Zuenir Ventura
DEU EM O GLOBO
Todas as tentativas de explicar a popularidade de Lula têm recorrido à sociologia, e fracassaram. Talvez seja hora de tentar a psicologia. Em vez de sócio-análises, psicoanálises. Por que não consultar os entendidos em alma coletiva, os que conhecem os mecanismos de afinidade e identificação, os mistérios do carisma? O que não se pode mais é desqualificar o seu sucesso, alegando, como faziam antes muitos inconformados, que tudo se devia à ignorância das classes baixas, aquela gente mal informada que não lia jornal e, portanto, não dispunha de sentido crítico. E que, além do mais, vivia do Bolsa Família.
O que dizer agora da última pesquisa do Datafolha? Além de mostrar uma aprovação recorde em todas as regiões do país - 64% de ótimo/bom, quando há seis meses era de 55% - o levantamento traz uma novidade: a adesão dos mais ricos e dos mais escolarizados. Os primeiros eram 43% em março último e hoje são 57%; os segundos pularam de 47% para 55%.
Li várias declarações de oposicionistas. Um atribuiu o fenômeno à consolidação de projetos como o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento); outro alegou o fato de o presidente estar permanentemente em campanha. Um terceiro citou o crescimento de 6% do PIB no primeiro semestre, um quarto, a estabilidade econômica. É possível que seja um pouco de tudo, mas será só isso? Houve quem dissesse que a cooptação da elite é passageira, vai terminar quando a crise financeira dos EUA chegar ao Brasil. E houve até quem decretasse, como o senador Sérgio Guerra, presidente do PSDB, que "a oposição no Brasil foi revogada, saiu de moda", quando na verdade o que perdeu sentido foi essa oposição sistemática e implicante, incapaz de reconhecer seus erros, e muito menos os acertos do adversário. Que gosta de polemizar com o sucesso alheio e acha mais divertido gozar os tropeços gramaticais e as metáforas do presidente do que admitir seu extraordinário poder de comunicação. Lula é popular pelo que faz, mas também pelo que diz e pelo que é.
A interpretação mais original foi a do líder do PSDB na Câmara, deputado José Aníbal. Ele descobriu que o alto prestígio do presidente se deve à "sorte" - sorte de terem aparecido novas reservas de petróleo. "O povo está achando que a descoberta do pré-sal é a solução de todos os problemas e põe isso na conta do Lula", reclamou. Aníbal parece não ter percebido o risco de sua tese estimular a crença de que a sorte está do lado de Lula, não da oposição, que, em conseqüência, seria azarada. Num país em que as pessoas têm horror a pé-frio, imagina se corre a lenda de que Lula é pé-quente e nele nada de ruim cola, a exemplo dos escândalos do seu governo. Sua popularidade só tenderá a crescer. Assim, com a oposição ajudando, ele vai acabar elegendo até um poste, como já se diz hoje.
DEU EM O GLOBO
Todas as tentativas de explicar a popularidade de Lula têm recorrido à sociologia, e fracassaram. Talvez seja hora de tentar a psicologia. Em vez de sócio-análises, psicoanálises. Por que não consultar os entendidos em alma coletiva, os que conhecem os mecanismos de afinidade e identificação, os mistérios do carisma? O que não se pode mais é desqualificar o seu sucesso, alegando, como faziam antes muitos inconformados, que tudo se devia à ignorância das classes baixas, aquela gente mal informada que não lia jornal e, portanto, não dispunha de sentido crítico. E que, além do mais, vivia do Bolsa Família.
O que dizer agora da última pesquisa do Datafolha? Além de mostrar uma aprovação recorde em todas as regiões do país - 64% de ótimo/bom, quando há seis meses era de 55% - o levantamento traz uma novidade: a adesão dos mais ricos e dos mais escolarizados. Os primeiros eram 43% em março último e hoje são 57%; os segundos pularam de 47% para 55%.
Li várias declarações de oposicionistas. Um atribuiu o fenômeno à consolidação de projetos como o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento); outro alegou o fato de o presidente estar permanentemente em campanha. Um terceiro citou o crescimento de 6% do PIB no primeiro semestre, um quarto, a estabilidade econômica. É possível que seja um pouco de tudo, mas será só isso? Houve quem dissesse que a cooptação da elite é passageira, vai terminar quando a crise financeira dos EUA chegar ao Brasil. E houve até quem decretasse, como o senador Sérgio Guerra, presidente do PSDB, que "a oposição no Brasil foi revogada, saiu de moda", quando na verdade o que perdeu sentido foi essa oposição sistemática e implicante, incapaz de reconhecer seus erros, e muito menos os acertos do adversário. Que gosta de polemizar com o sucesso alheio e acha mais divertido gozar os tropeços gramaticais e as metáforas do presidente do que admitir seu extraordinário poder de comunicação. Lula é popular pelo que faz, mas também pelo que diz e pelo que é.
A interpretação mais original foi a do líder do PSDB na Câmara, deputado José Aníbal. Ele descobriu que o alto prestígio do presidente se deve à "sorte" - sorte de terem aparecido novas reservas de petróleo. "O povo está achando que a descoberta do pré-sal é a solução de todos os problemas e põe isso na conta do Lula", reclamou. Aníbal parece não ter percebido o risco de sua tese estimular a crença de que a sorte está do lado de Lula, não da oposição, que, em conseqüência, seria azarada. Num país em que as pessoas têm horror a pé-frio, imagina se corre a lenda de que Lula é pé-quente e nele nada de ruim cola, a exemplo dos escândalos do seu governo. Sua popularidade só tenderá a crescer. Assim, com a oposição ajudando, ele vai acabar elegendo até um poste, como já se diz hoje.
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