quarta-feira, 22 de abril de 2009

Certezas Presidenciais

Marcos Coimbra
Sociólogo e presidente do Instituto Vox Populi
DEU NO CORREIO BRAZILIENSE


“Desde quando começaram a sair na mídia especulações sobre o interesse de Serra em tê-lo na chapa como vice, Aécio diz que não pretende o papel. Nada do que fez até agora e nada do que faz aponta nessa direção.”

Consta que o presidente Lula tem hoje três certezas. Uma, que a crise econômica internacional, no fim das contas, vai afetar pouco o Brasil. Duas, que a ministra Dilma vai ganhar a eleição em 2010. Três, que Aécio vai ser o candidato a vice na chapa de Serra.

Se ele fosse apenas um ator político, essas opiniões teriam o mesmo valor das de qualquer outro. Ou seja, muito pouco, enquanto avaliações isentas e objetivas. Não se espera que políticos e, especialmente, dirigentes partidários, falem como bons analistas, mesmo quando o são. Quando se manifestam, fazem sempre política, dizendo as coisas que mais lhes parecem convenientes, as que mais os aproximam de suas metas.

Como Lula, além de dirigente de um partido, é nosso presidente, suas palavras costumam ser ouvidas com mais consideração. Agora, então, que está na crista da onda, depois que virou o “cara” do Obama, há quem o ouça com o respeito devido a um oráculo. Tudo que fala parece, a essas pessoas, a emanação de uma verdade quase transcendental.

Mas, quanto será que valem as certezas presidenciais?

A primeira tem, a esta altura, o mesmo valor que tinha frase idêntica dita há nove meses. Foi quando a crise assustava o mundo, lá em setembro do ano passado, que Lula criou a tese da marolinha.

Devem ser os mesmos auxiliares que agora dizem ao presidente que a crise está passando, que o pior já aconteceu e que, daqui para frente, tudo só vai melhorar. Quem achava que o Brasil estaria protegido dela, por que estaria preocupado agora?

Lula criou para si o papel de voz do otimismo, no qual se sente muito à vontade. Como tem custo quase zero (pois ninguém vai se aborrecer com ele por isso), é natural que insista na sua visão rósea do futuro, sem se constranger com nenhum dado de realidade. Para ele, não há problema algum em dizer que estaremos crescendo a pleno vapor ano que vem.

A segunda certeza do presidente é idêntica à que todo político tem quando vai disputar uma eleição. Por incrível que pareça a uma pessoa que não vive o dia a dia da política, não há um só que não pense que vai ganhar. Todos estão convencidos disso, dos mais bem colocados aos últimos nas pesquisas, às vezes sem sequer excluir microcandidatos inteiramente irrelevantes.

Se não pensassem assim, por que razão concorreriam? É verdade que existem candidaturas “de atitude”, lançadas para defender teses e marcar posições. No fundo, no fundo, porém, até essas fantasiam com a hipótese de vencer.

No Brasil, um dos maiores responsáveis por essa mitologia foi Fernando Collor. Até hoje se ouve, no meio político, o argumento de que “se o Collor ganhou, começando com 3% nas pesquisas, por que eu não posso ganhar?”.

Lula está convencido que Dilma vai ganhar por não ter alternativa a essa convicção. Nela, nada há de avaliação realista das chances eleitorais de sua candidata e nem teria que haver, pois não é isso que se espera dele. Tem algum valor, portanto, essa segunda certeza do presidente?
A terceira presume que Lula conhece tão bem o PSDB quanto o PT e os outros partidos com os quais convive. Pressupõe, ainda, que é capaz de saber o que pensa Aécio no íntimo.

Desde quando começaram a sair na mídia especulações sobre o interesse de Serra em tê-lo na chapa como vice, Aécio diz que não pretende o papel. Nada do que fez até agora e nada do que faz aponta nessa direção. Ao contrário, tudo indica que não é isso que ele quer.

Das três certezas, a primeira é pro forma, a segunda apenas expressa um desejo e a terceira parece errada.

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