Newton Carlos
Jornalista
DEU NO CORREIO BRAZILIENSE
O que está acontecendo com Cuba? Falou-se muito da saúde precária de Fidel Castro e das incertezas que recaíam nas costas de Raúl Castro. Mas, nesse terreno, as especulações se esmaecem. Raúl parece de pé, sob a guarda sobretudo do estamento militar, criação sua. O Partido Comunista, que faria dupla com as forças armadas como as duas únicas instituições que funcionam em Cuba, seria hoje um ninho de folhas secas onde se abrigam burocratas agarrados a privilégios. Diz-se que os dois expurgados de cargos na direção do país, o ex-czar da economia e o apelidado de Talibã cubano, em razão de seu radicalismo, fizeram autocríticas, procurando permanecer no partido, com a caixa de doçuras ao alcance.
Uma da versões é a de que não se comportaram como bons militantes, falando com empresários estrangeiros em telefones grampeados. Há outra história, bem mais emocionante. Em artigo na Newsweek, dos Estados Unidos, o ex-ministro do Exterior do México, Jorge Castañeda, sugere que os dois conspiravam contra Raúl em parceria com Hugo Chávez, da Venezuela. Temiam, ou temem, segundo Castañeda, que Raúl não controle “o fluxo dos acontecimentos” depois da morte do irmão Fidel. O próprio autor do artigo, diante da enxurrada de reações em contrário, tratou de minimizá-lo, dizendo que não era possível confirmar “substancialmente” seu conteúdo.
Causou estranheza, no entanto, o empenho de Chávez em desmenti-lo pessoalmente. Afloram críticas internas. O Juventude Rebelde, jornal da juventude comunista, foi duro em ataques à abertura na agricultura, pedra de toque das tão faladas “reformas estruturais” de Raúl.
Os que visitam Cuba se impressionam com a qualidade do sistema educacional em contraste com a insuficiência de oportunidades profissionais em sintonia com os graus de formações.
Engenheiros trabalhando como motoristas de táxis, médicos em portarias de hoteis etc. Isso teria consequências políticas? O pragmatismo do governo Obama, em relação a Cuba e em associação com a maioria democrata no Congresso americano, tem um item pouco ressaltado, mas no mínimo curioso. Está em tramitação parlamentar medida suspendendo todas as restrições de viagens a Cuba. O que significará, se aprovada, abrir aos americanos um paraíso turístico a preços baixíssimos. A previsão é de enchente e a ideia, arquitetada no Departamento de Estado, é a de que um grande fluxo de visitantes fortalecerá o assédio ao regime cubano.
Antes é preciso ultrapassar o estágio da total reinserção de Cuba nas Américas.
O presidente da Costa Rica, Oscar Árias, anunciou o “pleno” restabelecimento da relações com Cuba dizendo que se trata de um país latino-americano “muito mais próximo do que a China culturalmente e geograficamente”. A decisão de Árias, que pouco antes reconhecera o regime comunista chinês, tem grande importância simbólica. Costa Rica foi base de operações de inteligência e diplomáticas dos Estados Unidos na guerra dos anos 1980 contra os sandinistas da Nicarágua. O embaixador americano em San José falava tanto da necessidade de “extirpar o câncer do comunismo” que acabou sendo apelidado de “el oncólogo”.
Costa Rica também foi peça fundamental na operação de desmonte do Grupo de Contadora, constituído de países ao sul do Rio Grande que se reuniam na ilha panamenha do mesmo nome com a disposição de buscar soluções latino-americanas para problemas latino-americanos.
Prioridade para a guerra contra os sandinistas, com Costa Rica criando bloqueios que serviam a interesses americanos. Mas não se desfez o espírito de Contadora, pano de fundo de várias instâncias unicamente latino-americanas, como a União dos países da América do Sul e o Grupo do Rio, no qual Cuba foi admitida. A “reinserção” não se limita à América Latina. Esteve em Havana o comissário europeu para o desenvolvimento e ajuda humanitária, Louis Michel. Ficou decidido que será restabelecido em setembro o diálogo “pleno” entre Cuba e União Europeia.
Jornalista
DEU NO CORREIO BRAZILIENSE
O que está acontecendo com Cuba? Falou-se muito da saúde precária de Fidel Castro e das incertezas que recaíam nas costas de Raúl Castro. Mas, nesse terreno, as especulações se esmaecem. Raúl parece de pé, sob a guarda sobretudo do estamento militar, criação sua. O Partido Comunista, que faria dupla com as forças armadas como as duas únicas instituições que funcionam em Cuba, seria hoje um ninho de folhas secas onde se abrigam burocratas agarrados a privilégios. Diz-se que os dois expurgados de cargos na direção do país, o ex-czar da economia e o apelidado de Talibã cubano, em razão de seu radicalismo, fizeram autocríticas, procurando permanecer no partido, com a caixa de doçuras ao alcance.
Uma da versões é a de que não se comportaram como bons militantes, falando com empresários estrangeiros em telefones grampeados. Há outra história, bem mais emocionante. Em artigo na Newsweek, dos Estados Unidos, o ex-ministro do Exterior do México, Jorge Castañeda, sugere que os dois conspiravam contra Raúl em parceria com Hugo Chávez, da Venezuela. Temiam, ou temem, segundo Castañeda, que Raúl não controle “o fluxo dos acontecimentos” depois da morte do irmão Fidel. O próprio autor do artigo, diante da enxurrada de reações em contrário, tratou de minimizá-lo, dizendo que não era possível confirmar “substancialmente” seu conteúdo.
Causou estranheza, no entanto, o empenho de Chávez em desmenti-lo pessoalmente. Afloram críticas internas. O Juventude Rebelde, jornal da juventude comunista, foi duro em ataques à abertura na agricultura, pedra de toque das tão faladas “reformas estruturais” de Raúl.
Os que visitam Cuba se impressionam com a qualidade do sistema educacional em contraste com a insuficiência de oportunidades profissionais em sintonia com os graus de formações.
Engenheiros trabalhando como motoristas de táxis, médicos em portarias de hoteis etc. Isso teria consequências políticas? O pragmatismo do governo Obama, em relação a Cuba e em associação com a maioria democrata no Congresso americano, tem um item pouco ressaltado, mas no mínimo curioso. Está em tramitação parlamentar medida suspendendo todas as restrições de viagens a Cuba. O que significará, se aprovada, abrir aos americanos um paraíso turístico a preços baixíssimos. A previsão é de enchente e a ideia, arquitetada no Departamento de Estado, é a de que um grande fluxo de visitantes fortalecerá o assédio ao regime cubano.
Antes é preciso ultrapassar o estágio da total reinserção de Cuba nas Américas.
O presidente da Costa Rica, Oscar Árias, anunciou o “pleno” restabelecimento da relações com Cuba dizendo que se trata de um país latino-americano “muito mais próximo do que a China culturalmente e geograficamente”. A decisão de Árias, que pouco antes reconhecera o regime comunista chinês, tem grande importância simbólica. Costa Rica foi base de operações de inteligência e diplomáticas dos Estados Unidos na guerra dos anos 1980 contra os sandinistas da Nicarágua. O embaixador americano em San José falava tanto da necessidade de “extirpar o câncer do comunismo” que acabou sendo apelidado de “el oncólogo”.
Costa Rica também foi peça fundamental na operação de desmonte do Grupo de Contadora, constituído de países ao sul do Rio Grande que se reuniam na ilha panamenha do mesmo nome com a disposição de buscar soluções latino-americanas para problemas latino-americanos.
Prioridade para a guerra contra os sandinistas, com Costa Rica criando bloqueios que serviam a interesses americanos. Mas não se desfez o espírito de Contadora, pano de fundo de várias instâncias unicamente latino-americanas, como a União dos países da América do Sul e o Grupo do Rio, no qual Cuba foi admitida. A “reinserção” não se limita à América Latina. Esteve em Havana o comissário europeu para o desenvolvimento e ajuda humanitária, Louis Michel. Ficou decidido que será restabelecido em setembro o diálogo “pleno” entre Cuba e União Europeia.
Um comentário:
Qual o ponto de vista deste articulista sobre OBAMA ter considerado Cuba fora das Américas, na Cúpula das Américas?
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