José de Souza Martins
Faleceu e foi sepultada neste 5 de junho a Professora Paula Beiguelman, Professora Emérita da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, por onde se formou em Ciências Sociais. Paula foi incluída na lista dos professores cassados e aposentados compulsoriamente, em 1969, pela ditadura militar, com vencimentos proporcionais ao tempo de serviço, em consequência proibidos de lecionar em universidades públicas brasileiras. Nessa lista foram incluídos os Professores Florestan Fernandes, Fernando Henrique Cardoso, Octavio Ianni, José Arthur Gianotti, Bento Prado, Emília Viotti da Costa e Ada Natal Rodrigues. Ela retornaria à Faculdade com a decretação da anistia política, para se aposentar definitivamente pouco depois, desencantada com a escola que encontrou, muito diversa da de seu e do meu tempo.
A Heloisa e eu fomos alunos da Paula, como a chamávamos todos, lá na velha Faculdade da Rua Maria Antônia. Mantivemos contatos durante todos os anos que se seguiram à cassação, ela sempre firme nas suas inquietações nacionalistas, tema de vários dos artigos jornalísticos que escreveu nesse período. Esse fora e continuou sendo o tema de sua militância política, especialmente junto aos velhos militantes da campanha “O Petróleo é nosso”, que resultou na criação na Petrobrás por Getúlio Vargas.
Foi assistente do Professor Lourival Gomes Machado, a quem substituiu na Cadeira de Ciência Política quando ele assumiu o cargo de diretor da Unesco. Sua tese de doutorado foi sobre Teoria e Ação no Pensamento Abolicionista. Obteve duas livre-docências em Ciência Política, com a tese Contribuição à Teoria da Organização Política Brasileira e, mais adiante, com a tese sobre A Formação do Povo no Complexo Cafeeiro: aspectos políticos. Publicou os seguintes livros: Formação Política do Brasil (2 volumes), A Formação do Povo no Complexo Cafeeiro, O Pingo de Azeite: a instauração da ditadura, Companheiros de São Paulo: ontem e hoje; Pequenos Estudos de Ciência Política.
Paula fez parte de uma geração de mulheres que se tornaram as primeiras docentes da USP, em condições nem sempre fáceis porque adversas ao trabalho intelectual da mulher. Passou por uma grande decepção quando propôs o nome de Celso Furtado para examinador de uma de suas teses. Furtado era vorazmente lido pelos estudiosos e estudantes de ciências sociais na década de sessenta, por sua articulada interpretação da história do Brasil, particularmente no agitado ambiente intelectual da Rua Maria Antônia. Furtado aceitou o convite e na sessão pública de arguição da tese declarou que não a havia lido. Pediu à Paula que lhe fizesse um resumo oral do texto para que ele pudesse propor-lhe algumas questões. Na verdade, Furtado não se mostrou à altura nem da examinanda nem da instituição que o acolhia no que era para todos nós o soleníssimo salão nobre da Faculdade.
Paula foi notável pesquisadora. Conhecia a história do Brasil com grande erudição, não raro pela leitura direta de documentos. Desenvolveu um rico método próprio de reconstituição e explanação da história política e de compreensão de processo político. Aprendi muito com ela e sua metodologia de compreensão do presente no marco de uma história em curso. Suas aulas eram preciosidades de um artesanato intelectual fecundo, fundamentado e documentado, de pesquisadora minuciosa, que reconstituía os fatos até o sumo dos pequenos detalhes para descobrir neles as conexões de sentido que os remetiam para as grandes dimensões da história social e política, uma história ao mesmo tempo viva e significativa.
Faleceu e foi sepultada neste 5 de junho a Professora Paula Beiguelman, Professora Emérita da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, por onde se formou em Ciências Sociais. Paula foi incluída na lista dos professores cassados e aposentados compulsoriamente, em 1969, pela ditadura militar, com vencimentos proporcionais ao tempo de serviço, em consequência proibidos de lecionar em universidades públicas brasileiras. Nessa lista foram incluídos os Professores Florestan Fernandes, Fernando Henrique Cardoso, Octavio Ianni, José Arthur Gianotti, Bento Prado, Emília Viotti da Costa e Ada Natal Rodrigues. Ela retornaria à Faculdade com a decretação da anistia política, para se aposentar definitivamente pouco depois, desencantada com a escola que encontrou, muito diversa da de seu e do meu tempo.
A Heloisa e eu fomos alunos da Paula, como a chamávamos todos, lá na velha Faculdade da Rua Maria Antônia. Mantivemos contatos durante todos os anos que se seguiram à cassação, ela sempre firme nas suas inquietações nacionalistas, tema de vários dos artigos jornalísticos que escreveu nesse período. Esse fora e continuou sendo o tema de sua militância política, especialmente junto aos velhos militantes da campanha “O Petróleo é nosso”, que resultou na criação na Petrobrás por Getúlio Vargas.
Foi assistente do Professor Lourival Gomes Machado, a quem substituiu na Cadeira de Ciência Política quando ele assumiu o cargo de diretor da Unesco. Sua tese de doutorado foi sobre Teoria e Ação no Pensamento Abolicionista. Obteve duas livre-docências em Ciência Política, com a tese Contribuição à Teoria da Organização Política Brasileira e, mais adiante, com a tese sobre A Formação do Povo no Complexo Cafeeiro: aspectos políticos. Publicou os seguintes livros: Formação Política do Brasil (2 volumes), A Formação do Povo no Complexo Cafeeiro, O Pingo de Azeite: a instauração da ditadura, Companheiros de São Paulo: ontem e hoje; Pequenos Estudos de Ciência Política.
Paula fez parte de uma geração de mulheres que se tornaram as primeiras docentes da USP, em condições nem sempre fáceis porque adversas ao trabalho intelectual da mulher. Passou por uma grande decepção quando propôs o nome de Celso Furtado para examinador de uma de suas teses. Furtado era vorazmente lido pelos estudiosos e estudantes de ciências sociais na década de sessenta, por sua articulada interpretação da história do Brasil, particularmente no agitado ambiente intelectual da Rua Maria Antônia. Furtado aceitou o convite e na sessão pública de arguição da tese declarou que não a havia lido. Pediu à Paula que lhe fizesse um resumo oral do texto para que ele pudesse propor-lhe algumas questões. Na verdade, Furtado não se mostrou à altura nem da examinanda nem da instituição que o acolhia no que era para todos nós o soleníssimo salão nobre da Faculdade.
Paula foi notável pesquisadora. Conhecia a história do Brasil com grande erudição, não raro pela leitura direta de documentos. Desenvolveu um rico método próprio de reconstituição e explanação da história política e de compreensão de processo político. Aprendi muito com ela e sua metodologia de compreensão do presente no marco de uma história em curso. Suas aulas eram preciosidades de um artesanato intelectual fecundo, fundamentado e documentado, de pesquisadora minuciosa, que reconstituía os fatos até o sumo dos pequenos detalhes para descobrir neles as conexões de sentido que os remetiam para as grandes dimensões da história social e política, uma história ao mesmo tempo viva e significativa.
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