DEU NO JORNAL DO BRASIL
Mais cedo ou mais tarde (de preferência a segunda hipótese), quem não se deixa ofuscar por pesquisas de opinião vai reconhecer que já deveria ter desconfiado de que o foco da sucessão deste ano realçou com mais tinta o presidente Lula em relação à sucessão em 2014 do que, daqui a quatro meses, a própria candidata Dilma Rousseff. Ouvirá a explicação de que foi razão tática. Até aqui a campanha eleitoral reincidiu exageradamente na embromação do eleitor com elogios que o próprio Luiz Inácio Lula da Silva não se poupa, enquanto a oposição ainda não sabe por onde recomeçar. A campanha empacou, e a Copa do Mundo serve de desculpa esfarrapada para tudo que está em jogo.
Quem é de se preocupar com fatos menores tende a se contentar com a aparência, mas nada tem a declarar sobre a candidata Dilma Rousseff, que acaba de pôr os pés no patamar que lhe permite ver de mais perto o parceiro José Serra dois pontos para cima ou para abaixo não importam no seu horizonte. Nenhum dos dois quer atirar a primeira pedra. O eleitorado não se recusa a arriscar juízos de valor definitivos sobre os personagens, e seus currículos, mas espera que as respectivas propostas de governo não venham a ser programas de índio.
Há dois anos dona Dilma vinha trotando na trilha presidencial, enquanto Lula se esquivava ao foco do terceiro mandato para não ficar mal com o que o país tem de melhor, que vem a ser a consciência democrática aguçada. Na segunda metade do século passado, a própria eleição indireta tornou-se a saída de emergência para a ditadura. E a oposição, antes de botar para fora a eleição indireta, a utilizou como última ratio para a ditadura sair de cena e não mais voltar. Foi a última gentileza e guardou como lembrança a honra de chegar ao poder graças à moral da fábula.
As pesquisas de opinião estão sustentando, nas movediças margens de oscilação para mais e para menos, o clima eleitoral, e contribuindo para a normalidade de eleições presidenciais desde que os constituintes de 1986/88, sentindo-se na própria casa da sogra, desataram alguns nós que perturbavam a vida republicana nos períodos legais e hiatos ditatoriais. Eram resultados francamente pífios para um país que se considerava herdeiro do futuro. A temporada democrática anterior (1945-1964) não havia resistido à maioria simples para eleger presidentes. Cada sucessão, uma baixaria golpista Finalmente, a maioria absoluta veio, viu e ficou. As pesquisas também vão para a História do Brasil.
Não foi só a maioria absoluta, cuja sabedoria é exigir do vencedor a metade do total de votos mais um de lambujem, que extirpou pela raiz o golpismo que contaminava a pureza democrática na fonte republicana. Por fora do constitucionalismo fervente, discreta como é da preferência mineira, a pesquisa eleitoral teve função didática que ainda espera o levantamento histórico de sua contribuição pelo menos no Brasil para a democracia, finalmente, dizer a que veio.
As pesquisas prepararam o brasileiro para aceitar o resultado da eleição sem desatino emocional. O teste foi a eleição de Lula, que veio devagar, pelas bordas, até o mingau esfriar, como preferia Leonel Brizola, mas ficou para ele. Elegeu-se, reelegeu-se e quase conseguia por fora um terceiro mandato. Em conclusão: aquele oposicionismo de chiliques está curado. O acompanhamento das oscilações, pequenas ou grandes, no curso das campanhas eleitorais, neutraliza os desatinos golpistas que privavam da razão a anterior oposição. O custo das pesquisas é muito inferior à farta distribuição de preservativos pelo Ministério da Saúde. E mais barato do que a oferta oficial de tranquilizantes ao eleitor médio, que se desincumbe do ato de votar e não mais quer saber do que será que será. Finalmente, o brasileiro descobriu que uma eleição perdida não é o fim do mundo. Nem sequer paga o custo de uma ditadura a mais ou a menos.
Em vez da criação de dias nacionais disto e daquilo, os legisladores poderiam juntar-se e propor, entre Rio e São Paulo, um monumento imponente às pesquisas de opinião como um dos pilares com que a democracia pode contar no Brasil. Claro, enquanto achar que vale a pena.
Mais cedo ou mais tarde (de preferência a segunda hipótese), quem não se deixa ofuscar por pesquisas de opinião vai reconhecer que já deveria ter desconfiado de que o foco da sucessão deste ano realçou com mais tinta o presidente Lula em relação à sucessão em 2014 do que, daqui a quatro meses, a própria candidata Dilma Rousseff. Ouvirá a explicação de que foi razão tática. Até aqui a campanha eleitoral reincidiu exageradamente na embromação do eleitor com elogios que o próprio Luiz Inácio Lula da Silva não se poupa, enquanto a oposição ainda não sabe por onde recomeçar. A campanha empacou, e a Copa do Mundo serve de desculpa esfarrapada para tudo que está em jogo.
Quem é de se preocupar com fatos menores tende a se contentar com a aparência, mas nada tem a declarar sobre a candidata Dilma Rousseff, que acaba de pôr os pés no patamar que lhe permite ver de mais perto o parceiro José Serra dois pontos para cima ou para abaixo não importam no seu horizonte. Nenhum dos dois quer atirar a primeira pedra. O eleitorado não se recusa a arriscar juízos de valor definitivos sobre os personagens, e seus currículos, mas espera que as respectivas propostas de governo não venham a ser programas de índio.
Há dois anos dona Dilma vinha trotando na trilha presidencial, enquanto Lula se esquivava ao foco do terceiro mandato para não ficar mal com o que o país tem de melhor, que vem a ser a consciência democrática aguçada. Na segunda metade do século passado, a própria eleição indireta tornou-se a saída de emergência para a ditadura. E a oposição, antes de botar para fora a eleição indireta, a utilizou como última ratio para a ditadura sair de cena e não mais voltar. Foi a última gentileza e guardou como lembrança a honra de chegar ao poder graças à moral da fábula.
As pesquisas de opinião estão sustentando, nas movediças margens de oscilação para mais e para menos, o clima eleitoral, e contribuindo para a normalidade de eleições presidenciais desde que os constituintes de 1986/88, sentindo-se na própria casa da sogra, desataram alguns nós que perturbavam a vida republicana nos períodos legais e hiatos ditatoriais. Eram resultados francamente pífios para um país que se considerava herdeiro do futuro. A temporada democrática anterior (1945-1964) não havia resistido à maioria simples para eleger presidentes. Cada sucessão, uma baixaria golpista Finalmente, a maioria absoluta veio, viu e ficou. As pesquisas também vão para a História do Brasil.
Não foi só a maioria absoluta, cuja sabedoria é exigir do vencedor a metade do total de votos mais um de lambujem, que extirpou pela raiz o golpismo que contaminava a pureza democrática na fonte republicana. Por fora do constitucionalismo fervente, discreta como é da preferência mineira, a pesquisa eleitoral teve função didática que ainda espera o levantamento histórico de sua contribuição pelo menos no Brasil para a democracia, finalmente, dizer a que veio.
As pesquisas prepararam o brasileiro para aceitar o resultado da eleição sem desatino emocional. O teste foi a eleição de Lula, que veio devagar, pelas bordas, até o mingau esfriar, como preferia Leonel Brizola, mas ficou para ele. Elegeu-se, reelegeu-se e quase conseguia por fora um terceiro mandato. Em conclusão: aquele oposicionismo de chiliques está curado. O acompanhamento das oscilações, pequenas ou grandes, no curso das campanhas eleitorais, neutraliza os desatinos golpistas que privavam da razão a anterior oposição. O custo das pesquisas é muito inferior à farta distribuição de preservativos pelo Ministério da Saúde. E mais barato do que a oferta oficial de tranquilizantes ao eleitor médio, que se desincumbe do ato de votar e não mais quer saber do que será que será. Finalmente, o brasileiro descobriu que uma eleição perdida não é o fim do mundo. Nem sequer paga o custo de uma ditadura a mais ou a menos.
Em vez da criação de dias nacionais disto e daquilo, os legisladores poderiam juntar-se e propor, entre Rio e São Paulo, um monumento imponente às pesquisas de opinião como um dos pilares com que a democracia pode contar no Brasil. Claro, enquanto achar que vale a pena.
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