quarta-feira, 22 de outubro de 2008

A Flórida latina


Fernando Rodrigues
DEU NA FOLHA DE S. PAULO


MIAMI - Os EUA elegem neste ano o primeiro negro ou o mais idoso presidente do país. Será uma decisão de relevância histórica sem precedentes. Mas há outras complexidades regionais com grande riqueza simbólica e política.

É o caso do voto latino aqui na Flórida. Cerca de 20% do eleitorado do Estado é de origem hispânica.

Grande parte tem raiz em Cuba e no anticastrismo. Por décadas, esse foi um reduto republicano. Agora, há sinais de mudança.

Pesquisas mostram os latinos divididos ao meio entre o democrata Barack Obama e o republicano John McCain. É impossível prever o desfecho, mas é clara a trajetória declinante do eleitorado pró-linha dura em relação a Cuba.

Na região de Miami, onde estão os latinos, observa-se um abismo geracional e de entusiasmo entre as duas campanhas. Na segunda-feira à tarde, o comitê central republicano estava calmo. Mulheres na faixa dos 60 anos e com laquê no cabelo recebiam os poucos visitantes -apenas dois em uma hora.

"Posso olhar a sala dos telefones?", perguntei. Trata-se de um galpão onde os voluntários se revezam para fazer ligações e conquistar eleitores. A assessora pediu alguns minutos. Percebi quando funcionários foram levados para o local. Sentaram-se em frente às mesas. Fingiram estar telefonando.

Ainda assim, muitos aparelhos ficaram desocupados.

No mesmo momento, uma massa de 50 mil pessoas participava de um comício de Obama na cidade de Tampa. Ontem, mais 50 mil eram esperadas à noite num evento obamista no centro de Miami.

Os democratas só venceram duas das dez últimas eleições na Flórida.

Desta vez, o eleitorado conservador mostra-se mais frágil. Há menos terror no ar contra Cuba.
Esse cenário pode não se transformar em realidade já, mas tem pinta de ser inevitável no futuro.

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