e talento que pavimentou a caminhada do mais moço deputado federal pela UDN na Constituinte de 46 na ascensão fulminante ao plano federal.

Correligionário do cacique da UDN, senador e governador Dinarte Mariz e seu adversário nas cambalhotas da contradição da política estadual, para a reconciliação ao seu chamado, à véspera da morte, com a nobre justificativa de que não desejava deixar para os filhos a herança dos ódios provincianos, Aluisio Alves também morreu no ostracismo, para a surpreendente consagração popular que há dois anos foi para a rua e acompanhou o cortejo até o cemitério, com as bandeiras verdes catadas do fundo dos baús.

O caminhão do povo da campanha de Carlos Lacerda e Afonso Arinos, que foi a grande novidade que percorreu todos os roteiros da então capital, com a população nas ruas ou nas janelas, parando para os comícios relâmpagos nas praças foi importado do Rio Grande do Norte.

No jovem tímido e discreto sobrinho de Aluísio – filho do seu irmão Garibaldi que foi deputado estadual – não se antevia a carreira política metódica, degrau por degrau, de deputado estadual, passando pela Prefeitura de Natal, com o brinde da reeleição e o governo do Estado, em administração marcada pelas obras de irrigação das áreas maltratadas pela seca.

O senador pagou a sua cota da estréia federal no Senado. E, na mesma toada sem a aflição da urgência, esperou a hora e a vez da eleição para presidência da Casa num dos períodos de mais baixa estima do Legislativo, esburacado pelos escândalos em cascata das mordomias, das vantagens e mutretas, como a indecorosa verba indenizatória de R$ 15 mil mensais para o ressarcimento das despesas de deputados e senadores nos fins de semana nas bases eleitorais ou do despudor da verba de R$ 61 mil por mês para contratar assessores para os gabinetes individuais de suas excelências.

O castigo tardou, mas chega em doses duplas. O Congresso que não legisla, imprensado entre a madraçaria da semana de três dias úteis e com a pauta entupida pelas medidas provisórias encaminhadas pelo governo de goela insaciável, está sendo exemplado como menino desobediente, com a ousadia do Supremo Tribunal Federal (STF) que invade a sua área para marcar o gol de placa ao proibir a praga do nepotismo que empesteia os três poderes.

Com a cara no chão, a Câmara e o Senado tratam de sair do castigo prometendo não reincidir num dos nossos mais antigos vícios, com raízes na carta de Pero Vaz Caminha.

Na Câmara, o embaraçado presidente, deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP) sai da reta, transferindo para os deputados o dever de casa de despedir a parentela encarrapitada nos galhos das nomeações sem passar pelos concursos. E, no Senado, do presidente Garibaldi Alves, por enquanto, os senadores serão advertidos para o cumprimento da súmula do STF.

Nos porões do baixo clero, com o constrangido apoio da maioria, germinou a luminosa saída por baixo do pano do circo, da criação de cotas para a contratação de parentes.

Antes de ser coberto pelo entulho, o presidente do Senado reagiu com o giro da metralhadora: qualificou de ridícula a maroteira das cotas para a contratação de parentes; reconheceu que o Legislativo vive "uma situação tensa" e com a sua omissão, o Judiciário "está realmente legislando" e comparou as Medidas Provisórias aos decretos-leis criados pelos militares durante a ditadura dos generais-presidentes.

O espírito de Aluísio Alves encarnou no sobrinho presidente de Senado.

Tomara que seja um obesessor que gruda no cangote e não larga o obsedante.

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