DEU EM O GLOBO
A disputa eleitoral vai ocorrer numa economia crescendo, criando emprego, ampliando renda e crédito. O quadro favorece todos, principalmente o governo. Dilma poderá dizer que tudo é graças aos PACs; José Serra pode lembrar que foi mantida a política econômica do PSDB; Ciro Gomes foi ministro no começo do Plano Real; e Marina tem dito que sua proposta é consolidar os acertos de 16 anos.
A inflação está subindo e ameaçando pular para outros patamares, a atividade está aquecida: perigo numa economia que ainda não se livrou dos juros cronicamente altos. O câmbio está baixo, alimentando os discursos dos exportadores.
Os juros, pela ata do Copom, vão subir. Henrique Meirelles provavelmente terá encerrado seu longo período como presidente do Banco Central e será um teste interessante saber se o Copom continuará usando a mesma lógica para a sua tomada de decisões. Mas tudo isso não altera que o quadro é muito favorável.
O curioso é que a única que defendeu os fundamentos da política econômica, até agora, foi a candidata do Partido Verde, Marina Silva.
O governador José Serra discordava da política monetária e cambial desde que o PSDB era governo. O senador Sérgio Guerra deixou claro, em entrevista recente, que num eventual governo tucano haveria mudança da política monetária e cambial.
Mas só José Serra poderá dizer que cabe a seu partido a exclusividade na elaboração do plano que conseguiu vencer a inflação. A ministra Dilma Rousseff não deu jamais qualquer demonstração de apreço pela atual política econômica. Ela discorda da política fiscal, que é o ponto que José Serra não apenas manteria, como reforçaria.
Dilma é a favor da ampliação do gasto público, desconhecendo os riscos que isso representa. Confia que está baseada na doutrina vencedora do Keynesianismo e ignora o fato de que o economista inglês defendeu o gasto público em momentos específicos, e não o gasto pelo gasto, assim sem limites e sem controle.
Quando Antonio Palocci ainda era ministro da Fazenda, ele fez a proposta de se atingir o déficit nominal zero.
Dilma recusou a ideia acusando-a de rudimentar, e dizendo que antes seria preciso combinar com os russos.
Na verdade, a ideia continua sendo excelente, e esta é uma boa hora para combinar qualquer coisa com os brasileiros sobre esse assunto: poupar mais quando o país está crescendo e a arrecadação subindo é política anticíclica. No discurso de campanha, ela pode até defender a política econômica, mas estará se referindo não ao kit metas de inflação-câmbio flutuante-Banco Central independente-superávit primário.
Estará se referindo ao aumento dos gastos públicos, presença crescente dos bancos públicos na economia, empréstimos abundantes do BNDES para a formação dos campeões nacionais, criação de novas estatais, tudo aquilo no qual realmente acredita.
O candidato Ciro Gomes poderá dizer que está na origem do Real porque foi o ministro que assumiu o cargo num momento de extrema dificuldade do plano econômico: com meses de vida e uma crise de credibilidade.
Mas também poderá criticar os pontos que considerar pouco populares. As críticas aos juros altos são sempre um sucesso de bilheteria, mas se fizer isso, Ciro ficará no mesmo campo do seu arqui-inimigo José Serra, que tem criticado os juros desde sempre.
Ciro está numa posição confortável: foi ministro no começo do real, foi ministro do governo Lula; pode elogiar o que deu certo nos dois governos. Pode também criticar, porque hoje ele é o único que tem feito isso, dado o estranho comportamento do candidato do maior partido de oposição.
José Serra, prisioneiro do dilema criado pela alta popularidade do presidente, decidiu abdicar das opiniões próprias sobre qualquer assunto que não seja a dupla juros-câmbio. Não se sabe o que o candidato de oposição pensa da política externa conflituosa e confusa do governo Lula, ou da mudança de um modelo de exploração de petróleo que deu certo por 10 anos, ou do excessivo crescimento do gasto público, do aumento da carga tributária, ou qualquer erro cometido pelo governo. É da natureza da democracia que a oposição registre seus pontos de discordância e apresente seu projeto para o futuro, para que o eleitor possa, comparando, decidir. A campanha tucana está tão perdida que uma das ideias é usar como mote a defesa do emprego. Fará isso em meses nos quais o Brasil estará com problemas pela falta de mão de obra em vários setores.
Seria melhor mostrar os erros cometidos na tortuosa política educacional do governo Lula. É isso que nos faz chegar ao ponto de faltar trabalhador, com o país ainda com 7% de desemprego.
Quem terá menos espaço para fazer essas críticas e que talvez mais queira fazê-las será a ministra Dilma Rousseff. Ela terá que seguir na linha ilusionista do presidente Lula de atribuir ao governo tudo o que deu certo na história deste país e culpar os governantes dos últimos 500 anos pelos erros e falhas do atual governo.
Marina Silva tem dito que é preciso consolidar o que deu certo na área econômica e social dos governos anteriores e fazer uma proposta para o futuro, onde ela tem uma ideia forte, construída em 30 anos de defesa das bandeiras ambientais. De qualquer maneira, será provocada a detalhar melhor o que apoia em cada parte do passado. Uma das bases da estabilidade econômica foi conseguida com leis contra as quais votou, como a Lei de Responsabilidade Fiscal.
O melhor da economia este ano é que ela não será fator de perturbação do debate político. Nem inflação descontrolada, nem dólar em disparada, nem país à beira de algum colapso. Momento mais que perfeito para discutir o futuro. Será uma pena se for feito um plebiscito entre o passado e o passado pretérito.
A disputa eleitoral vai ocorrer numa economia crescendo, criando emprego, ampliando renda e crédito. O quadro favorece todos, principalmente o governo. Dilma poderá dizer que tudo é graças aos PACs; José Serra pode lembrar que foi mantida a política econômica do PSDB; Ciro Gomes foi ministro no começo do Plano Real; e Marina tem dito que sua proposta é consolidar os acertos de 16 anos.
A inflação está subindo e ameaçando pular para outros patamares, a atividade está aquecida: perigo numa economia que ainda não se livrou dos juros cronicamente altos. O câmbio está baixo, alimentando os discursos dos exportadores.
Os juros, pela ata do Copom, vão subir. Henrique Meirelles provavelmente terá encerrado seu longo período como presidente do Banco Central e será um teste interessante saber se o Copom continuará usando a mesma lógica para a sua tomada de decisões. Mas tudo isso não altera que o quadro é muito favorável.
O curioso é que a única que defendeu os fundamentos da política econômica, até agora, foi a candidata do Partido Verde, Marina Silva.
O governador José Serra discordava da política monetária e cambial desde que o PSDB era governo. O senador Sérgio Guerra deixou claro, em entrevista recente, que num eventual governo tucano haveria mudança da política monetária e cambial.
Mas só José Serra poderá dizer que cabe a seu partido a exclusividade na elaboração do plano que conseguiu vencer a inflação. A ministra Dilma Rousseff não deu jamais qualquer demonstração de apreço pela atual política econômica. Ela discorda da política fiscal, que é o ponto que José Serra não apenas manteria, como reforçaria.
Dilma é a favor da ampliação do gasto público, desconhecendo os riscos que isso representa. Confia que está baseada na doutrina vencedora do Keynesianismo e ignora o fato de que o economista inglês defendeu o gasto público em momentos específicos, e não o gasto pelo gasto, assim sem limites e sem controle.
Quando Antonio Palocci ainda era ministro da Fazenda, ele fez a proposta de se atingir o déficit nominal zero.
Dilma recusou a ideia acusando-a de rudimentar, e dizendo que antes seria preciso combinar com os russos.
Na verdade, a ideia continua sendo excelente, e esta é uma boa hora para combinar qualquer coisa com os brasileiros sobre esse assunto: poupar mais quando o país está crescendo e a arrecadação subindo é política anticíclica. No discurso de campanha, ela pode até defender a política econômica, mas estará se referindo não ao kit metas de inflação-câmbio flutuante-Banco Central independente-superávit primário.
Estará se referindo ao aumento dos gastos públicos, presença crescente dos bancos públicos na economia, empréstimos abundantes do BNDES para a formação dos campeões nacionais, criação de novas estatais, tudo aquilo no qual realmente acredita.
O candidato Ciro Gomes poderá dizer que está na origem do Real porque foi o ministro que assumiu o cargo num momento de extrema dificuldade do plano econômico: com meses de vida e uma crise de credibilidade.
Mas também poderá criticar os pontos que considerar pouco populares. As críticas aos juros altos são sempre um sucesso de bilheteria, mas se fizer isso, Ciro ficará no mesmo campo do seu arqui-inimigo José Serra, que tem criticado os juros desde sempre.
Ciro está numa posição confortável: foi ministro no começo do real, foi ministro do governo Lula; pode elogiar o que deu certo nos dois governos. Pode também criticar, porque hoje ele é o único que tem feito isso, dado o estranho comportamento do candidato do maior partido de oposição.
José Serra, prisioneiro do dilema criado pela alta popularidade do presidente, decidiu abdicar das opiniões próprias sobre qualquer assunto que não seja a dupla juros-câmbio. Não se sabe o que o candidato de oposição pensa da política externa conflituosa e confusa do governo Lula, ou da mudança de um modelo de exploração de petróleo que deu certo por 10 anos, ou do excessivo crescimento do gasto público, do aumento da carga tributária, ou qualquer erro cometido pelo governo. É da natureza da democracia que a oposição registre seus pontos de discordância e apresente seu projeto para o futuro, para que o eleitor possa, comparando, decidir. A campanha tucana está tão perdida que uma das ideias é usar como mote a defesa do emprego. Fará isso em meses nos quais o Brasil estará com problemas pela falta de mão de obra em vários setores.
Seria melhor mostrar os erros cometidos na tortuosa política educacional do governo Lula. É isso que nos faz chegar ao ponto de faltar trabalhador, com o país ainda com 7% de desemprego.
Quem terá menos espaço para fazer essas críticas e que talvez mais queira fazê-las será a ministra Dilma Rousseff. Ela terá que seguir na linha ilusionista do presidente Lula de atribuir ao governo tudo o que deu certo na história deste país e culpar os governantes dos últimos 500 anos pelos erros e falhas do atual governo.
Marina Silva tem dito que é preciso consolidar o que deu certo na área econômica e social dos governos anteriores e fazer uma proposta para o futuro, onde ela tem uma ideia forte, construída em 30 anos de defesa das bandeiras ambientais. De qualquer maneira, será provocada a detalhar melhor o que apoia em cada parte do passado. Uma das bases da estabilidade econômica foi conseguida com leis contra as quais votou, como a Lei de Responsabilidade Fiscal.
O melhor da economia este ano é que ela não será fator de perturbação do debate político. Nem inflação descontrolada, nem dólar em disparada, nem país à beira de algum colapso. Momento mais que perfeito para discutir o futuro. Será uma pena se for feito um plebiscito entre o passado e o passado pretérito.
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