Villas-Bôas Corrêa
DEU NO JORNAL DO BRASIL
A calamidade que castiga Santa Catarina, com o seu trágico balanço de quase uma centena de mortos, dezenas de milhares de casas destruídas ou abandonadas e a mancha negra na solidariedade do povo do registro policial do medo e da insegurança da população com o saque de residências e estabelecimentos comerciais, como supermercados e farmácias, por grupos de vândalos que não furtam comida para aplacar a fome, mas levam bebidas alcoólicas, caixas de cigarros e objetos de valor abandonados pelos donos na pressa para escapar da morte.
Não é a primeira vez que a emoção da sociedade contrasta com a insensibilidade de marginais. Mas, se é cedo para o balanço e a crítica dos muitos erros que agravaram a tragédia, com a cidade de Itajaí submersa, Blumenau alagada e municípios ainda isolados, a dimensão da tragédia alerta para erros, omissões e desleixo dos responsáveis.
O crescimento desordenado das cidades, com o êxodo do interior, nunca chegou a merecer uma tentativa de planejamento que, sem proibir ninguém de tentar melhorar de vida, disciplinasse a ocupação das áreas disponíveis, garantindo os serviços essenciais e impedindo a favelização das áreas de risco, cenário dos ciclos anuais de desgraças.
A favelização do Rio, assistida de camarote pelos sucessivos governos estaduais e municipais – e até com o estímulo do secretário que cunhou a frase que não pode ser esquecida: "Favela não é problema, é solução".
Com cinco dias de atraso, a contar desde que Santa Catarina começou a ser castigada pela maior enchente de todos os tempos, o presidente Lula venceu a estranha indecisão que paralisa em momentos de adversidade e não apenas cumpriu o seu dever, como resgatou a dívida que estava sendo cobrada pela sociedade. Nas três horas em que trocou o Aerolula pelo helicóptero, sobrevoou as áreas alagadas, não apenas de Florianópolis, mas do Vale do Itajaí.
E, em cima da hora, sob visível emoção, reconheceu que "aquela é a maior tragédia acontecida nos seus seis anos de governo". Liberou R$ 1,97 bilhão para socorrer as vítimas da enchente em Santa Catarina, no Espírito Santo, Minas e Rio de Janeiro e também para o socorro aos castigados pela seca no Nordeste. E está fazendo o que pode. Ou quase tudo. Ministros, secretários e demais figurões devem estar presentes para fiscalizar as operações de socorro às vítimas. Mas, a presença do presidente é insubstituível. E Lula não faltou ao dever da solidariedade.
No impulso, para não perder o rumo, o presidente deveria adiar para melhor ocasião a anunciada campanha publicitária com todos os cacoetes de jogada eleitoral para alavancar a candidatura da ministra Dilma Rousseff.
O governo embarcou na fórmula simplista de estimular o povo a gastar o dinheiro que tem no bolso para não paralisar o giro do consumo, no modelito do moto-contínuo: se a população não comprar o que precisa ou deseja – do rádio a televisão, ao computador e até o automóvel a preço de liquidação – as fábricas reduzem o ritmo de produção, despedem empregados e a crise acompanha a retração.
É impactante o mote da campanha que vai ganhar espaço no plano oficial: o mundo aprendeu a confiar no Brasil, e o Brasil confia nos brasileiros.
Mas, a campanha não pode ser levada à população de Santa Catarina, aos milhares sem casa, que perderam tudo e não sabem como recomeçar a vida, sem que pareça um deboche.
E se não pode ser lançada em Santa Catarina, também não deve ser no resto do país, para respeitar o sentimento de solidariedade do povo brasileiro.
DEU NO JORNAL DO BRASIL
A calamidade que castiga Santa Catarina, com o seu trágico balanço de quase uma centena de mortos, dezenas de milhares de casas destruídas ou abandonadas e a mancha negra na solidariedade do povo do registro policial do medo e da insegurança da população com o saque de residências e estabelecimentos comerciais, como supermercados e farmácias, por grupos de vândalos que não furtam comida para aplacar a fome, mas levam bebidas alcoólicas, caixas de cigarros e objetos de valor abandonados pelos donos na pressa para escapar da morte.
Não é a primeira vez que a emoção da sociedade contrasta com a insensibilidade de marginais. Mas, se é cedo para o balanço e a crítica dos muitos erros que agravaram a tragédia, com a cidade de Itajaí submersa, Blumenau alagada e municípios ainda isolados, a dimensão da tragédia alerta para erros, omissões e desleixo dos responsáveis.
O crescimento desordenado das cidades, com o êxodo do interior, nunca chegou a merecer uma tentativa de planejamento que, sem proibir ninguém de tentar melhorar de vida, disciplinasse a ocupação das áreas disponíveis, garantindo os serviços essenciais e impedindo a favelização das áreas de risco, cenário dos ciclos anuais de desgraças.
A favelização do Rio, assistida de camarote pelos sucessivos governos estaduais e municipais – e até com o estímulo do secretário que cunhou a frase que não pode ser esquecida: "Favela não é problema, é solução".
Com cinco dias de atraso, a contar desde que Santa Catarina começou a ser castigada pela maior enchente de todos os tempos, o presidente Lula venceu a estranha indecisão que paralisa em momentos de adversidade e não apenas cumpriu o seu dever, como resgatou a dívida que estava sendo cobrada pela sociedade. Nas três horas em que trocou o Aerolula pelo helicóptero, sobrevoou as áreas alagadas, não apenas de Florianópolis, mas do Vale do Itajaí.
E, em cima da hora, sob visível emoção, reconheceu que "aquela é a maior tragédia acontecida nos seus seis anos de governo". Liberou R$ 1,97 bilhão para socorrer as vítimas da enchente em Santa Catarina, no Espírito Santo, Minas e Rio de Janeiro e também para o socorro aos castigados pela seca no Nordeste. E está fazendo o que pode. Ou quase tudo. Ministros, secretários e demais figurões devem estar presentes para fiscalizar as operações de socorro às vítimas. Mas, a presença do presidente é insubstituível. E Lula não faltou ao dever da solidariedade.
No impulso, para não perder o rumo, o presidente deveria adiar para melhor ocasião a anunciada campanha publicitária com todos os cacoetes de jogada eleitoral para alavancar a candidatura da ministra Dilma Rousseff.
O governo embarcou na fórmula simplista de estimular o povo a gastar o dinheiro que tem no bolso para não paralisar o giro do consumo, no modelito do moto-contínuo: se a população não comprar o que precisa ou deseja – do rádio a televisão, ao computador e até o automóvel a preço de liquidação – as fábricas reduzem o ritmo de produção, despedem empregados e a crise acompanha a retração.
É impactante o mote da campanha que vai ganhar espaço no plano oficial: o mundo aprendeu a confiar no Brasil, e o Brasil confia nos brasileiros.
Mas, a campanha não pode ser levada à população de Santa Catarina, aos milhares sem casa, que perderam tudo e não sabem como recomeçar a vida, sem que pareça um deboche.
E se não pode ser lançada em Santa Catarina, também não deve ser no resto do país, para respeitar o sentimento de solidariedade do povo brasileiro.
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