DEU EM O ESTADO DE S. PAULO
Líder deposto estuda pedir asilo à Nicarágua após fim de mandato
Ruth Costas, TEGUCIGALPA
O presidente deposto de Honduras, Manuel Zelaya, já pensa na possibilidade de sair da embaixada brasileira para exilar-se. A informação foi dada ao Estado por uma fonte próxima de Zelaya, que pediu anonimato.
A saída - que parece a alternativa mais provável caso não haja avanço na solução do impasse hondurenho - ocorreria em 27 de janeiro, quando termina o mandato de Zelaya e ele se torna uma espécie de "peso morto" na representação brasileira.
Segundo a fonte, entre os países que poderiam receber Zelaya está a Nicarágua - governada pelo esquerdista Daniel Ortega. O Brasil, por enquanto, não é cogitado, ainda segundo a fonte, "provavelmente por ser um país distante e caro".
À medida que as eleições gerais se aproximam, Zelaya está cada vez mais isolado. O governo de facto continua ameaçando os zelaystas o que, juntamente com a lembrança da violenta repressão dos últimos protestos, está levando muitos deles a desistir de sair às ruas.
Em entrevista ao Estado, o presidente deposto demonstrou um grande desapontamento com o fato de os EUA e outros países estarem dispostos a reconhecer as eleições - o que, na prática, legitima o golpe que o tirou do poder. "Essa manobra antidemocrática serve para encobrir os autores do golpe", afirmou Zelaya. Ontem, até o presidente da Costa Rica, Oscar Arias, mediador da crise, disse que aceitará a votação.
DESÂNIMO
Em Tegucigalpa, as manifestações de apoio a Zelaya nos últimos dias têm sido esporádicas. A Universidade Nacional Autônoma de Honduras foi tomada na quinta-feira por estudantes, numa tentativa de impedir a colocação de urnas no local.
Mas com muitos pontos da capital repletos de militares, simpatizantes de Zelaya não demonstravam muito empenho para organizar um grande protesto para amanhã.
Pelo contrário. O jornal El Libertador, zelaysta, trazia na capa um apelo do Comitê para a Defesa dos Direitos Humanos em Honduras (Codeh) para que a população não saia de casa no dia da votação. Segundo o Codeh, há "provas do funcionamento de centros de concentração paramilitares que planejam um massacre de mais de mil pessoas no domingo".
"Um líder da resistência foi morto no Departamento del Valle na segunda-feira e todos estamos recebendo ameaças", denunciou Eulógio Chávez, líder da associação de professores e membro da Resistência Democrática, que defende Zelaya.
Com relação às eleições, o presidente deposto preferiu não se manifestar a favor de nenhum partido, mas mesmo assim acabou envolvido na disputa. O esquerdista Partido Unificação Democrática, cuja plataforma também inclui a reforma da Constituição, rompeu com Zelaya para manter suas candidaturas, pois acreditava que o contrário poderia significar sua "morte política".
Dentro da embaixada, o número de simpatizantes de Zelaya é cada vez menor. Quando ele pediu abrigo, em 21 de setembro, estava acompanhado por 70 pessoas. No dia seguinte, havia 300 zelaystas no local. Hoje, há apenas 23 pessoas, segundo encarregado de negócios Francisco Catunda Resende.
A redução do número de "hóspedes" é resultado, em parte, dos esforços feitos por representantes brasileiros, que pretendiam melhorar as condições dentro da embaixada e aplacar as críticas de que o local estaria servindo de palanque político para o presidente deposto. "De fato, as condições estão muito melhores e boa parte das pessoas já está conseguindo dormir em sofás ou colchões infláveis", disse Catunda.
Os serviços administrativos e consulares estão sendo feitos na casa de Catunda. Com a eleição de um novo presidente em uma votação não reconhecida pelo Brasil, há incertezas sobre o que acontecerá com a embaixada brasileira. A princípio, o Brasil não deve manter relações diplomáticas com o novo governo. Segundo rumores, uma das possibilidades é que a embaixada seja fechada ou transformada em consulado ou escritório de interesses, para atender aos cerca de 500 brasileiros que vivem no país.
Líder deposto estuda pedir asilo à Nicarágua após fim de mandato
Ruth Costas, TEGUCIGALPA
O presidente deposto de Honduras, Manuel Zelaya, já pensa na possibilidade de sair da embaixada brasileira para exilar-se. A informação foi dada ao Estado por uma fonte próxima de Zelaya, que pediu anonimato.
A saída - que parece a alternativa mais provável caso não haja avanço na solução do impasse hondurenho - ocorreria em 27 de janeiro, quando termina o mandato de Zelaya e ele se torna uma espécie de "peso morto" na representação brasileira.
Segundo a fonte, entre os países que poderiam receber Zelaya está a Nicarágua - governada pelo esquerdista Daniel Ortega. O Brasil, por enquanto, não é cogitado, ainda segundo a fonte, "provavelmente por ser um país distante e caro".
À medida que as eleições gerais se aproximam, Zelaya está cada vez mais isolado. O governo de facto continua ameaçando os zelaystas o que, juntamente com a lembrança da violenta repressão dos últimos protestos, está levando muitos deles a desistir de sair às ruas.
Em entrevista ao Estado, o presidente deposto demonstrou um grande desapontamento com o fato de os EUA e outros países estarem dispostos a reconhecer as eleições - o que, na prática, legitima o golpe que o tirou do poder. "Essa manobra antidemocrática serve para encobrir os autores do golpe", afirmou Zelaya. Ontem, até o presidente da Costa Rica, Oscar Arias, mediador da crise, disse que aceitará a votação.
DESÂNIMO
Em Tegucigalpa, as manifestações de apoio a Zelaya nos últimos dias têm sido esporádicas. A Universidade Nacional Autônoma de Honduras foi tomada na quinta-feira por estudantes, numa tentativa de impedir a colocação de urnas no local.
Mas com muitos pontos da capital repletos de militares, simpatizantes de Zelaya não demonstravam muito empenho para organizar um grande protesto para amanhã.
Pelo contrário. O jornal El Libertador, zelaysta, trazia na capa um apelo do Comitê para a Defesa dos Direitos Humanos em Honduras (Codeh) para que a população não saia de casa no dia da votação. Segundo o Codeh, há "provas do funcionamento de centros de concentração paramilitares que planejam um massacre de mais de mil pessoas no domingo".
"Um líder da resistência foi morto no Departamento del Valle na segunda-feira e todos estamos recebendo ameaças", denunciou Eulógio Chávez, líder da associação de professores e membro da Resistência Democrática, que defende Zelaya.
Com relação às eleições, o presidente deposto preferiu não se manifestar a favor de nenhum partido, mas mesmo assim acabou envolvido na disputa. O esquerdista Partido Unificação Democrática, cuja plataforma também inclui a reforma da Constituição, rompeu com Zelaya para manter suas candidaturas, pois acreditava que o contrário poderia significar sua "morte política".
Dentro da embaixada, o número de simpatizantes de Zelaya é cada vez menor. Quando ele pediu abrigo, em 21 de setembro, estava acompanhado por 70 pessoas. No dia seguinte, havia 300 zelaystas no local. Hoje, há apenas 23 pessoas, segundo encarregado de negócios Francisco Catunda Resende.
A redução do número de "hóspedes" é resultado, em parte, dos esforços feitos por representantes brasileiros, que pretendiam melhorar as condições dentro da embaixada e aplacar as críticas de que o local estaria servindo de palanque político para o presidente deposto. "De fato, as condições estão muito melhores e boa parte das pessoas já está conseguindo dormir em sofás ou colchões infláveis", disse Catunda.
Os serviços administrativos e consulares estão sendo feitos na casa de Catunda. Com a eleição de um novo presidente em uma votação não reconhecida pelo Brasil, há incertezas sobre o que acontecerá com a embaixada brasileira. A princípio, o Brasil não deve manter relações diplomáticas com o novo governo. Segundo rumores, uma das possibilidades é que a embaixada seja fechada ou transformada em consulado ou escritório de interesses, para atender aos cerca de 500 brasileiros que vivem no país.
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