terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Aécio: Lula e PT acham que fundaram o Brasil

DEU EM O GLOBO

Governador de Minas critica propaganda petista e defende aliança com PMDB, PSB, PDT e PP para a Presidência

Flávio Tabak

O discurso oficial do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi um dos principais alvos do governador de Minas Gerais, Aécio Neves (PSDB), durante encontro promovido ontem com empresários na sede da Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan). Apesar de reconhecer bons resultados do governo Lula na área social, o tucano disse que o governo federal toma para si a maior parte dos avanços conquistados por seus antecessores.

— Se um extraterrestre pousasse sua nave aqui na Praia do Flamengo, ia achar que o Brasil foi descoberto em 2003, que não existia nada antes disso, que tudo foi feito de lá para cá.

Isso não é verdade — reagiu Aécio. — A grande ruptura se deu com o Plano Real e com o fim da inflação. A partir daí, tivemos um período de continuidade.

Reconheço que no governo Lula avançou-se nos programas sociais. Mas agora a agenda é outra.

O Brasil não foi descoberto em 2003.

Logo em seguida, Aécio atacou a propaganda eleitoral do PT veiculada na semana passada, na qual Lula turbinou números e assumiu méritos de outros governos, como o de estabilizar a economia: — No programa eleitoral do PT, acho até que foram por um viés um pouco perigoso, de querer dividir o país entre pobres e ricos, enfim, entre os que pensam no povo e os que são contra o povo. Tentar taxar o adversário como defensor das elites, dos privilégios, é uma discussão que não prosperará porque ela é falsa e, como tudo o que é falso, fica pelo meio do caminho.

Ao falar do cenário para as eleições de 2010, Aécio negou que já tenha tomado a decisão de se candidatar ao Senado, deixando o caminho livre para o governador de São Paulo, José Serra, disputar a Presidência.

Apesar de ter apresentado nas últimas semanas sinais de que teria desistido da candidatura à Presidência, o tucano disse que o impasse só estará resolvido em janeiro.

Ciro é uma “belíssima alternativa”, diz Aécio

Para Aécio, o PSDB deve decidir o quanto antes sobre a candidatura porque, só assim, seria possível atrair para a candidatura oposicionista partidos insatisfeitos que estão na base do governo federal.

Aécio sustenta que o PSDB deve sair de uma situação “cômoda” para buscar novos parceiros em 2010. Entre eles, estariam PMDB, PSB, PDT e o PP do senador Francisco Dornelles (RJ), que também participou do evento na Firjan. O governador voltou a citar a aproximação com o deputado federal Ciro Gomes (PSB-CE), que vive às turras com José Serra: — Acho que o PSDB deveria sair da comodidade de uma aliança com o DEM e com o PPS, que é importante, mas talvez não seja suficiente para vencer as eleições. Acho que é uma belíssima alternativa (Ciro).

Em Minas, o PSB é meu aliado. Deveríamos estar conversando com PDT como estamos aqui agora, com o PP, do senador Dornelles. Se o partido optar por aguardar um tempo maior, acho que os ativos que eu poderia agregar à nossa candidatura já terão buscado outras alianças. Janeiro é o deadline.

Aplaudido seguidas vezes por um auditório lotado por cerca de 200 empresários, o governador de Minas ressaltou que, para a aliança dar certo, é preciso lutar contra uma suposta tentativa de transformar as eleições de 2010 numa disputa plebiscitária entre os que estão com Lula e os que defenderam o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.

Eleição plebiscitária seria uma “armadilha”

Aécio classificou a comparação entre os dois governos como uma “armadilha”. Para ele, o Brasil deveria escolher uma pessoa que lute por reformas como a tributária e a política.

O mineiro subiu o tom no discurso ao dizer que o país perdeu uma boa chance de se transformar durante os anos de estabilidade econômica do governo Lula.

— O Brasil tem potencial para crescer 7%, 8%. Devemos fugir da armadilha de cair na comparação entre Lula e FH, de quem é o pai ou a mãe desse ou daquele programa, para falar do que interessa efetivamente, o que ficou para fazer. Infelizmente o governo atual, que tem suas virtudes, perdeu um período precioso pré-crise. Se tivesse havido vontade política para enfrentar esses gargalos, poderíamos ter avançado ainda mais — criticou o governador mineiro, sob aplausos.

Para um público de dirigentes empresariais, Aécio levantou o tom contra a carga tributária brasileira e os gastos do governo Lula, que resultariam numa “conta que não fecha”.

Em tom eleitoral, o mineiro prometeu lutar até para refundar a federação brasileira.

— Enquanto nosso PIB cresceu 27% a 28% nos últimos seis anos, os gastos correntes do governo subiram algo em torno de 75%. Teremos uma oportunidade extraordinária de colocar em discussão temas como essa perversa concentração de receita que existe na União, que arrecada e administra 70% de todos os impostos no Brasil. Precisamos refundar a federação no Brasil para que possamos construir nossos destinos juntos — sugeriu Aécio, que defendeu medidas de seu governo em Minas como a premiação de funcionários que atingem metas na administração pública.

Na avaliação do governador mineiro, o mensalão do DEM não vai prejudicar a aliança na chapa oposicionista para a campanha de 2010. Aécio diz que o episódio não vai afetar o acordo nacional entre as duas legendas. Por outro lado, o tucano cita o escândalo envolvendo o governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda, para voltar a defender um arco maior de partidos para enfrentar a candidatura da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff: — Deveríamos buscar um espectro maior de alianças do que simplesmente os que estão na oposição

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