SÃO PAULO - Ciro Gomes implodiu a ponte que o conectava ao continente do lulismo. Sua reação ao estrangulamento de sua candidatura foi além do que esperavam os petistas. Fora da sucessão, Ciro abriu fogo pesado em várias frentes:
1. Questionou a onipotência de Lula ("Ele está se sentindo o Todo-Poderoso e acha que vai batizar Dilma presidente");
2. Colocou em dúvida a competência de Dilma Rousseff ("Dilma é melhor do que o Serra como pessoa. Mas o Serra é mais preparado, mais legítimo, mais capaz")
3. Apostou na vitória do tucano ("Minha sensação agora é que o Serra vai ganhar esta eleição");
4. Disse que Dilma e o PMDB não têm condições de enfrentar a crise econômica que se projeta no horizonte ("Em 2011 ou 2012, o Brasil vai enfrentar uma crise fiscal, uma crise cambial. Como o PT, apoiado pelo PMDB, vai conseguir enfrentar essa crise? Dilma não aguenta. Serra tem mais chances de conseguir").
São declarações publicadas pelo site noticioso iG, em reportagem de Eduardo Oinegue. Ontem, Ciro disse que havia conversado com o jornalista em "off", deixando claro que não concedia uma entrevista.
Pode-se tomar suas palavras como uma explosão a mais, outro destempero de alguém que os coleciona. Essa é a interpretação mais cômoda para os aliados de Dilma diante do evidente desconforto.
No surto de Ciro, porém, parece haver um recado político que vai além da sua agonia pessoal. O fio desencapado pode estar expondo os limites de um arranjo de poder que abriga interesses demais. Sua fala seria um aviso de que o amplo consórcio lulista passa a viver sob a ameaça de um curto-circuito. Um aviso de que o poder de Lula para manobrar a própria sucessão não é incontrastável, como não é ilimitada a tutela sobre os aliados.
Na boca de Ciro, a sugestão de que Dilma é "menos legítima, menos capaz, menos preparada" é um soco no estômago. Ela é música para os ouvidos do adversário do PT. Sim, Serra, aquele que "é mais feio por dentro do que por fora".
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