DEU EM O GLOBO
“A situação do Irã é indefensável”. É assim, sem rodeios, que o sociólogo francês Alain Touraine define a crise política internacional envolvendo o programa nuclear iraniano e o governo de Teerã. Mas Touraine também não procura subterfúgios para defender a solução mais adequada para a crise: “Sou a favor de qualquer coisa, menos de um ataque contra o Irã”.
Por “qualquer coisa” ele compreende até mesmo as sanções econômicas que os Estados Unidos pretendem aprovar no Conselho de Segurança da ONU, às quais o Brasil é dos poucos países que se opõem.
Touraine não acredita em acordos com o governo do Irã, e acha que é preciso ganhar tempo para criar as condições para que “o próprio povo iraniano” se livre do atual governo, o que ele considera que “não está longe de acontecer”.
A situação da política nuclear do Irã, tendo como pano de fundo a posição quase isolada do Brasil de insistir na possibilidade de negociação, evitando sanções econômicas, é um dos temas subjacentes da XXI Conferência da Academia da Latinidade, que busca num “novo humanismo” a saída para a possibilidade de um entendimento internacional.
Segundo Candido Mendes, sociólogo brasileiro secretário-geral da Academia da Latinidade, esta conferência em Córdoba, na Espanha, é consequência de duas outras, uma em Oslo, “em que nos demos conta das limitações culturais da noção dos Direitos Humanos”; e outra no Cairo, “onde verificamos que está havendo uma renovação do sentido religioso, independentemente de sua guerra”.
Como “o laicismo não é o desfecho da modernidade, como se pensava”, Candido Mendes diz que é preciso encontrar que plataforma existe para além do laicismo e para além da guerra das religiões para retomar a ideia de um entendimento internacional. “Daí o novo humanismo”.
Candido Mendes uniu o trabalho de uma década à frente da Academia da Latinidade ao do Grupo de Alto Nível da ONU para a Aliança das Civilizações, para o qual foi nomeado embaixador brasileiro, nessa busca do diálogo, mesmo que o consenso esteja cada vez mais difícil.
Para Candido Mendes, a posição brasileira em relação ao Irã está muito ligada à nova emergência internacional do país, que se desliga da América Latina e sabe que vai ter um protagonismo muito importante nos BRICs, especialmente em relação à Índia e à China.
“O Brasil quer se dissociar da Guerra Fria e da visão bushniana de ‘países bandidos’”. Para o sociólogo brasileiro, a posição do Brasil procuraria “abrir uma chance para que vença esta premissa”.
A ideia de apoiar o Irã é, para ele, muito mais uma busca de uma posição excêntrica à dos “eixos do mal” do que qualquer outra coisa. Candido Mendes faz uma ressalva, porém: “Evidentemente que essa situação não pode chegar à bênção da violação sistemática dos direitos humanos”.
A posição do governo iraniano no caso não se compatibiliza com a defesa dos direitos humanos, e o Brasil vai chegar até o ponto, na análise de Candido Mendes, de que as Nações Unidas ouçam a proposta nuclear iraniana e que, a partir disso, se entre numa certa lógica de concertação, e não de confronto.
“Acho que o Brasil esticou muito a corda, e estamos no limite. Os direitos humanos não são uma ideologia, e muito menos instrumento de dominação do Ocidente como a Síria tenta fazer crer”, reforça Candido Mendes.
A posição mais próxima do consenso internacional do ministro das Relações Exteriores do Brasil, Celso Amorim, em Teerã, quando afirmou que o Irã tem que dar garantias à comunidade internacional de que seu programa nuclear não tem objetivos militares, parece ser uma mudança no sentido apontado por Candido Mendes.
Renato Janine Ribeiro, professor de Ética e Filosofia Política da USP que participa da Conferência de Córdoba, tem posição semelhante, especialmente em relação aos direitos humanos: “Para mim, está muito claro onde discordo da política externa brasileira.
Globalmente, ela é positiva, e onde eu a critico mais é em relação a Cuba”.
O professor Janine Ribeiro acha que o Brasil deveria ter tomado uma posição clara em relação aos direitos humanos em Cuba, “inclusive porque certamente o presidente Lula teria mais influência sobre Fidel Castro do que sobre o governante do Irã”.
No caso do Irã, o professor da USP considera importante levar as negociações o mais longe possível.
Na questão latino-americana, Janine Ribeiro considera que Cuba é um assunto delicado porque “praticamente todo mundo é contra o bloqueio americano a Cuba, e boa parte das pessoas é contra a política de direitos humanos cubana”.
No caso do Irã, entra o aspecto do Iraque. “A invasão dos Estados Unidos foi tão calamitosa que deixou um problema muito sério a qualquer ameaça do uso da força no Oriente Médio por parte dos Estados Unidos e seus aliados”, avalia o professor da USP.
Embora considere positivo tentar o máximo de negociação possível, Janine Ribeiro não acha correto o presidente Lula dizer que toda oposição se queixa da vitória eleitoral, comparando os protestos da oposição iraniana aos de torcidas de futebol.
“Até acredito que seja possível que o presidente do Irã tenha sido eleito pela maioria, que no interior do país o presidente tenha tido uma votação majoritária.
Mas é inaceitável reprimir, ainda mais com a forca, pessoas que se manifestam contra lisura da eleição, mesmo que a eleição tenha sido legal”.
Embora considere que o Brasil poderia ter posições mais duras do que tem tido, Renato Janine Ribeiro concorda com o governo brasileiro em que de fato temos que esgotar toda possibilidade de negociação.
“A situação do Irã é indefensável”. É assim, sem rodeios, que o sociólogo francês Alain Touraine define a crise política internacional envolvendo o programa nuclear iraniano e o governo de Teerã. Mas Touraine também não procura subterfúgios para defender a solução mais adequada para a crise: “Sou a favor de qualquer coisa, menos de um ataque contra o Irã”.
Por “qualquer coisa” ele compreende até mesmo as sanções econômicas que os Estados Unidos pretendem aprovar no Conselho de Segurança da ONU, às quais o Brasil é dos poucos países que se opõem.
Touraine não acredita em acordos com o governo do Irã, e acha que é preciso ganhar tempo para criar as condições para que “o próprio povo iraniano” se livre do atual governo, o que ele considera que “não está longe de acontecer”.
A situação da política nuclear do Irã, tendo como pano de fundo a posição quase isolada do Brasil de insistir na possibilidade de negociação, evitando sanções econômicas, é um dos temas subjacentes da XXI Conferência da Academia da Latinidade, que busca num “novo humanismo” a saída para a possibilidade de um entendimento internacional.
Segundo Candido Mendes, sociólogo brasileiro secretário-geral da Academia da Latinidade, esta conferência em Córdoba, na Espanha, é consequência de duas outras, uma em Oslo, “em que nos demos conta das limitações culturais da noção dos Direitos Humanos”; e outra no Cairo, “onde verificamos que está havendo uma renovação do sentido religioso, independentemente de sua guerra”.
Como “o laicismo não é o desfecho da modernidade, como se pensava”, Candido Mendes diz que é preciso encontrar que plataforma existe para além do laicismo e para além da guerra das religiões para retomar a ideia de um entendimento internacional. “Daí o novo humanismo”.
Candido Mendes uniu o trabalho de uma década à frente da Academia da Latinidade ao do Grupo de Alto Nível da ONU para a Aliança das Civilizações, para o qual foi nomeado embaixador brasileiro, nessa busca do diálogo, mesmo que o consenso esteja cada vez mais difícil.
Para Candido Mendes, a posição brasileira em relação ao Irã está muito ligada à nova emergência internacional do país, que se desliga da América Latina e sabe que vai ter um protagonismo muito importante nos BRICs, especialmente em relação à Índia e à China.
“O Brasil quer se dissociar da Guerra Fria e da visão bushniana de ‘países bandidos’”. Para o sociólogo brasileiro, a posição do Brasil procuraria “abrir uma chance para que vença esta premissa”.
A ideia de apoiar o Irã é, para ele, muito mais uma busca de uma posição excêntrica à dos “eixos do mal” do que qualquer outra coisa. Candido Mendes faz uma ressalva, porém: “Evidentemente que essa situação não pode chegar à bênção da violação sistemática dos direitos humanos”.
A posição do governo iraniano no caso não se compatibiliza com a defesa dos direitos humanos, e o Brasil vai chegar até o ponto, na análise de Candido Mendes, de que as Nações Unidas ouçam a proposta nuclear iraniana e que, a partir disso, se entre numa certa lógica de concertação, e não de confronto.
“Acho que o Brasil esticou muito a corda, e estamos no limite. Os direitos humanos não são uma ideologia, e muito menos instrumento de dominação do Ocidente como a Síria tenta fazer crer”, reforça Candido Mendes.
A posição mais próxima do consenso internacional do ministro das Relações Exteriores do Brasil, Celso Amorim, em Teerã, quando afirmou que o Irã tem que dar garantias à comunidade internacional de que seu programa nuclear não tem objetivos militares, parece ser uma mudança no sentido apontado por Candido Mendes.
Renato Janine Ribeiro, professor de Ética e Filosofia Política da USP que participa da Conferência de Córdoba, tem posição semelhante, especialmente em relação aos direitos humanos: “Para mim, está muito claro onde discordo da política externa brasileira.
Globalmente, ela é positiva, e onde eu a critico mais é em relação a Cuba”.
O professor Janine Ribeiro acha que o Brasil deveria ter tomado uma posição clara em relação aos direitos humanos em Cuba, “inclusive porque certamente o presidente Lula teria mais influência sobre Fidel Castro do que sobre o governante do Irã”.
No caso do Irã, o professor da USP considera importante levar as negociações o mais longe possível.
Na questão latino-americana, Janine Ribeiro considera que Cuba é um assunto delicado porque “praticamente todo mundo é contra o bloqueio americano a Cuba, e boa parte das pessoas é contra a política de direitos humanos cubana”.
No caso do Irã, entra o aspecto do Iraque. “A invasão dos Estados Unidos foi tão calamitosa que deixou um problema muito sério a qualquer ameaça do uso da força no Oriente Médio por parte dos Estados Unidos e seus aliados”, avalia o professor da USP.
Embora considere positivo tentar o máximo de negociação possível, Janine Ribeiro não acha correto o presidente Lula dizer que toda oposição se queixa da vitória eleitoral, comparando os protestos da oposição iraniana aos de torcidas de futebol.
“Até acredito que seja possível que o presidente do Irã tenha sido eleito pela maioria, que no interior do país o presidente tenha tido uma votação majoritária.
Mas é inaceitável reprimir, ainda mais com a forca, pessoas que se manifestam contra lisura da eleição, mesmo que a eleição tenha sido legal”.
Embora considere que o Brasil poderia ter posições mais duras do que tem tido, Renato Janine Ribeiro concorda com o governo brasileiro em que de fato temos que esgotar toda possibilidade de negociação.
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