Dora Kramer
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO
Pode acontecer qualquer coisa na disputa pelas presidências da Câmara e do Senado em fevereiro de 2009, menos o acordo de rodízio firmado há dois anos entre PT e PMDB ser cumprido na sua integralidade.
Antes de prosseguirmos, uma explicação sobre a relevância do tema: os próximos presidentes das duas Casas do Congresso comandarão o Parlamento em pleno processo de sucessão do presidente Luiz Inácio da Silva, cujo sucesso em boa medida depende da preservação da harmonia na aliança partidária que sustenta o governo e tem naqueles dois partidos os principais parceiros.
Se uma briga os tornarem incompatíveis, a sustentação do projeto de Lula de eleger o sucessor corre sério risco. Fernando Henrique Cardoso, por exemplo, começou a perder a chance de ser substituído por um aliado dois anos antes, quando os então senadores Antonio Carlos Magalhães e Jader Barbalho quase se pegam a tapas no plenário.
A rixa quebrou o equilíbrio ecológico na aliança, repercutiu na disputa pelas presidências do Legislativo no ano seguinte, a combinada divisão dos cargos entre PMDB e PFL foi para o espaço, o PSDB fez de Aécio Neves presidente da Câmara, o PFL reagiu e ali considerou encerrado seu compromisso de lealdade com Fernando Henrique.
Daí surgiu a candidatura de Roseana Sarney, cujo fracasso foi atribuído pelo PFL a subterfúgios engendrados pelo candidato tucano José Serra e o resto da história está registrado nos anais da dispersão do campo governista até a derrota final para Lula.
Evidentemente, o atual presidente não vai querer que lhe aconteça o mesmo e, por isso, é de se supor que empenhe todos os esforços para manter o PMDB, que sai das urnas mais forte do que nunca, na sua base.
É este partido cheio de respaldo e disposição que desde já se rebela contra a eleição do senador petista Tião Viana para a presidência do Senado, conforme o anteriormente combinado. Pertence ao mesmo partido o atual presidente da Casa, Garibaldi Alves, que diz o seguinte sobre o acerto: “Acordos feitos com muita antecedência têm um risco”. Na visão dele, o pacto em questão “é um sério candidato a zebra”.
Garibaldi mesmo está no páreo. Fez uma primeira consulta sobre suas possibilidades legais e não teve uma boa resposta. Mas vai insistir, sob o argumento de que apenas cumpre o restante do período para o qual foi eleito Renan Calheiros. “Mudou o homem, mas o mandato é o mesmo.”
O próprio Calheiros trabalha contra Viana, põe na roda o nome de José Sarney (uma hipótese sempre levantada quando há sinal de confusão nas proximidades) e o PMDB, com isso, quer dizer uma de duas: ou que se acha no direito de dar as cartas e, portanto, reivindicar o comando das duas Casas ou que atira ao mar a candidatura de Michel Temer a presidente da Câmara.
Esta última é bem pouco provável. Primeiro, porque Temer é simplesmente o presidente do partido e, segundo, porque ele guarda na gaveta da escrivaninha o acordo assinado por escrito. Nele, em troca do apoio do PMDB a Arlindo Chinaglia (atual presidente), o PT se compromete a apoiar um pemedebista para o delicado período 2009/2010.
No caso de quebra do escrito, raciocinemos: fica na desvantagem o PMDB, cuja mercadoria será disputada a tapa no mercado da sucessão, ou o PT, cujo poder central estará em jogo e não tem nada a oferecer?
Até por uma questão de custo-benefício, se não for tudo resolvido na santa paz, Lula, na posição de quem parte e reparte, ficará com quem puder lhe propiciar a melhor parte.
Discretamente
Sem dar ao cenário o nome de confronto, o presidente Lula e o governador José Serra transferiram para São Bernardo o enfrentamento que não houve na capital de São Paulo.
Desde o primeiro turno, Lula aposta todas as fichas na eleição de Luiz Marinho. Agora, no segundo, Serra intensificou presença em prol da candidatura de Orlando Morando.
O petista é o favorito e talvez por isso não interesse aos tucanos chamar atenção para a existência do embate “de cima”. Mas se porventura a maré virar certamente farão grande alarde, pois Marinho é a última - e única - chance de o presidente creditar uma vitória em sua conta nessas eleições.
Além da cidade de origem e moradia de Lula, São Bernardo foi palco do maior investimento eleitoral do presidente que lá esteve inúmeras vezes.
Ironia do destino
Leonardo Quintão, o pemedebista que tirou do governador Aécio Neves a oportunidade de eleger Márcio Lacerda no primeiro turno em Belo Horizonte, foi escolhido candidato na convenção do partido com o apoio de aliados do governador.
Temendo a vitória do oponente Sávio Souza Cruz, a área de influência de Aécio no PMDB se mobilizou em prol do nome de Quintão, cujo grau de oposicionismo é próximo do zero e o potencial de perturbação na campanha era considerado, por isso, muito reduzido.
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO
Pode acontecer qualquer coisa na disputa pelas presidências da Câmara e do Senado em fevereiro de 2009, menos o acordo de rodízio firmado há dois anos entre PT e PMDB ser cumprido na sua integralidade.
Antes de prosseguirmos, uma explicação sobre a relevância do tema: os próximos presidentes das duas Casas do Congresso comandarão o Parlamento em pleno processo de sucessão do presidente Luiz Inácio da Silva, cujo sucesso em boa medida depende da preservação da harmonia na aliança partidária que sustenta o governo e tem naqueles dois partidos os principais parceiros.
Se uma briga os tornarem incompatíveis, a sustentação do projeto de Lula de eleger o sucessor corre sério risco. Fernando Henrique Cardoso, por exemplo, começou a perder a chance de ser substituído por um aliado dois anos antes, quando os então senadores Antonio Carlos Magalhães e Jader Barbalho quase se pegam a tapas no plenário.
A rixa quebrou o equilíbrio ecológico na aliança, repercutiu na disputa pelas presidências do Legislativo no ano seguinte, a combinada divisão dos cargos entre PMDB e PFL foi para o espaço, o PSDB fez de Aécio Neves presidente da Câmara, o PFL reagiu e ali considerou encerrado seu compromisso de lealdade com Fernando Henrique.
Daí surgiu a candidatura de Roseana Sarney, cujo fracasso foi atribuído pelo PFL a subterfúgios engendrados pelo candidato tucano José Serra e o resto da história está registrado nos anais da dispersão do campo governista até a derrota final para Lula.
Evidentemente, o atual presidente não vai querer que lhe aconteça o mesmo e, por isso, é de se supor que empenhe todos os esforços para manter o PMDB, que sai das urnas mais forte do que nunca, na sua base.
É este partido cheio de respaldo e disposição que desde já se rebela contra a eleição do senador petista Tião Viana para a presidência do Senado, conforme o anteriormente combinado. Pertence ao mesmo partido o atual presidente da Casa, Garibaldi Alves, que diz o seguinte sobre o acerto: “Acordos feitos com muita antecedência têm um risco”. Na visão dele, o pacto em questão “é um sério candidato a zebra”.
Garibaldi mesmo está no páreo. Fez uma primeira consulta sobre suas possibilidades legais e não teve uma boa resposta. Mas vai insistir, sob o argumento de que apenas cumpre o restante do período para o qual foi eleito Renan Calheiros. “Mudou o homem, mas o mandato é o mesmo.”
O próprio Calheiros trabalha contra Viana, põe na roda o nome de José Sarney (uma hipótese sempre levantada quando há sinal de confusão nas proximidades) e o PMDB, com isso, quer dizer uma de duas: ou que se acha no direito de dar as cartas e, portanto, reivindicar o comando das duas Casas ou que atira ao mar a candidatura de Michel Temer a presidente da Câmara.
Esta última é bem pouco provável. Primeiro, porque Temer é simplesmente o presidente do partido e, segundo, porque ele guarda na gaveta da escrivaninha o acordo assinado por escrito. Nele, em troca do apoio do PMDB a Arlindo Chinaglia (atual presidente), o PT se compromete a apoiar um pemedebista para o delicado período 2009/2010.
No caso de quebra do escrito, raciocinemos: fica na desvantagem o PMDB, cuja mercadoria será disputada a tapa no mercado da sucessão, ou o PT, cujo poder central estará em jogo e não tem nada a oferecer?
Até por uma questão de custo-benefício, se não for tudo resolvido na santa paz, Lula, na posição de quem parte e reparte, ficará com quem puder lhe propiciar a melhor parte.
Discretamente
Sem dar ao cenário o nome de confronto, o presidente Lula e o governador José Serra transferiram para São Bernardo o enfrentamento que não houve na capital de São Paulo.
Desde o primeiro turno, Lula aposta todas as fichas na eleição de Luiz Marinho. Agora, no segundo, Serra intensificou presença em prol da candidatura de Orlando Morando.
O petista é o favorito e talvez por isso não interesse aos tucanos chamar atenção para a existência do embate “de cima”. Mas se porventura a maré virar certamente farão grande alarde, pois Marinho é a última - e única - chance de o presidente creditar uma vitória em sua conta nessas eleições.
Além da cidade de origem e moradia de Lula, São Bernardo foi palco do maior investimento eleitoral do presidente que lá esteve inúmeras vezes.
Ironia do destino
Leonardo Quintão, o pemedebista que tirou do governador Aécio Neves a oportunidade de eleger Márcio Lacerda no primeiro turno em Belo Horizonte, foi escolhido candidato na convenção do partido com o apoio de aliados do governador.
Temendo a vitória do oponente Sávio Souza Cruz, a área de influência de Aécio no PMDB se mobilizou em prol do nome de Quintão, cujo grau de oposicionismo é próximo do zero e o potencial de perturbação na campanha era considerado, por isso, muito reduzido.
Nenhum comentário:
Postar um comentário