Raymundo Costa
DEU EM VALOR ECONÔMICO
Entre os perseguidos do regime que hoje podem ser candidatos a presidente da República está o governador de São Paulo, José Serra. Dirigente da União Nacional dos Estudantes (UNE) em 1964, no golpe militar, ele teve de se exilar no Chile, mas certamente não esperava que 14 anos se passariam até que retornasse ao país e à política.
Qualquer plano imediato de retorno foi interrompido naquele 13 de dezembro de 1968, quando o regime editou o AI-5. Os brasileiros que se encontravam em Santiago, a capital chilena, então um refúgio seguro para exilados de várias partes do continente, já aguardavam o recrudescimento do regime, mas a notícia foi particularmente marcante para José Serra. "Para mim, a notícia chegou num momento péssimo: eu estava de cama, com febre tifóide intensa, doença de incidência relativamente elevada naquela época na região da capital chilena", descreveu ao Valor.
Ele sentia uma "forte e ininterrupta dor de cabeça, febre elevada, necessidade de permanecer imobilizado na cama" e tomava o que classifica hoje de "doses cavalares de um antibiótico enjoativo". Quem lhe transmitiu a má notícia foi a economista Maria da Conceição Tavares, na época funcionária da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal). O governador de São Paulo dá a impressão de ainda sentir o mau humor com que ouviu as palavras dela: "Pareceu-me mais verdadeiro do que nunca aquele aforismo pessimista: toda desgraça é pouca", diz Serra, com acidez.
"Eu havia acabado de concluir o mestrado em economia pela Universidade do Chile, tinha sido contratado pela faculdade, estava casado fazia cerca de um ano e minha mulher estava grávida. Já estava exilado desde 1964 - era o único estudante exilado naquela época, por causa de uma condenação absurda da Justiça Militar, baseada em "provas" forjadas. Mesmo assim, planejava voltar para o Brasil em algum momento de 1969."
Plano que o governador teve de adiar até 1978. Durante algum período ele ainda permaneceu no Chile, mas o sangrento golpe militar do general Augusto Pinochet o levou à prisão e, depois, a uma fuga providencial - era um nome marcado para morrer.
"Num segundo, enquanto a Conceição, a um par de metros da minha cama, me relatava o que havia acontecido, percebi que ficaria ainda muito mais tempo no exterior."
Segundo Serra, com a doença, ocorreu algo raro: depois de recuperado, semanas depois, ela voltou, apesar de o médico ter dito que a probabilidade de recidiva era de 1%. "Foi o efeito do AI-5, pensei, em meio às novas dores de cabeça e da febre de 40 graus."
DEU EM VALOR ECONÔMICO
Entre os perseguidos do regime que hoje podem ser candidatos a presidente da República está o governador de São Paulo, José Serra. Dirigente da União Nacional dos Estudantes (UNE) em 1964, no golpe militar, ele teve de se exilar no Chile, mas certamente não esperava que 14 anos se passariam até que retornasse ao país e à política.
Qualquer plano imediato de retorno foi interrompido naquele 13 de dezembro de 1968, quando o regime editou o AI-5. Os brasileiros que se encontravam em Santiago, a capital chilena, então um refúgio seguro para exilados de várias partes do continente, já aguardavam o recrudescimento do regime, mas a notícia foi particularmente marcante para José Serra. "Para mim, a notícia chegou num momento péssimo: eu estava de cama, com febre tifóide intensa, doença de incidência relativamente elevada naquela época na região da capital chilena", descreveu ao Valor.
Ele sentia uma "forte e ininterrupta dor de cabeça, febre elevada, necessidade de permanecer imobilizado na cama" e tomava o que classifica hoje de "doses cavalares de um antibiótico enjoativo". Quem lhe transmitiu a má notícia foi a economista Maria da Conceição Tavares, na época funcionária da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal). O governador de São Paulo dá a impressão de ainda sentir o mau humor com que ouviu as palavras dela: "Pareceu-me mais verdadeiro do que nunca aquele aforismo pessimista: toda desgraça é pouca", diz Serra, com acidez.
"Eu havia acabado de concluir o mestrado em economia pela Universidade do Chile, tinha sido contratado pela faculdade, estava casado fazia cerca de um ano e minha mulher estava grávida. Já estava exilado desde 1964 - era o único estudante exilado naquela época, por causa de uma condenação absurda da Justiça Militar, baseada em "provas" forjadas. Mesmo assim, planejava voltar para o Brasil em algum momento de 1969."
Plano que o governador teve de adiar até 1978. Durante algum período ele ainda permaneceu no Chile, mas o sangrento golpe militar do general Augusto Pinochet o levou à prisão e, depois, a uma fuga providencial - era um nome marcado para morrer.
"Num segundo, enquanto a Conceição, a um par de metros da minha cama, me relatava o que havia acontecido, percebi que ficaria ainda muito mais tempo no exterior."
Segundo Serra, com a doença, ocorreu algo raro: depois de recuperado, semanas depois, ela voltou, apesar de o médico ter dito que a probabilidade de recidiva era de 1%. "Foi o efeito do AI-5, pensei, em meio às novas dores de cabeça e da febre de 40 graus."
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