Sociólogo e presidente do Instituto Vox Populi
DEU NO CORREIO BRAZILIENSE
Com crescente competência, o presidente estabelece uma relação cada vez mais sólida com a pessoa comum, falando como ela, agindo como “qualquer um” agiria
Com a divulgação da mais recente pesquisa nacional do Datafolha, confirmou-se o que era esperado. Lula está nas alturas, com sua popularidade batendo todos os recordes, mesmo os seus, que já eram os mais exuberantes desde quando se começou a pesquisar de maneira sistemática a opinião pública no Brasil.
Há diversas coisas a comentar sobre como chegou à situação atual, em que duas, de cada três pessoas, de Norte a Sul do país, consideram seu governo como “ótimo” ou “bom”. Segundo os dados da pesquisa, as diferenças regionais e socioeconômicas se tornaram quase irrelevantes, ao contrário do que eram faz pouco tempo, quando seu desempenho nas camadas de renda e escolaridade mais altas era significativamente inferior, assim como na Região Sul e nas capitais.
Se chama atenção o tamanho de sua avaliação positiva, é ainda mais notável quão pequena se tornou a negativa. Somando quem é de opinião que seu governo é “ruim” e “péssimo”, chegamos a apenas 8% do total. Menos que um em cada 10 cidadãos brasileiros reprova sua atuação. O que quer dizer que mais de 90% não está insatisfeita com ele.
Ou seja, Lula virou uma espécie de unanimidade nacional.
As razões para isso vêm sendo objeto de especulação faz tempo, ainda quando sua aprovação era menor. Têm a ver com várias coisas. A comparação com seus antecessores (com quem a história tem sido cruel) e as expectativas não muito elevadas que a população tinha a respeito de seu governo são duas.
O bom momento que a economia brasileira vive é outra, de evidente relevância para explicar essa aprovação. Para muitos especialistas, o momento poderia até ser melhor, se o governo agisse de forma diferente. Mas, para o cidadão comum, o mais importante é que poderia ser pior, como, aliás, foi nos vários últimos anos. A conjugação de mais oportunidades de trabalho com mais acesso ao consumo, mesmo em patamares relativamente modestos, é infalível para levantar a popularidade de qualquer governo.
Há, ainda, muita coisa que o governo faz que recebe a aprovação das pessoas, especialmente de pessoas de renda menor (mas não apenas delas). Quase todas integram a política social, com o carro puxado pelo Bolsa Família, englobando ações na educação e no apoio a comunidades carentes em regiões pobres.
Salvo elas, as pesquisas disponíveis mostram que a avaliação do governo, área por área, nunca alcança os níveis que tem no conjunto. Uma a uma, as notas que recebem as diversas políticas são sempre menores que a do governo como um todo. Em outras palavras, o todo é maior que a soma das partes.
É porque, na avaliação do governo, as pessoas avaliam também o próprio Lula. Com crescente competência, ele estabelece uma relação cada vez mais sólida com a pessoa comum, falando como ela, agindo como “qualquer um” agiria. Assim, afasta tudo de negativo (até mesmo os erros de seu governo, como a crise de infra-estrutura que vivemos) e se apropria do que é positivo (até mesmo coisas para as quais sua contribuição é pequena, como as descobertas de petróleo).
Conjunturalmente, a isso se soma que Lula se beneficia muito do período eleitoral que vivemos. Com sua popularidade nas alturas, ninguém o critica e legiões de candidatos lutam para se identificar com ele. Sem exagerar, pode-se dizer que Lula tem, hoje, uns 20 mil cabos eleitorais espalhados pelos 5.800 municípios brasileiros, contando apenas os candidatos a prefeito.
Isso é bom? Não haver, para todos efeitos, oposição, faz bem a um país? Ou é melhor que ela exista, para fazer com que o governo ande mais depressa e chegue logo aonde precisa chegar.
Tomara que, assim que passem as eleições, as oposições retomem seu papel.
Nenhum comentário:
Postar um comentário