Pimentel será isolado da campanha de Dilma
Supostos dossiês contra Serra complicam ex-prefeito de BH, que será empurrado para cuidar só da própria candidatura
Maria Lima e Fábio Fabrini
ELEIÇÕES 2010: Ligação com Lanzetta enfraqueceu mineiro; presidente do PT e Palocci se fortalecem no comando
BRASÍLIA. O afastamento do jornalista Luiz Lanzetta não será a única baixa no comando da campanha da pré-candidata petista Dilma Rousseff. Considerado um homem-problema não só por causa do episódio dos supostos dossiês contra o tucano José Serra e a vinculação com Lanzetta, mas também devido ao impasse na aliança com o PMDB mineiro, o ex-prefeito de Belo Horizonte Fernando Pimentel será isolado do núcleo duro da campanha. Com isso, se fortalecem no comando o presidente do PT, José Eduardo Dutra, e o deputado Antonio Palocci (SP), que desistiram de disputar a eleição para ter exclusividade na coordenação.
A estratégia para afastar Pimentel sem alarde é empurrá-lo para cuidar de sua candidatura ao Senado ou, numa hipótese menos provável, ao governo de Minas. Ontem, o grupo do exprefeito insistia em lançá-lo como cabeça de chapa, o que a cúpula do PT rejeita. A avaliação reservada entre os petistas é que o braço direito de Dilma vai perder duplamente: seu posto na coordenação da campanha presidencial e a candidatura ao Palácio Tiradentes.
Hoje, a Executiva do PT deve desautorizar o PT mineiro e decidir pelo apoio a Hélio Costa, do PMDB, tendo Pimentel apenas como candidato ao Senado.
Nos bastidores, a direção do PT e o presidente Lula já não perdoavam Pimentel pela aliança em 2008 com o então governador Aécio Neves (PSDB), quando ele afiançou a candidatura de Marcio Lacerda (PSB) e, assim, pôs a prefeitura de Belo Horizonte no colo da oposição. Agora, a sua situação piorou muito por causa da crise do dossiê.
‘Palocci vai ficar mais forte’
Até mesmo aliados de Pimentel reconhecem que ele “foi trapalhão” na escolha de Lanzetta, pois entregou a um amador o núcleo de inteligência da campanha petista. Outro erro teria sido a aproximação com o empresário Benedito Oliveira Neto, proprietário da companhia de eventos Dialog, investigada pelo Tribunal de Contas da União (TCU) e a Controladoria Geral da União (CGU).
De acordo com aliados seus, o afastamento de Pimentel do QG de Dilma vai ocorrer após as convenções partidárias do PMDB e do PT, marcadas para o próximo fim de semana.
A campanha oficial começa dia 5 de julho.
— O Palocci já é muito forte e vai ficar mais forte — admitiu o secretário nacional de Comunicação do PT, deputado André Vargas (PR).
Amigo pessoal de Dilma desde os tempos da militância nos grupos de luta armada, o exprefeito conquistou a antipatia do grupo paulista da pré-campanha petista. Principalmente do coordenador de comunicação, Rui Falcão, e de Palocci.
Falcão — ao descobrir que Lanzetta estaria montando um grupo de espionagem, inclusive do grupo paulista na campanha, e que a operação teria tido o aval de Fernando Pimentel — teria cuidado de vazar as informações sobre a montagem dos supostos dossiês para queimar os dois integrantes do grupo mineiro internamente.
Mesmo com a confusão dos supostos dossiês, Dilma Rousseff tem resistido ao afastamento de Pimentel, apontado como o político mais próximo a ela dentro da campanha.
Mas, ainda assim, a situação dele é insustentável.
O deputado Virgílio Guimarães (PT-MG), do grupo de Pimentel em Minas, nega que o aliado político vá ser afastado da campanha por causa da confusão dos supostos dossiês.
Admite apenas que, se ele for candidato, haverá um afastamento natural.
— Se o Pimentel for candidato ao Senado, ele vai ter que cuidar da campanha dele. Já o Dutra e o Palocci não serão candidatos e poderão se dedicar à campanha de Dilma — disse Virgílio.
Antes do estouro do escândalo dos dossiês, Pimentel e seus aliados apostavam que, mesmo com a sua candidatura ao Senado, ele permaneceria no núcleo da campanha de Dilma. O que agora é praticamente descartado por companheiros petistas.
— Só vou me desligar da campanha da Dilma se for candidato ao governo de Minas.
Se for candidato ao Senado, vou acumular — dissera Pimentel há cerca de dez dias, na sabatina dos candidatos na Confederação Nacional da Indústria (CNI).
Aliados negam desgaste
Procurado ontem pelo GLOBO, Pimentel não atendeu às ligações.
Outros aliados seus negaram o desgaste e atribuíram o episódio do dossiê a uma reação dos tucanos à escalada de Dilma Rousseff nas pesquisas.
— Isso aí é especulação. O Serra está caindo, não consegue encontrar nenhum vice e agora está indo para o desespero.
Vocês sabem que quem entende de dossiê é o Serra — afirmou o presidente do PT de Minas, Reginaldo Lopes.
Após o desligamento de Lanzetta da campanha, uma nova empresa deverá substituir a sua firma, a Lanza Comunicação, e manter os jornalistas que já estão integrados à assessoria da pré-candidata petista.
Lanzetta anunciou seu afastamento sábado, após publicação de entrevista na qual o exdelegado da Polícia Federal Onésimo de Sousa afirma que foi convidado por Pimentel para uma conversa, no mês passado, mas quem o encontrou foi Lanzetta, que lhe teria proposto montar um grupo de espionagem.
O ex-prefeito nega que tenha proposto a conversa ou a autorizado. Lanzetta admite o encontro, mas afirma ter sido procurado por Onésimo.
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