ALÉM DAS ESTATÍSTICAS
Villas-Bôas Corrêa
Certamente, e com boas razões e excelentes argumentos, o governo e os seus candidatos na campanha para a eleição de prefeitos e vereadores vão deitar e rolar no tapete macio dos dados estatísticos da Fundação Getúlio Vargas e do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) que coincidem, com insignificantes diferenças dos índices, na redução do número de pobres e aumento dos ricos, com a classe média ascendendo à consagração de abrigar a maioria da população do país.
Não se justificaria baixar à tentativa da análise crítica às diferenças de metodologia que justificam as aparentes contradições. O importante é a visão panorâmica das mudanças na pirâmide social, com a idílica disparada de escada acima de todos os setores para o patamar da felicidade nacional.
Os números não mentem. Entre os 42,82% total de pobres da população apurados em abril de 2002 para os 32,59% que cintilam nos índices de abril deste ano das pesquisas da FGV, cinco milhões de brasileiros entre 15 e 60 anos estão tratando melhor o estômago e desfrutando de condições menos perversa de vida.
Os dados do Ipea inflam em 45,6% da população os que viviam nos muitos patamares da pobreza e que baixaram para 30,7%.
Há mais ricos, como se pode observar com a simples leitura dos jornais e revistas ou acompanhando o noticiário das redes de TV. E é inegável a participação do governo do presidente Lula, nos sete anos e sete meses dos seus dois mandatos, com o êxito da Bolsa Família e outros programas sociais na redução dos índices de pobreza. Setores privilegiados da classe média e os ricos em geral devem ser gratos à generosidade oficial com o reajuste salarial para 1,4 milhão de servidores públicos civis e militares, criação de milhares de cargos de confiança, de livre nomeação, sem necessidade do aborrecimento de submeter-se à concurso.
Lá é verdade que o presidente exagera, perde o senso da medida, fica a um passo da excentricidade em iniciativas do mais descarado cunho eleitoreiro, como a promoção a ministério da até então modesta Secretaria da Pesca. E que pulou o fosso da quase indigência para o andar de cima do maior ministério de todos os tempos, com a criação de um cacho de mordomias de cargos de livre nomeação.
Nas suas andanças pelo país, intercaladas com as viagens internacionais na maratona para o seu reconhecimento como um dos líderes do mundo – que inclui a ida a Pequim para assistir aos Jogos Olímpicos – Lula deve ter ficado impressionado com a fartura das barracas de mercado do Norte e Nordeste, abastecidas de uma colorida variedade de peixes, camarões, caranguejos e outras dádivas do mar e dos rios. E, no impulso, como no estalo em que criou o ministério para o ministro Mangabeira Unger programar o futuro e meter o bedelho na Amazônia, criou o Ministério da Pesca para incentivar uma atividade que está sendo ameaçada com as pescas predatórias de redes e explosivos, que dizimam os filhotes.
Sem querer estragar a festa dos outros, não é possível calar diante do contraste entre a euforia do presidente com a certeza de que elegerá o seu sucessor – a ministra Dilma Rousseff é a pedra da vez, sacramentada pela sua palavra – e a dura realidade da rotina da absoluta maioria da população.
Os pipocar dos foguetes oficiais é abafado pelo metralhar das armas das milícias que dominam as milhares de favelas de todas as grandes e médias cidades do país. Viver em jaulas de prédios gradeados, andar em ruas sem segurança, com o risco de ser assaltado em cada esquina é uma provação que torna a vida da maioria da população um castigo. E no vexame da degradação do centro das grandes cidades numa lixeira, intransitável depois das 20 horas.
Morrer com a barriga cheia não chega a ser um consolo.
Villas-Bôas Corrêa
Certamente, e com boas razões e excelentes argumentos, o governo e os seus candidatos na campanha para a eleição de prefeitos e vereadores vão deitar e rolar no tapete macio dos dados estatísticos da Fundação Getúlio Vargas e do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) que coincidem, com insignificantes diferenças dos índices, na redução do número de pobres e aumento dos ricos, com a classe média ascendendo à consagração de abrigar a maioria da população do país.
Não se justificaria baixar à tentativa da análise crítica às diferenças de metodologia que justificam as aparentes contradições. O importante é a visão panorâmica das mudanças na pirâmide social, com a idílica disparada de escada acima de todos os setores para o patamar da felicidade nacional.
Os números não mentem. Entre os 42,82% total de pobres da população apurados em abril de 2002 para os 32,59% que cintilam nos índices de abril deste ano das pesquisas da FGV, cinco milhões de brasileiros entre 15 e 60 anos estão tratando melhor o estômago e desfrutando de condições menos perversa de vida.
Os dados do Ipea inflam em 45,6% da população os que viviam nos muitos patamares da pobreza e que baixaram para 30,7%.
Há mais ricos, como se pode observar com a simples leitura dos jornais e revistas ou acompanhando o noticiário das redes de TV. E é inegável a participação do governo do presidente Lula, nos sete anos e sete meses dos seus dois mandatos, com o êxito da Bolsa Família e outros programas sociais na redução dos índices de pobreza. Setores privilegiados da classe média e os ricos em geral devem ser gratos à generosidade oficial com o reajuste salarial para 1,4 milhão de servidores públicos civis e militares, criação de milhares de cargos de confiança, de livre nomeação, sem necessidade do aborrecimento de submeter-se à concurso.
Lá é verdade que o presidente exagera, perde o senso da medida, fica a um passo da excentricidade em iniciativas do mais descarado cunho eleitoreiro, como a promoção a ministério da até então modesta Secretaria da Pesca. E que pulou o fosso da quase indigência para o andar de cima do maior ministério de todos os tempos, com a criação de um cacho de mordomias de cargos de livre nomeação.
Nas suas andanças pelo país, intercaladas com as viagens internacionais na maratona para o seu reconhecimento como um dos líderes do mundo – que inclui a ida a Pequim para assistir aos Jogos Olímpicos – Lula deve ter ficado impressionado com a fartura das barracas de mercado do Norte e Nordeste, abastecidas de uma colorida variedade de peixes, camarões, caranguejos e outras dádivas do mar e dos rios. E, no impulso, como no estalo em que criou o ministério para o ministro Mangabeira Unger programar o futuro e meter o bedelho na Amazônia, criou o Ministério da Pesca para incentivar uma atividade que está sendo ameaçada com as pescas predatórias de redes e explosivos, que dizimam os filhotes.
Sem querer estragar a festa dos outros, não é possível calar diante do contraste entre a euforia do presidente com a certeza de que elegerá o seu sucessor – a ministra Dilma Rousseff é a pedra da vez, sacramentada pela sua palavra – e a dura realidade da rotina da absoluta maioria da população.
Os pipocar dos foguetes oficiais é abafado pelo metralhar das armas das milícias que dominam as milhares de favelas de todas as grandes e médias cidades do país. Viver em jaulas de prédios gradeados, andar em ruas sem segurança, com o risco de ser assaltado em cada esquina é uma provação que torna a vida da maioria da população um castigo. E no vexame da degradação do centro das grandes cidades numa lixeira, intransitável depois das 20 horas.
Morrer com a barriga cheia não chega a ser um consolo.
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