DEU EM O GLOBO
Entrevista
Ao ficar sabendo que seu nome tinha sido indevidamente incluído na lista de apoiadores de Dilma, o cineasta José Padilha levou um susto e não quis acreditar.
Até então, não deixara qualquer dúvida, a todos que o pressionaram a assinar o manifesto, de que não iria associar o seu nome à campanha. Atordoado, ligou para amigos, buscando conselhos sobre o que fazer. Chegou a pensar em processar o PT, mas desistiu. Preferiu, na manhã seguinte (ontem), divulgar uma nota pelo blog, aberta com uma citação do escritor e filósofo americano Henry David Thoreau, autor do célebre ensaio “Desobediência civil”.
Luiz Antônio Novaes
O GLOBO: Se você não assinou o manifesto, como seu nome foi parar na lista anunciada ontem (segundafeira) à noite?
JOSÉ PADILHA: Não sei. É o que eu quero descobrir. Ou é coisa de má-fé ou babaquice
Mas alguém o procurou para tentar convencê-lo a assinar?
PADILHA: Sim. Recebi um e-mail de um amigo, cujo nome prefiro não dizer, perguntando se eu queria assinar. Eu fui claro e direto: “Não, muito obrigado. Eu não quero politizar o meu filme. Os dois partidos, nestas eleições, não têm política de segurança pública”.
E como ficou sabendo que estava na lista?
PADILHA: Fui avisado por alguém que foi ao ato. Liguei imediatamente para o meu amigo, que, para provar que não tinha me incluído indevidamente, me mandou a lista original, com mais de cinco mil nomes. Eu, de fato, não estava lá. Ou seja: meu nome só entrou na última hora, numa lista que fizeram à parte, com os que consideraram mais destacados apoiadores da Dilma. Algum zé-mané fez isso.
Não houve outro tipo de pressão para você assinar? Ninguém do governo ou do comando da campanha o procurou?
PADILHA: O que houve, nos últimos dias, foi uma blitz de um grupo que apoia a Dilma. Recebi apelos de umas 200 pessoas...
Todos artistas?
PADILHA: Sim, do meio. Para todas elas, eu disse o mesmo: esta é uma campanha marcada pela falta de ética e pela mentira dos dois lados. A Dilma mente quando diz que é contra o aborto, e o Serra mente quando fala que acredita em Deus. Eu, pelo menos, não acredito em nenhum dos dois.
E em nenhuma conversa chegaram a dizer abertamente ou a insinuar que, caso não assinasse, você ou o setor de cinema poderia enfrentar problemas com o governo, problemas de verba, de financiamento de filmes?
PADILHA: Não, se fizessem isso seria inútil. Sabiam que eu não cederia.
Se todos conheciam a sua posição, o que pode ter pensado quem incluiu seu nome na lista? Que, no fundo, você iria se calar com medo de represálias?
PADILHA: Não sei se pensou assim. E não quero pensar isso, pois estaria pensando como eles. Sinceramente, não sei.
Se fizeram isso com você, um cineasta em total evidência, num ponto alto da carreira, o que podem ter feito com outros artistas não tão fortes assim?
PADILHA: Não sei. Vamos ter de descobrir o que houve.
Entrevista
Ao ficar sabendo que seu nome tinha sido indevidamente incluído na lista de apoiadores de Dilma, o cineasta José Padilha levou um susto e não quis acreditar.
Até então, não deixara qualquer dúvida, a todos que o pressionaram a assinar o manifesto, de que não iria associar o seu nome à campanha. Atordoado, ligou para amigos, buscando conselhos sobre o que fazer. Chegou a pensar em processar o PT, mas desistiu. Preferiu, na manhã seguinte (ontem), divulgar uma nota pelo blog, aberta com uma citação do escritor e filósofo americano Henry David Thoreau, autor do célebre ensaio “Desobediência civil”.
Luiz Antônio Novaes
O GLOBO: Se você não assinou o manifesto, como seu nome foi parar na lista anunciada ontem (segundafeira) à noite?
JOSÉ PADILHA: Não sei. É o que eu quero descobrir. Ou é coisa de má-fé ou babaquice
Mas alguém o procurou para tentar convencê-lo a assinar?
PADILHA: Sim. Recebi um e-mail de um amigo, cujo nome prefiro não dizer, perguntando se eu queria assinar. Eu fui claro e direto: “Não, muito obrigado. Eu não quero politizar o meu filme. Os dois partidos, nestas eleições, não têm política de segurança pública”.
E como ficou sabendo que estava na lista?
PADILHA: Fui avisado por alguém que foi ao ato. Liguei imediatamente para o meu amigo, que, para provar que não tinha me incluído indevidamente, me mandou a lista original, com mais de cinco mil nomes. Eu, de fato, não estava lá. Ou seja: meu nome só entrou na última hora, numa lista que fizeram à parte, com os que consideraram mais destacados apoiadores da Dilma. Algum zé-mané fez isso.
Não houve outro tipo de pressão para você assinar? Ninguém do governo ou do comando da campanha o procurou?
PADILHA: O que houve, nos últimos dias, foi uma blitz de um grupo que apoia a Dilma. Recebi apelos de umas 200 pessoas...
Todos artistas?
PADILHA: Sim, do meio. Para todas elas, eu disse o mesmo: esta é uma campanha marcada pela falta de ética e pela mentira dos dois lados. A Dilma mente quando diz que é contra o aborto, e o Serra mente quando fala que acredita em Deus. Eu, pelo menos, não acredito em nenhum dos dois.
E em nenhuma conversa chegaram a dizer abertamente ou a insinuar que, caso não assinasse, você ou o setor de cinema poderia enfrentar problemas com o governo, problemas de verba, de financiamento de filmes?
PADILHA: Não, se fizessem isso seria inútil. Sabiam que eu não cederia.
Se todos conheciam a sua posição, o que pode ter pensado quem incluiu seu nome na lista? Que, no fundo, você iria se calar com medo de represálias?
PADILHA: Não sei se pensou assim. E não quero pensar isso, pois estaria pensando como eles. Sinceramente, não sei.
Se fizeram isso com você, um cineasta em total evidência, num ponto alto da carreira, o que podem ter feito com outros artistas não tão fortes assim?
PADILHA: Não sei. Vamos ter de descobrir o que houve.
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