segunda-feira, 4 de maio de 2009

200 dão adeus a Boal ao som de Chico

Mário Magalhães
Da Sucursal do Rio
DEU NA FOLHA DE S. PAULO

Cerimônia antes de cremação de dramaturgo teve execução de "Meu Caro Amigo", de Francis Hime e Chico Buarque

Criador do teatro do oprimido morreu anteontem; cremação aconteceu no cemitério São Francisco Xavier, no Rio


Veja o vídeo de “meu caro amigo”

http://www.youtube.com/watch?v=EbVm1EXbAuA

Um violinista executou "Meu Caro Amigo" e o ator Celso Frateschi leu um trecho do musical "Arena Conta Zumbi" na despedida ao dramaturgo, encenador e pensador do teatro Augusto Boal, no começo da tarde de ontem, no cemitério São Francisco Xavier (zona portuária do Rio).

Boal morreu aos 78 anos na madrugada do sábado, de complicações decorrentes de leucemia. Seu corpo seria cremado após a cerimônia em sua homenagem, da qual participaram em torno de 200 pessoas.

"Meu Caro Amigo", de Chico Buarque e Francis Hime, foi composta (ou "endereçada") a Boal na década de 1970, quando ele se encontrava no exílio.

A peça "Arena Conta Zumbi" foi escrita por Boal com Gianfrancesco Guarnieri e musicada por Edu Lobo. Boal a dirigiu meses depois do golpe de Estado que instaurou a ditadura militar no Brasil em 1964.

Ao comentar a trajetória de Boal, amigos seus do teatro, da cultura e da política avaliaram a envergadura histórica daquele que possivelmente foi o homem de teatro brasileiro de maior projeção no exterior.

Na década de 1970, ele se tornou conhecido mundo afora pela criação do teatro do oprimido, sistema ou metodologia que conjuga arte e ação social.

"Boal é o único brasileiro que criou um sistema ao nível de Brecht [dramaturgo alemão], Stanislavsky [diretor russo] e Grotowski [diretor polonês]", afirmou o cineasta Orlando Senna. "É o cara mais importante do Brasil lá fora, o mais traduzido e mais inspirador", disse Celso Frateschi, ex-presidente da Funarte (Fundação Nacional de Artes). Para o atual presidente da instituição, o ator Sérgio Mamberti, "Boal foi um libertário, um dos grandes brasileiros do século passado".

O poeta Ferreira Gullar, colunista da Folha, conviveu com Boal quando o amigo dirigiu o show "Opinião", um dos primeiros espetáculos a contestar o regime militar. "Boal era um Quixote pelo mundo todo a pregar que o teatro deveria dar voz aos oprimidos."

Um dos dirigentes do MST, João Pedro Stedile, contou que o movimento mantém dezenas de grupos de teatro do oprimido. "Boal mesclava arte e política sem maniqueísmo, mas conscientizando", comentou.

"Boal lutava pela deselitização do teatro", disse o sambista Martinho da Vila. Na opinião do diretor teatral Amir Haddad, um dos legados de Boal é a ideia de que "ser artista e criador não é privilégio, é direito da cidadania". Para a atriz Renata Sorrah, o centro do pensamento de Boal era a noção de que "o teatro é modificador".

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