Luiz Carlos Mendonça de Barros
DEU NA FOLHA DE S. PAULO
Se enfrentar as empresas for a escolha do governo, os resultados serão desastrosos, e o ajuste, muito mais difícil
A CRISE econômica chegou ao mercado de trabalho no Brasil antes do esperado pelos analistas. A provável eliminação de mais de 600 mil postos formais em dezembro jogou um balde de água fria no otimismo do governo Lula e surpreendeu o mercado.
Muito divertida a expressão facial do ministro José Múcio Monteiro (Relações Institucionais) diante das câmeras de televisão ao anunciar que, apesar do tombo, o governo mantém sua previsão de crescimento do PIB de 4% para este ano.
Já outro ministro -o do Trabalho, Carlos Lupi-, comentando os dados de emprego em dezembro, mostrava claramente sua decepção com esse número. Gaguejando, disse que os empresários são os verdadeiros responsáveis pelas demissões e reviveu a marolinha de Lula na imagem da "espuma". Seguia o padrão petista de sempre arranjar, fora do governo, um responsável pelos problemas.
Essas duas reações, se mantidas, podem ser muito perigosas para o governo ao longo deste ano. A primeira reflete claramente a forma irresponsável com que Brasília vem tratando a crise econômica que atinge hoje todas as economias do mundo. Em vez de enfrentá-la de forma consistente, reconhecendo que o Brasil também será afetado, Lula e seus liderados optaram por um discurso ufanista e irrealista.
A deterioração do emprego no Brasil estava contratada a partir do agravamento da crise dos Estados Unidos, em setembro último. O que surpreendeu foi a rapidez e a intensidade do impacto. Para mim, esse é um sinal evidente de que as empresas brasileiras compreenderam muito bem a virada do cenário econômico e se anteciparam.
A segunda reação, explicitada pelo ministro do Trabalho, mostra que o governo ainda não entendeu a complexidade do ajuste que vamos viver neste ano. É preciso aceitar que haverá uma redução importante na taxa de crescimento da economia, independentemente das medidas anticíclicas tomadas pelo governo. Essas medidas são importantes para diluir no tempo a desaceleração e permitir certa dose de racionalidade no ajuste que as empresas e os consumidores terão de realizar. Ações com método e inteligência podem minimizar os efeitos negativos da crise e restaurar as possibilidades de crescimento, talvez para algo próximo de 3% ao ano já no quarto trimestre. Mesmo assim, o crescimento médio do ano será baixo, provavelmente inferior a 2%. Durante alguns meses, o governo terá de conviver com estatísticas econômicas menos favoráveis, mas os frutos serão colhidos um pouco mais à frente, e o Brasil poderá terminar 2009 em um restrito grupo de economias com desempenho ainda positivo.
Mas se o caminho escolhido for o de tentar chegar a um crescimento de 4% ao ano a qualquer custo, inclusive via confronto com as empresas, os resultados serão desastrosos e o ajuste, muito mais difícil. Para o governo, é preferível voltar atrás o quanto antes em uma posição que se mostra errada do que transformá-la em um problema que terá de ser enfrentado por um tempo mais longo. Por falar em juízo, espero que os membros do Copom decidam, na próxima semana, por uma redução agressiva -pelo menos 0,75 ponto percentual- da taxa Selic. Os últimos números da inflação mostram que o fantasma do aumento dos preços por conta da desvalorização do real não passou de uma alucinação de uns poucos analistas. E a queda da atividade já contratada abre um espaço de ociosidade na economia suficientemente grande para permitir a redução de 3% na taxa de juros até o final do primeiro semestre.
Luiz Carlos Mendonça De Barros , 66, engenheiro e economista, é economista-chefe da Quest Investimentos. Foi presidente do BNDES e ministro das Comunicações (governo Fernando Henrique Cardoso).
DEU NA FOLHA DE S. PAULO
Se enfrentar as empresas for a escolha do governo, os resultados serão desastrosos, e o ajuste, muito mais difícil
A CRISE econômica chegou ao mercado de trabalho no Brasil antes do esperado pelos analistas. A provável eliminação de mais de 600 mil postos formais em dezembro jogou um balde de água fria no otimismo do governo Lula e surpreendeu o mercado.
Muito divertida a expressão facial do ministro José Múcio Monteiro (Relações Institucionais) diante das câmeras de televisão ao anunciar que, apesar do tombo, o governo mantém sua previsão de crescimento do PIB de 4% para este ano.
Já outro ministro -o do Trabalho, Carlos Lupi-, comentando os dados de emprego em dezembro, mostrava claramente sua decepção com esse número. Gaguejando, disse que os empresários são os verdadeiros responsáveis pelas demissões e reviveu a marolinha de Lula na imagem da "espuma". Seguia o padrão petista de sempre arranjar, fora do governo, um responsável pelos problemas.
Essas duas reações, se mantidas, podem ser muito perigosas para o governo ao longo deste ano. A primeira reflete claramente a forma irresponsável com que Brasília vem tratando a crise econômica que atinge hoje todas as economias do mundo. Em vez de enfrentá-la de forma consistente, reconhecendo que o Brasil também será afetado, Lula e seus liderados optaram por um discurso ufanista e irrealista.
A deterioração do emprego no Brasil estava contratada a partir do agravamento da crise dos Estados Unidos, em setembro último. O que surpreendeu foi a rapidez e a intensidade do impacto. Para mim, esse é um sinal evidente de que as empresas brasileiras compreenderam muito bem a virada do cenário econômico e se anteciparam.
A segunda reação, explicitada pelo ministro do Trabalho, mostra que o governo ainda não entendeu a complexidade do ajuste que vamos viver neste ano. É preciso aceitar que haverá uma redução importante na taxa de crescimento da economia, independentemente das medidas anticíclicas tomadas pelo governo. Essas medidas são importantes para diluir no tempo a desaceleração e permitir certa dose de racionalidade no ajuste que as empresas e os consumidores terão de realizar. Ações com método e inteligência podem minimizar os efeitos negativos da crise e restaurar as possibilidades de crescimento, talvez para algo próximo de 3% ao ano já no quarto trimestre. Mesmo assim, o crescimento médio do ano será baixo, provavelmente inferior a 2%. Durante alguns meses, o governo terá de conviver com estatísticas econômicas menos favoráveis, mas os frutos serão colhidos um pouco mais à frente, e o Brasil poderá terminar 2009 em um restrito grupo de economias com desempenho ainda positivo.
Mas se o caminho escolhido for o de tentar chegar a um crescimento de 4% ao ano a qualquer custo, inclusive via confronto com as empresas, os resultados serão desastrosos e o ajuste, muito mais difícil. Para o governo, é preferível voltar atrás o quanto antes em uma posição que se mostra errada do que transformá-la em um problema que terá de ser enfrentado por um tempo mais longo. Por falar em juízo, espero que os membros do Copom decidam, na próxima semana, por uma redução agressiva -pelo menos 0,75 ponto percentual- da taxa Selic. Os últimos números da inflação mostram que o fantasma do aumento dos preços por conta da desvalorização do real não passou de uma alucinação de uns poucos analistas. E a queda da atividade já contratada abre um espaço de ociosidade na economia suficientemente grande para permitir a redução de 3% na taxa de juros até o final do primeiro semestre.
Luiz Carlos Mendonça De Barros , 66, engenheiro e economista, é economista-chefe da Quest Investimentos. Foi presidente do BNDES e ministro das Comunicações (governo Fernando Henrique Cardoso).
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