"Se o mal do Brasil fosse esse, o Brasil não teria mal"
( Lula, a propósito da farra de passagens aéreas no Congresso)
A cara do cara
“Ainda vou criar o Dia da Hipocrisia”, debochou Lula do auê em torno do uso ilegal por parlamentares de passagens aéreas pagas pelo Congresso . Tolice. O “Dia da Hipocrisia” é todo dia. E Lula, que chegou ao poder apontando o Congresso como reduto de 300 picaretas, é forte candidato a sair de lá como um caro símbolo da hipocrisia nacional.
Fernando Henrique Cardoso não sugeriu certa vez que esquecessem parte do que escrevera no passado? Pois bem: ou Lula retira sua famosa crítica aos picaretas do Congresso que “só pensam nos seus próprios interesses” ou escuta calado que ficou com a cara deles. O poder cobra um preço alto aos que o exercem. Para governar, Lula escolheu se aliar aos picaretas do Congresso, satisfazer seus desejos e até a sair em sua defesa. Foi o que fez novamente na semana passada sem trair o menor sinal de vergonha.
Depois de o Senado e a Câmara dos Deputados reconhecerem que a esbórnia por lá estava demais, e de anunciarem algumas providências para contê-la, surgiu Lula a destilar um monte de sandices. A primeira, por esperteza, a seu favor: “Não acho um crime um deputado dar uma passagem para um dirigente sindical ir a Brasília”. Ele já deu. A segunda em favor dos seus sócios: “Graças a Deus, nunca levei nenhum filho meu para a Europa. Mas um deputado levar a mulher para Brasília, qual é o crime”?
O crime é o seguinte, presidente: no Direito privado, tudo o que a lei não proíbe pode ser feito. No Direito público, só pode ser feito o que a lei expressamente permite. E a lei não permite o uso por particulares de passagens aéreas fornecidas pelo Congresso a senadores e deputados para viagens regulares entre Brasília e seus estados — com uma passadinha no Rio de Janeiro, é claro, que ninguém é de ferro. Quem paga as passagens somos nós, pagadores de impostos. Entendeu, presidente? Ou quer que desenhe?
Pouco importa que o desrespeito à lei fosse antigo. A antiguidade não desidrata o desrespeito nem absolve o crime cometido. Senadores e deputados se dizem perplexos com a reação da sociedade às suas velhacarias. Coitadinhos... Morro de pena deles. Não se deram conta a tempo de que a sociedade está mudando — mais devagar do que seria desejável, mas está. E que agora presta atenção ao que antes desprezava. Levem a internet a sério, seus estúpidos. Metade — ou mais — dos brasileiros está ligada nela.
Lula assegurou seu lugar na História por uma série de bons motivos. Evitou inovar em matéria de política econômica. O país cresceu. Pôs os pobres em definitivo na agenda nacional. E se conformou com os dois mandatos consecutivos previstos na Constituição. Mas é fato que também passará à História por ter sido um presidente tolerante, relapso e até mesmo cúmplice em episódios que só serviram para aviltar a política e seus principais atores. Exemplos? Poupem-me. Eles existem a mancheias.
Sem pressa alguma - Vinculada ao presidente da República, a Comissão de Ética Pública tem como missão “zelar pelo cumprimento do Código de Conduta da Alta Administração Federal, orientar as autoridades para que se conduzam de acordo com suas normas e inspirar assim o respeito no serviço público”. Seus sete membros se reúnem mensalmente e produzem uma ata. Sete, não. Em junho de 2007 só eram cinco. Do ano passado para cá, quatro — sendo que um deles, com a saúde frágil, é consultado por telefone. As atas de 2009 permanecem inéditas até aqui. Cabe ao presidente da República indicar os membros da comissão. Lula não tem a menor pressa para preencher as vagas abertas.
A cara do cara
“Ainda vou criar o Dia da Hipocrisia”, debochou Lula do auê em torno do uso ilegal por parlamentares de passagens aéreas pagas pelo Congresso . Tolice. O “Dia da Hipocrisia” é todo dia. E Lula, que chegou ao poder apontando o Congresso como reduto de 300 picaretas, é forte candidato a sair de lá como um caro símbolo da hipocrisia nacional.
Fernando Henrique Cardoso não sugeriu certa vez que esquecessem parte do que escrevera no passado? Pois bem: ou Lula retira sua famosa crítica aos picaretas do Congresso que “só pensam nos seus próprios interesses” ou escuta calado que ficou com a cara deles. O poder cobra um preço alto aos que o exercem. Para governar, Lula escolheu se aliar aos picaretas do Congresso, satisfazer seus desejos e até a sair em sua defesa. Foi o que fez novamente na semana passada sem trair o menor sinal de vergonha.
Depois de o Senado e a Câmara dos Deputados reconhecerem que a esbórnia por lá estava demais, e de anunciarem algumas providências para contê-la, surgiu Lula a destilar um monte de sandices. A primeira, por esperteza, a seu favor: “Não acho um crime um deputado dar uma passagem para um dirigente sindical ir a Brasília”. Ele já deu. A segunda em favor dos seus sócios: “Graças a Deus, nunca levei nenhum filho meu para a Europa. Mas um deputado levar a mulher para Brasília, qual é o crime”?
O crime é o seguinte, presidente: no Direito privado, tudo o que a lei não proíbe pode ser feito. No Direito público, só pode ser feito o que a lei expressamente permite. E a lei não permite o uso por particulares de passagens aéreas fornecidas pelo Congresso a senadores e deputados para viagens regulares entre Brasília e seus estados — com uma passadinha no Rio de Janeiro, é claro, que ninguém é de ferro. Quem paga as passagens somos nós, pagadores de impostos. Entendeu, presidente? Ou quer que desenhe?
Pouco importa que o desrespeito à lei fosse antigo. A antiguidade não desidrata o desrespeito nem absolve o crime cometido. Senadores e deputados se dizem perplexos com a reação da sociedade às suas velhacarias. Coitadinhos... Morro de pena deles. Não se deram conta a tempo de que a sociedade está mudando — mais devagar do que seria desejável, mas está. E que agora presta atenção ao que antes desprezava. Levem a internet a sério, seus estúpidos. Metade — ou mais — dos brasileiros está ligada nela.
Lula assegurou seu lugar na História por uma série de bons motivos. Evitou inovar em matéria de política econômica. O país cresceu. Pôs os pobres em definitivo na agenda nacional. E se conformou com os dois mandatos consecutivos previstos na Constituição. Mas é fato que também passará à História por ter sido um presidente tolerante, relapso e até mesmo cúmplice em episódios que só serviram para aviltar a política e seus principais atores. Exemplos? Poupem-me. Eles existem a mancheias.
Sem pressa alguma - Vinculada ao presidente da República, a Comissão de Ética Pública tem como missão “zelar pelo cumprimento do Código de Conduta da Alta Administração Federal, orientar as autoridades para que se conduzam de acordo com suas normas e inspirar assim o respeito no serviço público”. Seus sete membros se reúnem mensalmente e produzem uma ata. Sete, não. Em junho de 2007 só eram cinco. Do ano passado para cá, quatro — sendo que um deles, com a saúde frágil, é consultado por telefone. As atas de 2009 permanecem inéditas até aqui. Cabe ao presidente da República indicar os membros da comissão. Lula não tem a menor pressa para preencher as vagas abertas.
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