domingo, 17 de maio de 2009

“Hoje existe o coronelismo urbano”

ENTREVISTA » ANDRÉ HERÁCLIO DO RÊGO
DEU NO JORNAL DO COMMERCIO (PE)

O coronelismo existe desde o início da colonização brasileira. Esta é uma das ideias defendidas por André Heráclio do Rêgo em seus estudos. Em sua conversa com a reportagem do JC, o autor de Família e Coronelismo no Brasil falou ainda sobre as relações deste com outros movimentos, como o cangaceirismo, e fez um paralelo dos antigos com os atuais coronéis.

JORNAL DO COMMERCIO – Qual a importância dos portugueses no surgimento do coronelismo no Brasil?

ANDRÉ HERÁCLIO – O coronelismo faz parte de um fenômeno mais amplo, que seria o mandonismo, que se manifestou no Brasil desde o primeiro momento da colonização. Os portugueses, objeto de tantas piadas de nossa parte, têm uma visão de mundo maravilhosa. Foram por exemplo pioneiros na globalização, já que andaram nos cinco continentes, na privatização, pois montaram um sistema de capitanias hereditárias no Brasil. Eu diria que o coronelismo, de um modo mais abrangente, começaria daí, das capitanias hereditárias. Os donatários, que comandavam as capitanias, não tinham todos, mas quase quase todos os poderes do rei. E nas suas terras, ele era o juiz, o delegado, o prefeito. Isso no começo da colonização

JC – Que características principais do coronelismo?

HERÁCLIO – Ter família grande é uma característica, embora admita-se exceções. E a família grande não é só a família de sangue, são também os afilhados, os agregados, etc. Faz parte também a capacidade de liderança. E essa capacidade de liderança não é necessariamente territorial, não necessitava ser um dono de terra, podia ser um comerciante, um promotor, um padre... Veja que um exemplo de coronel é o Padre Cícero Romão Batista.

JC – Qual a relação do coronelismo com outros movimentos, como o cangaceirismo?

HERÁCLIO – Frederico Pernambucano de Mello passou bem essa relação da imagem do coronel e do cangaceiro. Em seu livro Guerreiros do Sol, ele disse que o cangaceiro era um coronel sem-terra. Outra coisa que os aproximam é o rótulo, a patente. Por outro lado eles tinham uma liderança muito importante. Lampião e Antônio Silvino não dominaram o Sertão só porque matavam e extorquiam, eles também tinham uma legião de seguidores e admiradores.

JC – Como é o coronelismo hoje em relação ao de meio século atrás?

HERÁCLIO – É semelhante na questão da liderança, da vontade de poder. Tem muita gente que gosta do poder, não pra ganhar dinheiro, mas pela simples vontade de ser poderoso. Mas existem diferenças. Os coronéis de hoje se “civilizaram”, eles são formados, alguns com pós-graduação e doutorado. E a forma de dominação é outra, muito mais sofisticada hoje em dia. Existem os meios de comunicação, os jornais, as rádios. Fala-se muito no coronelismo eletrônico e, mais além disso, existe o coronelismo urbano. O coronel se urbanizou.

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