sábado, 8 de maio de 2010

Palanque aberto para Dilma

DEU NO JORNAL DO COMMERCIO (PE)

No evento que lhe serviu como palanque, ex-ministra não discursou, conforme manda a lei eleitoral. No entanto, foi tão citada quanto o navio inaugurado

Cecília Ramos

A histórica cerimônia que marcou o renascimento da indústria naval do Brasil, ontem, em Suape, serviu também como cenário para o primeiro evento de Dilma Rousseff (PT) como pré-candidata à Presidência da República ao lado do padrinho político, o presidente Lula. A ex-ministra, posicionada na primeira fila no palco, apenas assistiu ao ato, sem direito a discursar, como recomenda a Justiça Eleitoral. Ao mesmo tempo, teve tratamento de quem tem máquina pública ao seu favor. Dilma foi tão citada quanto o navio João Cândido, que custou US$ 182 milhões e foi batizado ontem.

Dilma, chamada de “madrinha da retomada da indústria naval”, por alguns, ontem, justificou sua presença no evento pois disse ter feito parte da “luta pelo estaleiro” desde 2003. “Fiquei muito emocionada quando vi o navio saindo, porque diziam que isso era inviável”.

A presidenciável foi celebrada em todos os discursos em Suape – de Lula ao presidente do sindicato dos metalúrgicos de Pernambuco, Alberto dos Santos, o Betão, que finalizou com um “Bom Dilma!” (trocadilho com bom dia). “Vamos votar em quem o senhor, presidente Lula, indicar, para continuar seu projeto”. O presidente da Petrobras, Sérgio Gabrielli, recordou, numa farpa à oposição, que o Estaleiro Atlântico Sul foi chamado de “virtual”. E aproveitou para citar que Dilma foi “fundamental” para o estaleiro virar realidade.

O governador Eduardo Campos, mais discreto, falou por 14 minutos, e citou a importância da ex-ministra como parceira do Estado. Lula chegou a chorar no início da cerimônia, ao assistir um vídeo com depoimentos de trabalhadores do estaleiro. Depois, no seu discurso de 36 minutos, foi só diversão. Em uma das citações à pupila, fez a plateia gargalhar. Ele vira-se para a ex-ministra e diz: “Como é que se chama, Dilma, o que produz trilho?”. Ela responde e Lula volta ao discurso. “Ah, laminador! Fui consultar os universitários, gente!”.

Numa tentativa de mostrar que está descolada do estafe de Lula, Dilma chegou ontem a Suape cerca de 20 minutos antes do presidente. Estava com assessores (o de imprensa, por exemplo, trabalhou com Lula até dia desses). Ela quis logo ver o navio de perto e teve a companhia de Sérgio Gabrielli. Acessível, ela falou rapidamente à imprensa. Ela afirmou que lhe causou estranheza a declaração do presidenciável José Serra (PSDB) de que convidaria o PT e o PV para governarem com ele, caso seja eleito. “Agora que o governo tem 75% aprovação e o presidente 90% é muito estranho!”, disse.

De Suape, Dilma seguiu para São Paulo. Lula foi para a Imbiribeira. Lá, disse à imprensa que não há surpresa nas críticas à presença da ex-ministra. “Os que criticam são adversários dela. E deles eu não espero elogios. Dilma não é mais ministra, e só vai se for convidada. E ela foi convidada pelos empresários”.

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