DEU EM O GLOBO
Ao mesmo tempo em que cresce a opinião favorável aos Estados Unidos na América Latina, e o presidente Barack Obama é o líder político mais admirado na região, à frente do presidente Lula, o líder regional mais popular, crescem também as áreas de atrito. O recado enviado ontem pela secretária de Estado, Hillary Clinton, aos países que estão estreitando o relacionamento com o Irã — nomeadamente Bolívia e Venezuela e, não citado, num sinal de respeito, o Brasil — reflete esse estado de espírito.
Aproximar-se do Irã é “uma péssima idéia”, disse Hillary Clinton, que acusou o Irã de ser “o principal apoiador, promotor e exportador de terrorismo no mundo hoje. Se (esses países) quiserem flertar com o Irã, devem pensar nas consequências.
E esperamos que eles pensem duas vezes”.
O desacordo com relação ao tratamento a ser dado à questão de Honduras, e a presença mais constante da China na região, são outros pontos de desentendimento, especialmente com o Brasil, que vê crescer sua influência.
O tom de admoestação do pronunciamento da secretária de Estado foi de quem considera a região zona de influência dos Estados Unidos.
Somado ao discurso do presidente Barack Obama ao receber o Prêmio Nobel da Paz em Oslo, defendendo a guerra como um recurso inevitável e trazendo de volta a figura do mal nas relações internacionais, com os “países bandidos” reunidos no “eixo do mal”, como Coréia do Norte e Irã, temos uma situação de latente confronto retórico.
Segundo pesquisa do Latinobarômetro publicada pela revista inglesa The Economist, parte ponderável da América Latina já considera o Brasil um líder mais influente na região que os Estados Unidos.
Nos últimos dias, declarações de ambos os lados demonstram que o nível de tensão nas relações está aumentando, embora não seja possível dizer-se ainda que existe uma crise.
Mas, assim como o chanceler Celso Amorim mostrase desapontado com a atuação dos Estados Unidos na crise de Honduras, também o responsável pela região no Departamento de Estado, Arturo Valenzuela, deixa escapar que os Estados Unidos estão desapontados com a abstenção do Brasil na Agência Internacional de Energia Atômica na condenação ao programa nuclear do Irã, ao mesmo tempo em que elogia o voto da Argentina.
A política externa dos Estados Unidos, após um começo claudicante em que não havia uma direção clara, neste momento está se encaminhando para a defesa dos interesses do país acima dos interesses partidários.
O discurso de Obama no Nobel poderia ter sido pronunciado por George W.
Bush, dizem alguns republicanos, satisfeitos com a guinada.
Mas também do lado dos democratas a demanda por uma política mais nacionalista é reivindicada.
Na crise de Honduras, os Estados Unidos deixaram o apoio incondicional a Manuel Zelaya quando se deram conta, por pressão republicana, de que ele fazia parte do esquema político de Chavez na região, tendo incluído Honduras na Aliança Bolivariana para as Américas (Alba).
Mesmo continuando com a tese de que houve um golpe em Honduras, o governo americano passou a defender a realização das eleições como a saída para a crise, e provavelmente a posse do novo presidente, em 27 de janeiro, deverá ajudar a superar o impasse que o país vive.
Esse passou a ser o entendimento generalizado das forças políticas dos Estados Unidos, e da mesma maneira a crítica que a secretária de Estado Hilary Clinton fez sobre Venezuela e Nicarágua, afirmando que a democracia não pode depender de um homem, mas sim de instituições fortes e rodízio de poder, parece contar com o apoio de republicanos e democratas.
Recente artigo publicado no “The Miami Herald” de Peter Romero, subsecretário de Estado para a América Latina no governo de Bill Clinton, e Eric Farnsworth, vice-presidente do Conselho das Américas, define bem uma posição contra a “democracia direta”, que é a base da doutrina chavista para a região, com seus plebiscitos para permitir a reeleição sem limitações dos governos, ou o uso do Poder Judiciário, como na Nicarágua, para contornar os limites constitucionais.
A pesquisa do Latinobarômetro, ONG sediada no Chile que faz pesquisas regularmente, desde 1995, sobre valores e opiniões na região, publicada na recente edição da revista inglesa “The Economist”, mostra que os países da América Latina estão mais satisfeitos do que nunc a c o m a democracia e apoiam seus governos.
A maioria dos habitantes dos 18 países pesquisados é favorável à economia de mercado e tem uma visão crítica em relação a Hugo Chávez, ao mesmo tempo que admira o presidente brasileiro Lula, que só perde em popularidade na região para Barack Obama.
Chávez tem o apoio de 45% dos venezuelanos, bem abaixo dos 65% que já teve, e nada menos que 81% dos entrevistados na Venezuela se disseram favoráveis à iniciativa privada, apesar das estatizações que o governo vem promovendo.
Especificamente sobre o caso de Honduras, há um claro repúdio ao golpe: 58% dos hondurenhos ficaram contra e, na região como um todo, apenas 24% o aprovaram.
Mas 61% dos pesquisados no Brasil, 58% no México e 42% na região concordaram que o Exército deve remover um presidente se ele viola a Constituição, como é acusado Manuel Zelaya de ter tentado.
A revista inglesa destaca o fato de que, apesar da recessão econômica provocada pela crise internacional, pela primeira vez desde que é feita a pesquisa, existe mais apoio para os governos eleitos democraticamente do que confiança nas Forças Armadas, numa região em que golpes militares foram frequentes.
Ao mesmo tempo em que cresce a opinião favorável aos Estados Unidos na América Latina, e o presidente Barack Obama é o líder político mais admirado na região, à frente do presidente Lula, o líder regional mais popular, crescem também as áreas de atrito. O recado enviado ontem pela secretária de Estado, Hillary Clinton, aos países que estão estreitando o relacionamento com o Irã — nomeadamente Bolívia e Venezuela e, não citado, num sinal de respeito, o Brasil — reflete esse estado de espírito.
Aproximar-se do Irã é “uma péssima idéia”, disse Hillary Clinton, que acusou o Irã de ser “o principal apoiador, promotor e exportador de terrorismo no mundo hoje. Se (esses países) quiserem flertar com o Irã, devem pensar nas consequências.
E esperamos que eles pensem duas vezes”.
O desacordo com relação ao tratamento a ser dado à questão de Honduras, e a presença mais constante da China na região, são outros pontos de desentendimento, especialmente com o Brasil, que vê crescer sua influência.
O tom de admoestação do pronunciamento da secretária de Estado foi de quem considera a região zona de influência dos Estados Unidos.
Somado ao discurso do presidente Barack Obama ao receber o Prêmio Nobel da Paz em Oslo, defendendo a guerra como um recurso inevitável e trazendo de volta a figura do mal nas relações internacionais, com os “países bandidos” reunidos no “eixo do mal”, como Coréia do Norte e Irã, temos uma situação de latente confronto retórico.
Segundo pesquisa do Latinobarômetro publicada pela revista inglesa The Economist, parte ponderável da América Latina já considera o Brasil um líder mais influente na região que os Estados Unidos.
Nos últimos dias, declarações de ambos os lados demonstram que o nível de tensão nas relações está aumentando, embora não seja possível dizer-se ainda que existe uma crise.
Mas, assim como o chanceler Celso Amorim mostrase desapontado com a atuação dos Estados Unidos na crise de Honduras, também o responsável pela região no Departamento de Estado, Arturo Valenzuela, deixa escapar que os Estados Unidos estão desapontados com a abstenção do Brasil na Agência Internacional de Energia Atômica na condenação ao programa nuclear do Irã, ao mesmo tempo em que elogia o voto da Argentina.
A política externa dos Estados Unidos, após um começo claudicante em que não havia uma direção clara, neste momento está se encaminhando para a defesa dos interesses do país acima dos interesses partidários.
O discurso de Obama no Nobel poderia ter sido pronunciado por George W.
Bush, dizem alguns republicanos, satisfeitos com a guinada.
Mas também do lado dos democratas a demanda por uma política mais nacionalista é reivindicada.
Na crise de Honduras, os Estados Unidos deixaram o apoio incondicional a Manuel Zelaya quando se deram conta, por pressão republicana, de que ele fazia parte do esquema político de Chavez na região, tendo incluído Honduras na Aliança Bolivariana para as Américas (Alba).
Mesmo continuando com a tese de que houve um golpe em Honduras, o governo americano passou a defender a realização das eleições como a saída para a crise, e provavelmente a posse do novo presidente, em 27 de janeiro, deverá ajudar a superar o impasse que o país vive.
Esse passou a ser o entendimento generalizado das forças políticas dos Estados Unidos, e da mesma maneira a crítica que a secretária de Estado Hilary Clinton fez sobre Venezuela e Nicarágua, afirmando que a democracia não pode depender de um homem, mas sim de instituições fortes e rodízio de poder, parece contar com o apoio de republicanos e democratas.
Recente artigo publicado no “The Miami Herald” de Peter Romero, subsecretário de Estado para a América Latina no governo de Bill Clinton, e Eric Farnsworth, vice-presidente do Conselho das Américas, define bem uma posição contra a “democracia direta”, que é a base da doutrina chavista para a região, com seus plebiscitos para permitir a reeleição sem limitações dos governos, ou o uso do Poder Judiciário, como na Nicarágua, para contornar os limites constitucionais.
A pesquisa do Latinobarômetro, ONG sediada no Chile que faz pesquisas regularmente, desde 1995, sobre valores e opiniões na região, publicada na recente edição da revista inglesa “The Economist”, mostra que os países da América Latina estão mais satisfeitos do que nunc a c o m a democracia e apoiam seus governos.
A maioria dos habitantes dos 18 países pesquisados é favorável à economia de mercado e tem uma visão crítica em relação a Hugo Chávez, ao mesmo tempo que admira o presidente brasileiro Lula, que só perde em popularidade na região para Barack Obama.
Chávez tem o apoio de 45% dos venezuelanos, bem abaixo dos 65% que já teve, e nada menos que 81% dos entrevistados na Venezuela se disseram favoráveis à iniciativa privada, apesar das estatizações que o governo vem promovendo.
Especificamente sobre o caso de Honduras, há um claro repúdio ao golpe: 58% dos hondurenhos ficaram contra e, na região como um todo, apenas 24% o aprovaram.
Mas 61% dos pesquisados no Brasil, 58% no México e 42% na região concordaram que o Exército deve remover um presidente se ele viola a Constituição, como é acusado Manuel Zelaya de ter tentado.
A revista inglesa destaca o fato de que, apesar da recessão econômica provocada pela crise internacional, pela primeira vez desde que é feita a pesquisa, existe mais apoio para os governos eleitos democraticamente do que confiança nas Forças Armadas, numa região em que golpes militares foram frequentes.
Um comentário:
Gilvan,
Já coloquei um comentário hoje, esperando vê-lo publicado. Você presta um enorme serviço ao republicar matérias exclusivas para assinantes. Nós dois concordamos com o George Soros que promoveu o Open Access Initiative em Budapest, 2002. Valeria a pena você abordar este assunto com sua habitual criatividade. Socialistas como você são interlocutores imprescindíveis.
Abraços
D.U.
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