Por Priscila Muniz
Após mais de três décadas na política pernambucana, o presidente nacional do PPS mudou de domicílio eleitoral e foi eleito deputado federal pelo Estado de São Paulo, com 121.471 votos. A mudança desencadeou críticas de rivais políticos de Roberto Freire, que afirmaram que ele foi para São Paulo porque não tinha mais força política em Pernambuco. Nas últimas eleições que disputou no Estado, em 2002, Freire obteve 54.003 votos, número que garantiu sua vaga no limiar da lista dos eleitos. Em 2006, Freire não disputou a renovação do mandato, sendo candidato a suplente do senador Jarbas Vasconcelos (PMDB).
O político, que iniciou a vida pública no Partido Comunista Brasileiro (PCB), vem ao Recife na próxima quarta-feira (20). O JC Online publica uma entrevista exclusiva com o deputado eleito. Nela, Roberto Freire fala, além da mudança no Estado que representará, do desempenho de seu partido nas eleições, da corrida presidencial no segundo turno e da sua visão sobre o Governo Lula.
O político, que iniciou a vida pública no Partido Comunista Brasileiro (PCB), vem ao Recife na próxima quarta-feira (20). O JC Online publica uma entrevista exclusiva com o deputado eleito. Nela, Roberto Freire fala, além da mudança no Estado que representará, do desempenho de seu partido nas eleições, da corrida presidencial no segundo turno e da sua visão sobre o Governo Lula.
Confira:
JC Online - Eleitos os proporcionais, como o senhor avalia o desempenho do PPS, partido que preside?
Roberto Freire - O PPS teve um desempenho que era mais ou menos o esperado. Nós perdemos uma cadeira de deputado em relação ao que tínhamos, mas ganhamos um senador, que não tínhamos. Eu diria que o partido aguentou bem o tranco de ter sido uma oposição muito presente ao Governo Lula, e podemos dizer que saímos do pleito sem sofrer uma derrota, ao contrário do que o governo imaginava e gostaria, até mesmo imaginando a minha não-eleição. Eu fui eleito por São Paulo. Um dado importante é que não existe na história um parlamentar eleito por um estado maior do que o que ele representava antes. O caso mais assemelhado a esse foi o de Brizola, que saiu do Rio Grande do Sul e foi para o Rio de Janeiro. Só que Brizola tinha saído como governador do Rio Grande do Sul, e eu apenas como parlamentar de Pernambuco.
JC Online - Depois de mais de três décadas de militância política em Pernambuco, o que o senhor espera dessa nova fase na Câmara Federal como representante do Estado de São Paulo?
R.F. - Pelo ponto de vista da minha atuação haverá pouca mudança, até porque uma característica de desempenho dos meus mandatos é que eu sempre fui um parlamentar nacional. Representava Pernambuco, mas era um parlamentar nacional. Por isso mesmo fui eleito por São Paulo. O que vai mudar é apenas o foco, quando a referência for direta à representação do povo de um determinado estado da federação. Eu vou ter que cuidar, como parlamentar, não apenas das questões nacionais, mas também agora das questões locais do Estado de São Paulo, tal como antes tinha que cuidar das questões de Pernambuco.
JC Online - Como o senhor encara as críticas que lhe foram feitas em virtude da troca de domicílio eleitoral?
R. F. - Críticas de quem? Pelo contrário, eu tenho visto aí em Pernambuco até muita satisfação com essa vitória. A crítica é daqueles que ficaram imaginando que nem para síndico eu me elegeria. Eu nunca perdi eleição em Pernambuco, e continuo sem perder em São Paulo. Em toda a minha vida pública, eu nunca perdi uma eleição parlamentar. As críticas são daqueles que não entendem que eu sou um vitorioso.
JC Online - Como o senhor encarou a vitória de Eduardo Campos (PSB) sobre Jarbas Vasconcelos (PMDB) com uma vantagem tão ampla em Pernambuco?
R.F. - Pernambuco foi um dos estados onde as oposições sofreram uma de suas piores derrotas. Assim como no Ceará. Não foram muitos os estados em que isso ocorreu. Mas de qualquer maneira nada na vida é definitivo, até porque nós estamos agora enfrentando um segundo turno com chances de vitória para as forças políticas que foram derrotadas aí em Pernambuco. No caso de uma vitória de José Serra (PSDB), as forças políticas que foram derrotadas em Pernambuco serão vitoriosas no Brasil.
JC Online - Ideologicamente, o que alinha o PPS à candidatura tucana à presidência?
R.F. - José Serra é um representante mais à esquerda do que o Governo Lula. Temos historicamente uma excelente relação com o que José Serra representa de pensamento. Eu disse em 2002, tão logo terminou a eleição com a vitória de Lula, que Lula tinha sido apoiado pelas esquerdas, mas o candidato de esquerda era Serra. Continuo afirmando isso. E o governo de Lula demonstrou ser um dos governos mais conservadores que a história brasileira conhece. É um governo aliado ao grande capital. É um governo que tem como programa social nada que modifique as relações na sociedade, mas que perpetua essas relações. Esses programas assintencialistas têm essa funcionalidade conservadora, exatamente porque mantêm essas relações sociais, embora possa melhorar a realidade social das pessoas, partindo do ponto de vista econômico. Mas mantêm as mesmas relações, não muda coisa alguma. O Nordeste não mudou em nada, e ainda viu ressurgir todo um coronelismo do qual alguns de seus agentes estavam quase que mortos. Eles ressurgiram das cinzas com o Governo Lula. Estão aí os Collors e Sarneys da vida. São velhos coronéis, velhos representantes das oligarquias, todos eles de novo mandando na política nordestina. Isso é um sinal de que não apenas não houve mudança como houve um retrocesso. Nós defendemos uma posição de um candidato que tem uma visão transformadora, uma visão vinculada à produção, uma visão desenvolvimentista, como é o caso de Serra.
JC Online - O senhor fez uma crítica aos programas assistencialistas, mas o candidato José Serra tem prometido, durante a campanha, manter todos eles, inclusive o Bolsa-Família. O que o senhor acha que ele fará de diferente caso seja eleito?
R.F. - Quando ele (Serra) fala do Bolsa-Família, ele coloca que vai criar todo um programa para que a juventude que está no núcleo familiar do Bolsa-Família tenha uma política para que busquem sua formação técnica e profissional para terem condições de sair do assistencialismo e ir para a produção, através do emprego e do trabalho. Agora deve ficar claro que a minha posição em relação ao Bolsa-Família não é igual à do Serra, até porque eu não penso o que Serra pensa e nem Serra pensa o que eu penso. Cada um de nós tem autonomia, e esse é um dos aspectos pelos quais eu voto em Serra. Nós não pensamos igual, mas eu penso de forma mais parecida ao que pensa Serra do que ao que pensa Dilma, que eu acho que não pensa, e ao que pensa Lula, que eu não concordo.
JC Online - Como o senhor interpretou a posição de independência do PV, que decidiu não apoiar nenhum candidato?
R.F. - Eu respeito a posição, embora ache que foi uma posição equivocada. Não estou dizendo isso porque acho que o correto seria apoiar Serra, não é isso. É que eu acho que todo mecanismo de segundo turno implica que as forças políticas se decidam. Essa posição de independência é uma posição, antes de qualquer outra definição, de omissão. É como se você não tivesse proposto nada ao País. No sistema de dois turnos você busca o projeto político de país que mais se identifica com o que você propôs. Se você não escolhe um dos dois, você parte para a omissão, como se nenhum dos projetos valessem a pena. Como se o seu fosse a única coisa que importasse para o País.
JC Online - Eleitos os proporcionais, como o senhor avalia o desempenho do PPS, partido que preside?
Roberto Freire - O PPS teve um desempenho que era mais ou menos o esperado. Nós perdemos uma cadeira de deputado em relação ao que tínhamos, mas ganhamos um senador, que não tínhamos. Eu diria que o partido aguentou bem o tranco de ter sido uma oposição muito presente ao Governo Lula, e podemos dizer que saímos do pleito sem sofrer uma derrota, ao contrário do que o governo imaginava e gostaria, até mesmo imaginando a minha não-eleição. Eu fui eleito por São Paulo. Um dado importante é que não existe na história um parlamentar eleito por um estado maior do que o que ele representava antes. O caso mais assemelhado a esse foi o de Brizola, que saiu do Rio Grande do Sul e foi para o Rio de Janeiro. Só que Brizola tinha saído como governador do Rio Grande do Sul, e eu apenas como parlamentar de Pernambuco.
JC Online - Depois de mais de três décadas de militância política em Pernambuco, o que o senhor espera dessa nova fase na Câmara Federal como representante do Estado de São Paulo?
R.F. - Pelo ponto de vista da minha atuação haverá pouca mudança, até porque uma característica de desempenho dos meus mandatos é que eu sempre fui um parlamentar nacional. Representava Pernambuco, mas era um parlamentar nacional. Por isso mesmo fui eleito por São Paulo. O que vai mudar é apenas o foco, quando a referência for direta à representação do povo de um determinado estado da federação. Eu vou ter que cuidar, como parlamentar, não apenas das questões nacionais, mas também agora das questões locais do Estado de São Paulo, tal como antes tinha que cuidar das questões de Pernambuco.
JC Online - Como o senhor encara as críticas que lhe foram feitas em virtude da troca de domicílio eleitoral?
R. F. - Críticas de quem? Pelo contrário, eu tenho visto aí em Pernambuco até muita satisfação com essa vitória. A crítica é daqueles que ficaram imaginando que nem para síndico eu me elegeria. Eu nunca perdi eleição em Pernambuco, e continuo sem perder em São Paulo. Em toda a minha vida pública, eu nunca perdi uma eleição parlamentar. As críticas são daqueles que não entendem que eu sou um vitorioso.
JC Online - Como o senhor encarou a vitória de Eduardo Campos (PSB) sobre Jarbas Vasconcelos (PMDB) com uma vantagem tão ampla em Pernambuco?
R.F. - Pernambuco foi um dos estados onde as oposições sofreram uma de suas piores derrotas. Assim como no Ceará. Não foram muitos os estados em que isso ocorreu. Mas de qualquer maneira nada na vida é definitivo, até porque nós estamos agora enfrentando um segundo turno com chances de vitória para as forças políticas que foram derrotadas aí em Pernambuco. No caso de uma vitória de José Serra (PSDB), as forças políticas que foram derrotadas em Pernambuco serão vitoriosas no Brasil.
JC Online - Ideologicamente, o que alinha o PPS à candidatura tucana à presidência?
R.F. - José Serra é um representante mais à esquerda do que o Governo Lula. Temos historicamente uma excelente relação com o que José Serra representa de pensamento. Eu disse em 2002, tão logo terminou a eleição com a vitória de Lula, que Lula tinha sido apoiado pelas esquerdas, mas o candidato de esquerda era Serra. Continuo afirmando isso. E o governo de Lula demonstrou ser um dos governos mais conservadores que a história brasileira conhece. É um governo aliado ao grande capital. É um governo que tem como programa social nada que modifique as relações na sociedade, mas que perpetua essas relações. Esses programas assintencialistas têm essa funcionalidade conservadora, exatamente porque mantêm essas relações sociais, embora possa melhorar a realidade social das pessoas, partindo do ponto de vista econômico. Mas mantêm as mesmas relações, não muda coisa alguma. O Nordeste não mudou em nada, e ainda viu ressurgir todo um coronelismo do qual alguns de seus agentes estavam quase que mortos. Eles ressurgiram das cinzas com o Governo Lula. Estão aí os Collors e Sarneys da vida. São velhos coronéis, velhos representantes das oligarquias, todos eles de novo mandando na política nordestina. Isso é um sinal de que não apenas não houve mudança como houve um retrocesso. Nós defendemos uma posição de um candidato que tem uma visão transformadora, uma visão vinculada à produção, uma visão desenvolvimentista, como é o caso de Serra.
JC Online - O senhor fez uma crítica aos programas assistencialistas, mas o candidato José Serra tem prometido, durante a campanha, manter todos eles, inclusive o Bolsa-Família. O que o senhor acha que ele fará de diferente caso seja eleito?
R.F. - Quando ele (Serra) fala do Bolsa-Família, ele coloca que vai criar todo um programa para que a juventude que está no núcleo familiar do Bolsa-Família tenha uma política para que busquem sua formação técnica e profissional para terem condições de sair do assistencialismo e ir para a produção, através do emprego e do trabalho. Agora deve ficar claro que a minha posição em relação ao Bolsa-Família não é igual à do Serra, até porque eu não penso o que Serra pensa e nem Serra pensa o que eu penso. Cada um de nós tem autonomia, e esse é um dos aspectos pelos quais eu voto em Serra. Nós não pensamos igual, mas eu penso de forma mais parecida ao que pensa Serra do que ao que pensa Dilma, que eu acho que não pensa, e ao que pensa Lula, que eu não concordo.
JC Online - Como o senhor interpretou a posição de independência do PV, que decidiu não apoiar nenhum candidato?
R.F. - Eu respeito a posição, embora ache que foi uma posição equivocada. Não estou dizendo isso porque acho que o correto seria apoiar Serra, não é isso. É que eu acho que todo mecanismo de segundo turno implica que as forças políticas se decidam. Essa posição de independência é uma posição, antes de qualquer outra definição, de omissão. É como se você não tivesse proposto nada ao País. No sistema de dois turnos você busca o projeto político de país que mais se identifica com o que você propôs. Se você não escolhe um dos dois, você parte para a omissão, como se nenhum dos projetos valessem a pena. Como se o seu fosse a única coisa que importasse para o País.
Um comentário:
Freire é uma das grandes figuras da política nacional e, agora, estou muito orgulhoso de ter ajudado em sua eleição para deputado federal, agora por SP. Aliás, duas grandes eleições, a do Roberto Freire e a de Aloysio Nunes para o Senado! Minhas saudações!
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