sábado, 12 de dezembro de 2009

Para PT, Lula estabilizou os preços

DEU EM O GLOBO

Na TV, propaganda esquece oposição ao Plano Real e à Lei Fiscal

No programa do PT na televisão, anteontem, o presidente Lula – crítico feroz, à época, do Plano Real e da Lei de Responsabilidade Fiscal – atribuiu a seu governo o mérito da estabilização da economia, omitindo resultados das políticas econômicas do governos Itamar Franco e Fernando Henrique Cardoso. Protagonista do programa ao lado da ministra Dilma Rousseff, Lula exagerou nos números positivos de sua gestão e foi contestado por historiadores e cientistas políticos.

Na TV, PT diz que Lula estabilizou economia

Ao lado de Dilma na propaganda do partido, presidente turbina dados e ignora realizações de antecessores

Maria Lima


BRASÍLIA. Apesar de ter sido um crítico feroz do Plano Real, que em 94 chamou de “estelionato eleitoral”, e de ter brigado contra a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva omitiu resultados das políticas econômicas dos governos Itamar Franco e Fernando Henrique Cardoso e atribuiu ao seu governo, no programa do PT na TV anteontem, grande mérito na estabilização da economia. Protagonista do programa ao lado da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, Lula exaltou conquistas dos sete anos de seu governo, turbinou números de empregos gerados no período e prometeu que, em breve, o Brasil atingirá o patamar de quinta maior economia do planeta.

Historiadores e cientistas políticos contestam dados apresentados e criticam o tom de endeusamento de Lula, como se ele fosse o criador de toda a história recente no Brasil. Um trecho do programa diz que, em 2002, “o país que tinha tudo, mas que não tinha nada”. Os governos FHC e Itamar, com o Real, conseguiram driblar uma inflação que beirava os dois dígitos, abriram a economia para entrada bilionária de investimentos, e fizeram privatizações bem-sucedidas na área de telecomunicações e outros setores.

O economista Marcelo Neri, chefe do Centro de Políticas Sociais da Fundação Getulio Vargas (FGV), diz que a grande vantagem do bom momento que o Brasil vive, apesar da crise, é o resultado de 15 anos de boa política econômica e social.

— Daqui a alguns anos, os livros de história vão dizer que Lula foi o pai dos pobres e Fernando Henrique, o avô. Essa sequência é fundamental. A continuidade foi o grande segredo. O grande personagem desse momento é o brasileiro, não Lula ou FH. O brasileiro realizou um potencial que estava meio adormecido nas duas décadas anteriores.

FHC plantou muita coisa, e Lula colheu. E Lula plantou outro tipo de cultura de resultado mais imediato, como o Bolsa Família, que, na verdade, é a continuidade do Bolsa Escola do FH — avalia Neri.

Bombardeio contra o Real

Em 26 de junho de 1994, candidato do PT à Presidência, Lula bombardeava o Plano Real e uma pesquisa segundo a qual a maioria dos eleitores desejava a sua continuidade.

“O plano ainda não foi implantado.

Quero saber como é que a pesquisa foi conduzida para chegar a esse resultado. O povo está calejado e não vai cair em mais um estelionato eleitoral”, disse Lula, que acabou derrotado por Fernando Henrique.

Agora, no programa, cita todas as conquistas advindas da estabilização econômica, como a criação de 12 milhões de empregos com carteira assinada desde 2003.

— São dados turbinados. O número da FGV é 8,8 milhões de empregos no período, que já é muito bom. Não sei de onde são os 12 milhões. Isso seria Alice no País das Maravilhas — contesta Marcelo Neri.

O historiador Marco Antonio Vila criticou o fato de o programa do PT mostrar todas as conquistas como fruto exclusivo da política adotada por Lula. Mas disse que não se surpreendeu, porque, para Lula, a história sempre começa com ele.

— Pessoalmente ele sempre agiu assim e isso não é um ato falho, é uma estratégia, de apagar as figuras ou a historia que vieram antes dele. Para Lula, o sindicalismo não começou com os anarquistas, mas com ele, em 75. Em termos partidários considera que o primeiro partido dos trabalhadores foi o PT, que é ele. E age como se fosse o primeiro governo a colocar ordem no mundo — critica Vila

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