DEU NO JORNAL DO COMMERCIO (PE)
Favorável a uma aliança com o PSDB, o PMDB estadual ignora a decisão da maioria nacional – pró-Dilma – abre dissidência e vai atrás de novos apoios a Serra, encarando o risco de isolamento
Sérgio Montenegro Filho
Se depender dos peemedebistas pernambucanos, as decisões tomadas pela direção nacional do partido – eleita no dia 6 deste mês – a respeito da participação da legenda na sucessão presidencial não terão o menor efeito por essas bandas. Visto como o principal foco de rebeldia dentro do PMDB, o diretório estadual da sigla praticamente boicotou o encontro nacional realizado antes do Carnaval, em Brasília. E está pronto para ignorar o resultado da convenção de junho, que deverá oficializar a aliança com o PT e o apoio à candidatura da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff.
Em Pernambuco, os peemedebistas estão, mais do que nunca, fechados com o tucano José Serra. E o líder maior do partido, senador Jarbas Vasconcelos, adianta sua disposição de comandar um movimento pelo País afora, juntamente com outros dissidentes, com o objetivo de angariar apoio para Serra. Entre os “rebeldes” declarados, além dos pernambucanos, estão os diretórios estaduais de São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Mato Grosso do Sul. Mas, segundo Jarbas, a expectativa é de atrair mais focos para o palanque tucano em outros Estados, a exemplo do Rio Grande do Sul.
O diretório pernambucano foi um dos mais prejudicados com a rebeldia. No encontro realizado antes do Carnaval para renovação do comando, o PMDB estadual perdeu a representação na Executiva Nacional – instância máxima da sigla – e ainda viu reduzida a sua participação no diretório nacional, colegiado responsável por votar as grandes questões partidárias. “Não tememos essas represálias. Continuaremos a seguir Jarbas Vasconcelos no apoio a José Serra. Eu mesmo não fui ao encontro nacional por solidariedade a Jarbas, mas não proibi ninguém daqui de participar”, afirma o ex-deputado Dorany Sampaio, fundador e presidente do PMDB no Estado há duas décadas.
Embora firmes no combate à aliança com o PT, os “rebeldes” não representam 10% dos filiados do PMDB nacional. E ainda correm o risco de nova divisão, caso o governador paranaense Roberto Requião mantenha, na convenção partidária de junho, sua intenção de se lançar candidato à Presidência da República. Enquanto isso, a maioria esmagadora do partido parece não se incomodar com a pecha de “adesista” e as frequentes críticas ao fisiologismo generalizado dos seus parlamentares e governantes.
GUARDA-CHUVA
O Movimento Democrático Brasileiro (MDB) – que só ganharia a letra “P” em 1980 – foi fundado em 1966, com a instituição do bipartidarismo pela ditadura militar. Servia de abrigo oficial para todos os segmentos políticos de oposição ao regime, que iam da esquerda armada à igreja progressista. Na época, essas correntes tinham como adversário comum a Aliança Renovadora Nacional (Arena), partido que dava sustentação ao governo dos generais.
Na opinião de alguns especialistas – e mesmo de ex-fundadores do antigo MDB – o partido perdeu sua finalidade exatamente após a redemocratização de 1985, e deveria ter sido revisto naquela época. “O PMDB acabou. Hoje, é só uma sigla usada para abrigar interesses pessoais, obter mandatos, cargos e benesses do governo”, sustenta um dos fundadores, o ex-deputado constituinte Egídio Ferreira Lima, que no final dos anos 80 migrou para o recém-criado PSDB.
Pesquisador do Núcleo de Estudos Políticos e Partidários da Universidade Federal de Pernambuco, o professor Hely Ferreira reforça a tese. Diz que, encerrado o episódio do golpe militar, o PMDB não conseguiu se livrar do estigma de grande “guarda-chuva” político, onde cabem gregos e troianos. A sigla continua tão fragmentada quanto antes, e essa falta de unidade, segundo Ferreira, foi a responsável por impedir que o partido, embora um dos maiores do País, elegesse um candidato próprio à Presidência da República pelo voto direto. “A imagem fisiologista do PMDB se criou a partir daí. O partido nunca chegou diretamente ao poder, mas também nunca saiu da sua sombra. Vive de ocupar cargos e receber benesses dos governantes, que precisam da sua força numérica para garantir a governabilidade”, explica o professor.
O presidente Dorany Sampaio, por sua vez, rechaça a tese de que o partido perdeu seu objetivo após a distensão política. Para ele, trata-se de uma generalização perigosa. “Estou no partido desde 1966, e admito que no passado já houve outras adesões, como nos governos de Itamar Franco e de Fernando Henrique Cardoso. Mas aquela frente ampla de combate à ditadura, que ajudou a fundar o MDB, permanece na legenda, ainda que em minoria”, garante.
Favorável a uma aliança com o PSDB, o PMDB estadual ignora a decisão da maioria nacional – pró-Dilma – abre dissidência e vai atrás de novos apoios a Serra, encarando o risco de isolamento
Sérgio Montenegro Filho
Se depender dos peemedebistas pernambucanos, as decisões tomadas pela direção nacional do partido – eleita no dia 6 deste mês – a respeito da participação da legenda na sucessão presidencial não terão o menor efeito por essas bandas. Visto como o principal foco de rebeldia dentro do PMDB, o diretório estadual da sigla praticamente boicotou o encontro nacional realizado antes do Carnaval, em Brasília. E está pronto para ignorar o resultado da convenção de junho, que deverá oficializar a aliança com o PT e o apoio à candidatura da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff.
Em Pernambuco, os peemedebistas estão, mais do que nunca, fechados com o tucano José Serra. E o líder maior do partido, senador Jarbas Vasconcelos, adianta sua disposição de comandar um movimento pelo País afora, juntamente com outros dissidentes, com o objetivo de angariar apoio para Serra. Entre os “rebeldes” declarados, além dos pernambucanos, estão os diretórios estaduais de São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Mato Grosso do Sul. Mas, segundo Jarbas, a expectativa é de atrair mais focos para o palanque tucano em outros Estados, a exemplo do Rio Grande do Sul.
O diretório pernambucano foi um dos mais prejudicados com a rebeldia. No encontro realizado antes do Carnaval para renovação do comando, o PMDB estadual perdeu a representação na Executiva Nacional – instância máxima da sigla – e ainda viu reduzida a sua participação no diretório nacional, colegiado responsável por votar as grandes questões partidárias. “Não tememos essas represálias. Continuaremos a seguir Jarbas Vasconcelos no apoio a José Serra. Eu mesmo não fui ao encontro nacional por solidariedade a Jarbas, mas não proibi ninguém daqui de participar”, afirma o ex-deputado Dorany Sampaio, fundador e presidente do PMDB no Estado há duas décadas.
Embora firmes no combate à aliança com o PT, os “rebeldes” não representam 10% dos filiados do PMDB nacional. E ainda correm o risco de nova divisão, caso o governador paranaense Roberto Requião mantenha, na convenção partidária de junho, sua intenção de se lançar candidato à Presidência da República. Enquanto isso, a maioria esmagadora do partido parece não se incomodar com a pecha de “adesista” e as frequentes críticas ao fisiologismo generalizado dos seus parlamentares e governantes.
GUARDA-CHUVA
O Movimento Democrático Brasileiro (MDB) – que só ganharia a letra “P” em 1980 – foi fundado em 1966, com a instituição do bipartidarismo pela ditadura militar. Servia de abrigo oficial para todos os segmentos políticos de oposição ao regime, que iam da esquerda armada à igreja progressista. Na época, essas correntes tinham como adversário comum a Aliança Renovadora Nacional (Arena), partido que dava sustentação ao governo dos generais.
Na opinião de alguns especialistas – e mesmo de ex-fundadores do antigo MDB – o partido perdeu sua finalidade exatamente após a redemocratização de 1985, e deveria ter sido revisto naquela época. “O PMDB acabou. Hoje, é só uma sigla usada para abrigar interesses pessoais, obter mandatos, cargos e benesses do governo”, sustenta um dos fundadores, o ex-deputado constituinte Egídio Ferreira Lima, que no final dos anos 80 migrou para o recém-criado PSDB.
Pesquisador do Núcleo de Estudos Políticos e Partidários da Universidade Federal de Pernambuco, o professor Hely Ferreira reforça a tese. Diz que, encerrado o episódio do golpe militar, o PMDB não conseguiu se livrar do estigma de grande “guarda-chuva” político, onde cabem gregos e troianos. A sigla continua tão fragmentada quanto antes, e essa falta de unidade, segundo Ferreira, foi a responsável por impedir que o partido, embora um dos maiores do País, elegesse um candidato próprio à Presidência da República pelo voto direto. “A imagem fisiologista do PMDB se criou a partir daí. O partido nunca chegou diretamente ao poder, mas também nunca saiu da sua sombra. Vive de ocupar cargos e receber benesses dos governantes, que precisam da sua força numérica para garantir a governabilidade”, explica o professor.
O presidente Dorany Sampaio, por sua vez, rechaça a tese de que o partido perdeu seu objetivo após a distensão política. Para ele, trata-se de uma generalização perigosa. “Estou no partido desde 1966, e admito que no passado já houve outras adesões, como nos governos de Itamar Franco e de Fernando Henrique Cardoso. Mas aquela frente ampla de combate à ditadura, que ajudou a fundar o MDB, permanece na legenda, ainda que em minoria”, garante.
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