quarta-feira, 27 de agosto de 2008

Ciro se finge de morto


Luiz Carlos Azedo
DEU NO CORREIO BRAZILIENSE: Nas Entrelinhas

A existência de pelo menos duas candidaturas governistas na sucessão do presidente Lula ainda é o cenário mais provável


O deputado Ciro Gomes (PSB-CE) não jogou a toalha. Não está dado que o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, que preside o PSB, tenha a intenção de privar Ciro da legenda de candidato à presidente da República para forçá-lo a aceitar a vice na chapa encabeçada pela ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff (PT), nas eleições de 2010, como gostaria o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Ciro está engolindo os sapos que cruzam seu caminho exatamente porque pretende ser candidato sem o apoio do PT.

Fragmentação

Para o secretário-geral do PSB, senador Renato Casagrande (ES), a existência de pelo menos duas candidaturas governistas na sucessão do presidente Lula ainda é o cenário mais provável: Dilma tem o apoio de Lula, mas Ciro ainda é o nome mais competitivo. Dificilmente, porém, teria o apoio do PT. Ainda mais agora, depois do confronto aberto com a prefeita de Fortaleza, Luizianne Lins (PT), candidata à reeleição. O socialista apóia sua ex-mulher, a senadora Patrícia Saboya (PDT), que também concorre à prefeitura local.

O descolamento do PCdoB da candidatura de Ciro, desde que o presidente da legenda, Renato Rabelo, propôs a reunificação da base governista em torno de Dilma, não significa que esse objetivo seja facilmente alcançado. A proposta tem racionalidade, mas por ora a indicação de Ciro para vice é apenas um desejo dos comunistas para evitar uma escolha de Sofia.

A cúpula do PSB, por enquanto, pensa diferente. “A experiência mostra que a candidatura própria favorece o fortalecimento da legenda, principalmente a eleição dos deputados federais”, explica Casagrande, referindo-se à candidatura do ex-governador fluminense Anthony Garotinho em 2002.

A tendência do presidente Lula é escolher um vice do PMDB, cujo peso na coalizão de governo tende a aumentar com a indicação do Michel Temer, presidente da legenda, para o comando da Câmara dos Deputados. Caso isso ocorra, a candidatura de Ciro se tornaria uma necessidade para outros aliados da base governista. Ao mesmo tempo, não impediria que a coalizão se reagrupasse no segundo turno.

São Paulo

Apesar da divisão entre os governistas, a situação da oposição não é nada boa e pode piorar ainda mais. O confronto entre o ex-governador Geraldo Alckmin (PSDB) e o prefeito Gilberto Kassab (DEM) ameaça afogar os dois candidatos no Rio Tietê. Quem nada de braçada nas eleições de São Paulo é a ex-ministra do Turismo Marta Suplicy (PT).

O presidente Lula quer aproveitar a situação para uma investida em outros municípios paulistas importantes, como São Bernardo do Campo, onde a eleição do ex-ministro da Previdência Luiz Marinho virou uma questão de honra. Seu objetivo é impedir que o governador José Serra (PSDB) se lance candidato com uma vantagem robusta em São Paulo. Uma vitória de Marta, então, poderia sepultar a candidatura presidencial de Serra, ainda mais num ambiente macroeconômico favorável ao governo, com a inflação sob controle e uma taxa de crescimento do PIB mais modesta, porém razoável. Para o tucano, nesse cenário, seria mais prudente disputar a reeleição ao governo paulista.

Um balanço preliminar mostra que o governo vai melhor do que as expectativas nas eleições municipais, inclusive nas capitais do Sul e Sudeste. Não é apenas porque os candidatos governistas surfam no prestígio de Lula. Na verdade, eles surfam muito mais nas realizações dos governos aos quais estão ligados (em todos os níveis) e nas facilidades para arrecadar recursos.

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