DEU EM O GLOBO
Deputado afirma que tucano é ‘mais preparado e capaz’ do que petista
Às vésperas de ter sua pré-candidatura retirada por seu partido, o deputado Ciro Gomes (PSB) demonstrou toda sua insatisfação em duas entrevistas ontem, nas quais criticou o presidente Lula e o PT e chegou a dizer que o pré-candidato tucano José Serra – seu notório adversário – é “mais preparado” e “mais capaz” para ser presidente do que a petista Dilma Rousseff. Ao portal iG, afirmou que não vai declarar voto em Dilma. Depois, ao SBT, admitiu apenas que pretende apoiá-la. Em relação a Lula, Ciro disse que o presidente está “navegando na maionese” e se sentindo “todo-poderoso”. O Planalto já tenta diminuir os estragos, para evitar que aliados próximos a Ciro apoiem candidatos tucanos em seus estados, como no Ceará e em Minas.
Ciro mira em Lula, Dilma e PT
Deputado diz que ex-ministra "é melhor como pessoa, mas Serra é mais preparado"
Gerson Camarotti, Cristiane Jungblut e Maria Lima
BRASÍLIA - Com a posição majoritária do PSB pela retirada da candidatura presidencial do deputado e ex-ministro Ciro Gomes, para apoiar a petista Dilma Rousseff, o Palácio do Planalto iniciou uma operação para tentar diminuir o estrago da decisão e evitar que os votos do socialista acabem migrando para o pré-candidato tucano José Serra.
Ontem, Ciro disse que vai “espernear” até terça-feira, quando o PSB deve sacramentar a retirada de sua pré-candidatura. A preocupação aumentou ontem com duas entrevistas dadas por Ciro. Ao portal “iG”, ele criticou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e chegou a dizer que Serra é “mais preparado, mais legítimo, mais capaz” para administrar o país numa eventual crise cambial. Mais tarde, ao telejornal “SBT Brasil”, voltou a dizer que o tucano “é mais bem preparado do que a Dilma”, embora diga que prefere a petista “como pessoa”.
A grande mágoa de Ciro com o processo, em especial com o presidente Lula, ficou explícita nos ataques que fez ontem. Ao “iG”, Ciro criticou Lula, dizendo que ele está “navegando na maionese” e afirmou que não pedirá votos para Dilma. “Não me peçam para ir à televisão declarar o meu voto, que eu não vou”, afirmou ao portal na internet. À noite, no SBT, chegou a negar que dera entrevista ao “iG”, mas, na saída da emissora, admitiu que tivera uma “uma conversa de amigos” com um jornalista do portal, que não esperava ver publicada. Na TV, voltou a criticar o presidente. Segundo Ciro, Lula “está errado” ao insistir numa polarização entre Dilma e Serra.
Eleitor cearense pode retaliar
O tom de Ciro aumentou a preocupação de Lula e do PT, e há um temor especial com o Ceará, onde o socialista liderava com folga as pesquisas de intenção de votos para presidente. Há a constatação de que Dilma poderia ser prejudicada por uma espécie de retaliação do eleitor cearense. Por isso, a estratégia governista é de reaproximar Lula e Ciro, assim que passar esse período inicial de grande mágoa — como Serra conseguiu fazer com o exgovernador Aécio Neves (PSDB-MG) para manter os votos de Minas.
De forma reservada, Lula avaliou ontem que, neste momento, não é possível fazer nada, mas está determinado a buscar a reconciliação, numa “conversa reservada e pessoal” com seu ex-ministro. A orientação de Lula ontem foi a de que se evitasse rebater as críticas de Ciro.
— Deixe passar a dor de cotovelo, deixa ele viajar, depois conversamos.
Não podemos torná-lo hostil — disse Lula, segundo relatos.
De manhã, na conversa reservada que teve no Palácio da Alvorada com o presidente do PSB, o governador Eduardo Campos (PE), e o vice, o exministro Roberto Amaral, Lula já demonstrava receio com a reação de Ciro, mesmo sem conhecer ainda as declarações dele ao portal. Amaral e Campos também foram vítimas dos ataques de Ciro. Segundo o deputado, os dois “não estão no nível que a História impõe a eles”.
No PT, a preocupação do comando da campanha de Dilma é reverter a avaliação de que o cenário sem Ciro é mais favorável a Serra — para evitar que essa impressão se alastre. Já há mobilização para evitar que aliados de Ciro, como o prefeito de Belo Horizonte, Márcio Lacerda, e o próprio governador Cid Gomes (PSB-CE), seu irmão, fiquem liberados para apoiar candidatos tucanos nos seus estados.
Lacerda, apoiado por Aécio Neves, poderia apoiar a candidatura à reeleição do governador Antonio Anastasia (PSDB-MG), enquanto Cid trabalha uma aliança branca pela reeleição do senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) — dois palanques de Serra.
Após o encontro com Lula, na manhã de ontem no Palácio da Alvorada, Eduardo Campos minimizou os ataques de Ciro: — Essa é a opinião do Ciro, não é a minha. Vamos fazer esse debate com tranquilidade. Cada um é livre para colocar sua opinião.
O presidente do PSB, repetindo que a decisão de retirar a candidatura ainda não foi tomada — na verdade falta ser formalizada —, disse que o que for definido terça-feira pela Executiva do partido terá de ser aceito por todos.
— A decisão que tomaremos vai ser acompanhada por todo o partido, foi isso o pactuado. E isso foi pactuado com ele (Ciro) e com todos os companheiros.
Agora, é hora de ouvir a base do partido, como o Ciro pediu. Não tem saída honrosa, o que tem é um debate democrático — disse Campos. — Se a maioria não quiser, como vamos colocar uma candidatura? Nem quem é pré-candidato quer enfrentar uma situação dessas. O Ciro foi candidato duas vezes e sabe que é preciso ter apoio partidário unificado para isso.
“Vamos deixar passar, né?”
O governador afirmou que a decisão será do PSB, mas admitiu a influência de Lula no processo: — A decisão passa pelos militantes do PSB e não pelo presidente Lula, mas ele é o coordenador do processo de sucessão e sempre nos deu a direção.
O ministro de Relações Institucionais, Alexandre Padilha, defendeu Dilma, ao ser perguntado sobre a declaração de Ciro — de que Serra administraria melhor uma crise econômica: — O presidente Lula não vai comentar a declaração do deputado Ciro. Mas acredito que a comparação entre Dilma e Serra será feita pela população brasileira. A maioria dos partidos demonstra desejo de estar ao lado da ministra Dilma.
A cúpula petista já esperava a reação de Ciro, mas os coordenadores da pré-campanha decidiram não alimentar a polêmica, esperando que ele esfrie a cabeça.
— Vamos deixar passar, né? Ele sossegar o facho. Já esperávamos que, na hora que a coisa ficasse definida, ele iria explodir. Mas isso passa, o Ciro é nosso companheiro, é do bem — afirmou o ex-prefeito de Belo Horizonte e coordenador da pré-campanha de Dilma, Fernando Pimentel.
Dilma não se manifestou. Já os tucanos comemoram mais esse contratempo na candidatura petista.
— Ele tem toda razão quando reconhece a liderança de Serra e a falta de experiência de Dilma — afirmou o presidente do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE).
Deputado afirma que tucano é ‘mais preparado e capaz’ do que petista
Às vésperas de ter sua pré-candidatura retirada por seu partido, o deputado Ciro Gomes (PSB) demonstrou toda sua insatisfação em duas entrevistas ontem, nas quais criticou o presidente Lula e o PT e chegou a dizer que o pré-candidato tucano José Serra – seu notório adversário – é “mais preparado” e “mais capaz” para ser presidente do que a petista Dilma Rousseff. Ao portal iG, afirmou que não vai declarar voto em Dilma. Depois, ao SBT, admitiu apenas que pretende apoiá-la. Em relação a Lula, Ciro disse que o presidente está “navegando na maionese” e se sentindo “todo-poderoso”. O Planalto já tenta diminuir os estragos, para evitar que aliados próximos a Ciro apoiem candidatos tucanos em seus estados, como no Ceará e em Minas.
Ciro mira em Lula, Dilma e PT
Deputado diz que ex-ministra "é melhor como pessoa, mas Serra é mais preparado"
Gerson Camarotti, Cristiane Jungblut e Maria Lima
BRASÍLIA - Com a posição majoritária do PSB pela retirada da candidatura presidencial do deputado e ex-ministro Ciro Gomes, para apoiar a petista Dilma Rousseff, o Palácio do Planalto iniciou uma operação para tentar diminuir o estrago da decisão e evitar que os votos do socialista acabem migrando para o pré-candidato tucano José Serra.
Ontem, Ciro disse que vai “espernear” até terça-feira, quando o PSB deve sacramentar a retirada de sua pré-candidatura. A preocupação aumentou ontem com duas entrevistas dadas por Ciro. Ao portal “iG”, ele criticou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e chegou a dizer que Serra é “mais preparado, mais legítimo, mais capaz” para administrar o país numa eventual crise cambial. Mais tarde, ao telejornal “SBT Brasil”, voltou a dizer que o tucano “é mais bem preparado do que a Dilma”, embora diga que prefere a petista “como pessoa”.
A grande mágoa de Ciro com o processo, em especial com o presidente Lula, ficou explícita nos ataques que fez ontem. Ao “iG”, Ciro criticou Lula, dizendo que ele está “navegando na maionese” e afirmou que não pedirá votos para Dilma. “Não me peçam para ir à televisão declarar o meu voto, que eu não vou”, afirmou ao portal na internet. À noite, no SBT, chegou a negar que dera entrevista ao “iG”, mas, na saída da emissora, admitiu que tivera uma “uma conversa de amigos” com um jornalista do portal, que não esperava ver publicada. Na TV, voltou a criticar o presidente. Segundo Ciro, Lula “está errado” ao insistir numa polarização entre Dilma e Serra.
Eleitor cearense pode retaliar
O tom de Ciro aumentou a preocupação de Lula e do PT, e há um temor especial com o Ceará, onde o socialista liderava com folga as pesquisas de intenção de votos para presidente. Há a constatação de que Dilma poderia ser prejudicada por uma espécie de retaliação do eleitor cearense. Por isso, a estratégia governista é de reaproximar Lula e Ciro, assim que passar esse período inicial de grande mágoa — como Serra conseguiu fazer com o exgovernador Aécio Neves (PSDB-MG) para manter os votos de Minas.
De forma reservada, Lula avaliou ontem que, neste momento, não é possível fazer nada, mas está determinado a buscar a reconciliação, numa “conversa reservada e pessoal” com seu ex-ministro. A orientação de Lula ontem foi a de que se evitasse rebater as críticas de Ciro.
— Deixe passar a dor de cotovelo, deixa ele viajar, depois conversamos.
Não podemos torná-lo hostil — disse Lula, segundo relatos.
De manhã, na conversa reservada que teve no Palácio da Alvorada com o presidente do PSB, o governador Eduardo Campos (PE), e o vice, o exministro Roberto Amaral, Lula já demonstrava receio com a reação de Ciro, mesmo sem conhecer ainda as declarações dele ao portal. Amaral e Campos também foram vítimas dos ataques de Ciro. Segundo o deputado, os dois “não estão no nível que a História impõe a eles”.
No PT, a preocupação do comando da campanha de Dilma é reverter a avaliação de que o cenário sem Ciro é mais favorável a Serra — para evitar que essa impressão se alastre. Já há mobilização para evitar que aliados de Ciro, como o prefeito de Belo Horizonte, Márcio Lacerda, e o próprio governador Cid Gomes (PSB-CE), seu irmão, fiquem liberados para apoiar candidatos tucanos nos seus estados.
Lacerda, apoiado por Aécio Neves, poderia apoiar a candidatura à reeleição do governador Antonio Anastasia (PSDB-MG), enquanto Cid trabalha uma aliança branca pela reeleição do senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) — dois palanques de Serra.
Após o encontro com Lula, na manhã de ontem no Palácio da Alvorada, Eduardo Campos minimizou os ataques de Ciro: — Essa é a opinião do Ciro, não é a minha. Vamos fazer esse debate com tranquilidade. Cada um é livre para colocar sua opinião.
O presidente do PSB, repetindo que a decisão de retirar a candidatura ainda não foi tomada — na verdade falta ser formalizada —, disse que o que for definido terça-feira pela Executiva do partido terá de ser aceito por todos.
— A decisão que tomaremos vai ser acompanhada por todo o partido, foi isso o pactuado. E isso foi pactuado com ele (Ciro) e com todos os companheiros.
Agora, é hora de ouvir a base do partido, como o Ciro pediu. Não tem saída honrosa, o que tem é um debate democrático — disse Campos. — Se a maioria não quiser, como vamos colocar uma candidatura? Nem quem é pré-candidato quer enfrentar uma situação dessas. O Ciro foi candidato duas vezes e sabe que é preciso ter apoio partidário unificado para isso.
“Vamos deixar passar, né?”
O governador afirmou que a decisão será do PSB, mas admitiu a influência de Lula no processo: — A decisão passa pelos militantes do PSB e não pelo presidente Lula, mas ele é o coordenador do processo de sucessão e sempre nos deu a direção.
O ministro de Relações Institucionais, Alexandre Padilha, defendeu Dilma, ao ser perguntado sobre a declaração de Ciro — de que Serra administraria melhor uma crise econômica: — O presidente Lula não vai comentar a declaração do deputado Ciro. Mas acredito que a comparação entre Dilma e Serra será feita pela população brasileira. A maioria dos partidos demonstra desejo de estar ao lado da ministra Dilma.
A cúpula petista já esperava a reação de Ciro, mas os coordenadores da pré-campanha decidiram não alimentar a polêmica, esperando que ele esfrie a cabeça.
— Vamos deixar passar, né? Ele sossegar o facho. Já esperávamos que, na hora que a coisa ficasse definida, ele iria explodir. Mas isso passa, o Ciro é nosso companheiro, é do bem — afirmou o ex-prefeito de Belo Horizonte e coordenador da pré-campanha de Dilma, Fernando Pimentel.
Dilma não se manifestou. Já os tucanos comemoram mais esse contratempo na candidatura petista.
— Ele tem toda razão quando reconhece a liderança de Serra e a falta de experiência de Dilma — afirmou o presidente do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE).
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