terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Marina e Serra discordam de teses de Dilma na conferência sobre clima

DEU EM O GLOBO

Senadora e governador paulista atacam políticas defendidas pela adversária

Chico de Gois Enviado especial


COPENHAGUE. O Bella Center, em Copenhague, local onde ocorre a maioria das reuniões para discutir as mudanças climáticas, aqueceu ontem o debate entre os três pré-candidatos à Presidência que, de forma distinta, participam da Conferência da ONU. O resultado do primeiro dia em que os três estiveram sob o mesmo teto foi a concordância de posicionamento entre o governador de São Paulo, José Serra (PSDB), e a senadora Marina Silva (PV-AC), que trocaram amabilidades, contra as teses adotadas pela ministra da Casa Civil e chefe da delegação brasileira, Dilma Rousseff, que esteve em várias reuniões e nem se encontrou com os oponentes frente a frente.

Marina e Serra, por exemplo, defenderam que o Brasil deveria contribuir com US$ 1 bilhão, em dez anos, para os países pobres poderem atingir suas metas de redução de emissão de gases de efeito estufa.

Serra disse numa entrevista coletiva que considera que, caso o Brasil agisse dessa forma, daria um exemplo aos desenvolvidos, que poderiam se sentir constrangidos e agir da mesma maneira.

— O Brasil deveria contribuir com recursos para este fundo ambiental mundial. Esta contribuição terá um significado simbólico importante para os países desenvolvidos — defendeu Serra.

Mais tarde, ao ser perguntada sobre a proposta dos opositores, Dilma manteve-se firme e disse que o Brasil não deve entrar nessa discussão.

— Um bilhão de dólares não faz nem cosquinha. Os valores estão em torno de US$ 120 bi, US$ 150 bi, e tem valores de até US$ 500 bilhões. O que acho complicado é que a gente só faça gesto.

O que a gente tem de fazer são medidas reais, concretas, comprometidas.

Temos de ter cuidado, senão vamos cair em propostas fáceis e puramente mercadológicas.

Aqui estamos tratando de coisas sérias, que é a proteção do meio ambiente.

Marina defende criação de fundo internacional A senadora Marina Silva defendeu a criação do fundo internacional e disse que os países em desenvolvimento não devem utilizar os recursos para adaptação, mas só para mitigação.

Sobre a resistência do Brasil em aceitar que os países em desenvolvimento tenham seus compromissos acompanhados pela comunidade internacional, Marina foi dura: — O Brasil não pode fazer resistência de que não queremos ser acompanhados, que o importante são os resultados.

O Brasil pode efetivamente dizer que não tem nenhum problema em ser acompanhado — declarou, contrapondo-se a Dilma, que defende que os países em desenvolvimento apenas se comprometam com metas próprias, mas não tenham esses objetivos verificados pelos mais ricos.


— É fundamental resolver alguns impasses.

Não é adequado a gente criar uma oposição: eles e nós. Estamos em negociação, onde temos de chegar a um consenso — completou Marina.

Em seu discurso no debate sobre Aliança Brasileira pelo Clima, do qual o ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, e Marina também participaram — esta, de forma improvisada, já que não era prevista sua presença —, Serra defendeu práticas que já estão sendo adotadas pelo governo federal e adotou o discurso do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao dizer que o biodiesel não compromete a produção de alimentos, nem vai invadir a região amazônica. Ele concordou com a senadora, a quem chamou de amiga pessoal, sobre o Brasil poder contribuir para os mais pobres e poder, sim, prestar contas dos recursos recebidos.

E acabou cometendo duas gafes: primeiro disse que o plantio de cana-de-açúcar não se dá na região amazônica por causa do clima, o que é verdade, e ocorre em São Paulo por causa do “friozinho”, o que não é correto, uma vez que a cultura da cana-deaçúcar se desenvolve em regiões quentes e úmidas. Depois, defendeu a criação de uma guarda nacional florestal para proteger as florestas, mesma proposta feita por Minc ano passado, quando assumiu o ministério

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