sexta-feira, 8 de agosto de 2008

DEU EM O GLOBO

EFEITO TARSO
CHEIRO DE PASSADO

Estudantes e militares batem boca e trocam acusações em frente ao Clube Militar

Uma confronto de palavras e gestos, fora de época, lembrava antigos conflitos, em frente ao prédio do Clube Militar, na Avenida Rio Branco, Centro do Rio. De um lado, cerca de 20 jovens da União Nacional dos Estudantes (UNE) e integrantes do grupo Tortura Nunca Mais de Goiás; de outro, militares da reserva, recém-saídos do seminário "A lei da Anistia - Alcances e Conseqüências".
Faixas e gritos exibiam o confronto de idéias: "A ditadura militar seqüestrou, torturou e matou. A sociedade exige punição", dizia um dos cartazes. O clima ficou tenso quando os primeiros militares saíram do prédio. Houve bate-boca com troca de acusações. Manifestantes gritavam contra a tortura, e militares os chamavam de comunistas. Para o vice-presidente da UNE, Tales de Castro Cassiano, a Lei da Anistia foi que chamou de "um grande acordo":

- A tortura é um crime comum, é contra a humanidade. A cultura da impunidade se deu com a ditadura.

O comandante Militar do Leste, general Luiz Cesário da Silveira, foi chamado no meio do simpósio para receber a informação de que manifestantes protestavam contra a tortura. Ao chegar no corredor, determinou, aparentando nervosismo, que auxiliares chamassem "a polícia", que já patrulhava a região. O general só mudou de idéia quando uma pessoa disse que não eram mais do que dez pessoas com algumas faixas e cartazes. Mais calmo, comentou com auxiliares que não tinha problema e voltou ao salão para acompanhar a palestra.

Lá fora, no entanto, a tensão permanecia. A Polícia Militar recebeu reforço de dez homens. Soldados da Polícia do Exército estavam na avenida desde cedo aguardando a movimentação. De acordo com Waldomiro Batista, presidente do Tortura Nunca Mais goiano, a idéia era fazer uma manifestação pacífica. O movimento, no Rio, decidiu não se manifestou para não validar o ato dos militares.
Irmão do jovem Marco Antônio Baptista, de 15 anos, desaparecido em 1970, vítima da ditadura, ele afirma que é hora de o Brasil virar essa página da história:

- Esse é um velório que não acaba. É o mais longo da história do Brasil

. O tenente-coronel Lício Maciel, que prendeu o deputado federal José Genoíno, na época da ditadura militar, reclamava que não recebeu os mesmos benefícios dos torturados:

- Eu combati a guerrilha e sou um cara pobre - disse, fazendo acusações a integrantes do governo.

O capitão-de-mar-e-guerra reformado Jorge Barganine, um dos mais inflamados ao sair do prédio, gritava que "assassinato também é crime". Ele afirmou que é "indiscutivelmente contra" a tortura:

- Mas também sou contra os que quiseram ocupar o poder matando gente - disse o militar.

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