Clóvis Rossi
DEU NA FOLHA DE S. PAULO
MADRI - Coube a um escritor a melhor descrição da crise, noves fora a catarata de números e de expressões esotéricas como "swaps reversos".
Trata-se do mexicano Jordi Soler, radicado em Barcelona, da qual emigraram seus pais. Em artigo para "El País", Soler recupera o conto "Casa Tomada", do argentino Julio Cortázar, para explicar tudo. É a história de dois irmãos quarentões que vivem em uma casona herdada, têm um cotidiano banal, "uma vida quase perfeita".
Até que um dia, do fundão da casa, ao qual nunca iam, vem "um ruído impreciso e surdo, como o de uma cadeira caindo sobre o tapete ou um sussurro de conversa". O irmão avisa a irmã: "Tomaram a parte dos fundos". Aos poucos, vão tomando o resto até encurralá-los na garagem.
Pois é, a crise é assim. Sujeito oculto, sem rosto, mas invasivo. No começo, tomou a parte dos fundos (a crise das hipotecas subprime).
Foi avançando, avançando e já sufoca agora a parte da casa -os países ditos emergentes- que todos, governantes e palpiteiros, diziam estar absolutamente blindada.
O mundo parece encurralado. Alguns países na garagem, outros no porão, terceiros em cantos ainda confortáveis (China e seus 8% de crescimento, por exemplo), um completamente exangue (a Islândia). O pior é que ninguém sabe até onde irá o sujeito sem rosto, mesmo porque todos os sábios que faziam previsões desistiram de fazê-las -o que é, aliás, o único ganho com a crise. Não li o conto de Cortázar para poder saber como é o final e se a crise tende a ter desfecho idêntico.
Mas li o texto de Soler, que termina assim: "Damas e cavalheiros, a casa está oficialmente tomada. Mas por quem?"
Será que pelo menos isso os sábios poderiam se dignar a responder -ou se sentem cúmplices?
DEU NA FOLHA DE S. PAULO
MADRI - Coube a um escritor a melhor descrição da crise, noves fora a catarata de números e de expressões esotéricas como "swaps reversos".
Trata-se do mexicano Jordi Soler, radicado em Barcelona, da qual emigraram seus pais. Em artigo para "El País", Soler recupera o conto "Casa Tomada", do argentino Julio Cortázar, para explicar tudo. É a história de dois irmãos quarentões que vivem em uma casona herdada, têm um cotidiano banal, "uma vida quase perfeita".
Até que um dia, do fundão da casa, ao qual nunca iam, vem "um ruído impreciso e surdo, como o de uma cadeira caindo sobre o tapete ou um sussurro de conversa". O irmão avisa a irmã: "Tomaram a parte dos fundos". Aos poucos, vão tomando o resto até encurralá-los na garagem.
Pois é, a crise é assim. Sujeito oculto, sem rosto, mas invasivo. No começo, tomou a parte dos fundos (a crise das hipotecas subprime).
Foi avançando, avançando e já sufoca agora a parte da casa -os países ditos emergentes- que todos, governantes e palpiteiros, diziam estar absolutamente blindada.
O mundo parece encurralado. Alguns países na garagem, outros no porão, terceiros em cantos ainda confortáveis (China e seus 8% de crescimento, por exemplo), um completamente exangue (a Islândia). O pior é que ninguém sabe até onde irá o sujeito sem rosto, mesmo porque todos os sábios que faziam previsões desistiram de fazê-las -o que é, aliás, o único ganho com a crise. Não li o conto de Cortázar para poder saber como é o final e se a crise tende a ter desfecho idêntico.
Mas li o texto de Soler, que termina assim: "Damas e cavalheiros, a casa está oficialmente tomada. Mas por quem?"
Será que pelo menos isso os sábios poderiam se dignar a responder -ou se sentem cúmplices?
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