Não caiamos no discurso fácil de desqualificar a importância do debate da Record e muito menos de avaliá-lo do ponto de vista de quem já está careca de saber das posições, argumentos e até palavras de cada candidato.
O debate foi visto por uma audiência muito superior, apesar do adiantado da hora, do que o debate da Rede TV. Somem-se ainda as demais emissoras de rádio e TV que replicaram e a internet.
Agora a batalha é de soma zero. Um perde, o outro ganha e vice-versa. Não há terceiros que possam faturar o duelo dos principais candidatos e pairar acima do bem e do mal.
Ali estão Serra e Dilma, desnudados perante a audiência e obrigados a duelar argumentos, proposições e imagem televisiva. Já passaram por vários debates e, neste penúltimo, parte da munição estratégica tem de ser usada. Algumas das chances para fazê-lo não surgirão de novo. O debate da Globo terá outro formato, com perguntas de eleitores indecisos. A oportunidade do confronto direto, a última, aconteceu nesta segunda-feira.
Direto ao ponto
Vamos deixar de lado aquilo que já falamos sobre outros debates. Dilma é desconexa, nervosa, troca alho por bugalhos, tem péssima imagem televisiva etc. Poupe-se teclado. Não será em alguns meses que a criatura-ungida saltará anos de vida político-eleitoral. Não dá.
Serra massacrou Dilma do começo ao fim no debate da TV Record. A candidata petista foi levada ao canto do ringue em todas as questões debatidas e ainda deve estar atônita diante da blitzkrieg do candidato tucano.
A petista até que tentou dar uma de esperta, com aquele papo se eu tenho Erenice, você tem “Paulo Preto”. A tática do “somos todos iguais” foi uma péssima escolha. Ficou sem saber o que dizer quando Serra lembrou que ela foi testemunha de Zé Dirceu, que Collor controlava uma das subsidiárias da Petrobrás e que Erenice era seu braço direito e virou ministra da Casa Civil por influência de Dilma. E por cima ainda trouxe à tona Walter Cardeal e o imbróglio do banco alemão, tudo no Ministério das Minas e Energias, “de Dilma”.
Dilma ainda não tinha visto um Serra tão firme, que foi para a ofensiva e deu respostas duras, quando se fez necessário. Pasmem, o tucano conseguiu emparedar a petista até na questão da Petrobrás. Colou na testa de Dilma a pecha de que ela é quem mais fez concessões ao capital privado – nacional e estrangeiro. Dilma tentou sair com uma história que o povão certamente não entende, que foi aquele papo de que no pré-sal a coisa será diferente. Enfim, longe de sair com a pecha de privatista, o tucano jogou a batata quente para as mãos da petista, que não soube o que fazer com ela. E no finalzinho, no apagar das luzes, Serra sacou a informação do Sindicato dos Engenheiros de que havia, sim, privatização no pré-sal.
Na questão da segurança, deixou Serra foi direto ao ponto: o combate ao narcotráfico, através do controle de nossas fronteiras terrestres e marítimas. Por isto, disse ele, vai criar o Ministério da Segurança e a Guarda Nacional, que atuará nas fronteiras em harmonia com as Forças Armadas e a Polícia Federal. Dilma apresentou algumas propostas corretas, sobre questões menores, tais como a separação física dos presos em função de sua periculosidade. Descobriu a pólvora.
Serra sacou mais uma jóia, para se somar ao “orelhão do PT”: o “disco voador da Dilma”. Trata-se da aeronave não tripulada que está quebrada, no solo, e não patrulha coisa alguma. E mais, que poderia ter sido feita com tecnologia nacional, de São José dos Campos, berço da indústria aeronáutica brasileira.
Na questão ambiental Dilma ficou tonta. Até por ser uma “produtivista”, que no encontro de Copenhague, foi o polo de resistência às propostas mais avançadas que finalmente o Brasil adotou, por influência, disse Serra, dele mesmo e de Marina da Silva, que conseguiram convencer Lula, apesar da oposição de sua ministra da Casa Civil.
Serra defendeu o desmatamento zero, tornou público o pau do governo de São Paulo e do Partido Verde com a Petrobrás, cujo diesel que produz tem os maiores teores de enxofre no mundo, é cancerígeno e contribui para o aumento do efeito estufa. A candidata petista não soube o que responder quando o tucano disse que a matriz energética que Dilma, como ministra das Minas e Energia, contribui para o aquecimento global. Se havia algum eleitor que se sensibiliza pela questão do meio-ambiente e está indeciso, com certeza ele saltou do muro e está dizendo: “Dilma, Deus me livre”!
Serra deu nó em pingo d’água quando Dilma quis trazer a discursão para o emprego, onde ela pretendia deitar e rolar com a citação de uma profusão de números.
O tucano pegou o que é central: os baixos investimentos públicos, a desindustrialização do país (de olho no voto ele falava muito de Paraná de Santa Catarina, do interior das regiões Sul e Sudeste), as altas taxas de juros. Deixou claro que o país não manterá o crescimento sustentado, e, portanto, não irá gerar os empregos necessários, se “a política econômica da Dilma continuar”.
Serra poderia ter feito uma longa dissertação sobre as épocas e contextos diferentes, que não poderiam ser medidas pela mesma régua, falar da inflação, do plano real, da reorganização do sistema financeiro, tudo em meio a três crises internacionais. Que nada! O tucano apontou para as questões que atravancam o desenvolvimento econômico, conseguindo trocar em miúdos para o grande público, que entende o que são juros altos, investimentos no piso, aeroportos e portos no limite etc.
Sempre que podia, Serra cravava a marca da mentira em Dilma. Por várias vezes jogou por terra os números e argumentos da adversária, tachados como mentirosos, como no caso da afirmação da candidata segundo a qual São Paulo pulou fora do programa de banda larga para as escolas, federal. Serra disse que São Paulo simplesmente não participou porque já tinha banda larga.
A candidata do “ora isso, ora aquilo” foi relembrada por Serra sempre que havia brecha.
Serra relembrou o discurso híbrido, de acordo com o “faro eleitoral”, no caso do aborto, da privatização (citando as teles e mesmo a Petrobrás) e do MST.
Serra só deixou sem resposta a questão da carta que assinou e registrou em cartório quando candidato a prefeito e que não foi seguida por ele quando se candidatou a governador. Serra poderia ter respondido que no momento em que assinou não poderia prever os acontecimentos posteriores e o fez em razão da chantagem de um jornalista numa sabatina, que insinuava que o candidato utilizava a prefeitura de São Paulo como mero trampolim. Serra poderia acrescentar que essa questão foi submetida ao povo paulistano quando da eleição de Kassab e quando se candidatou a governador. Os paulistanos e paulistas aceitaram sua opção, através das urnas.
Ao final, Dilma, em tom de lamúria, xingou Serra de arrogante e de dono da verdade, com vistas a sensibilizar o telespectador, pela sua condição de mulher. Não colou, pois “Dilminha paz e amor” não compareceu ao debate da Record. Não se pode subestimar a inteligência das pessoas em perceber a hipocrisia da argumentação e da postura.
Do ponto de vista da imagem e da linguagem televisiva não acreditamos que Serra tenha passado do ponto em sua firmeza e na tática do “bateu, levou”, “mentiu, desmascarou”. É preciso desmitificar esta lenda segundo a qual candidatos não podem falar mais duro, quando atacados.
Claro que cada candidato tentará vender sua versão sobre o debate da TV Record, em seus programas televisivos. O PT mostrará uma Dilma esfuziante, conexa, propositiva, com “as melhores propostas”. Haja montagem! O PSDB não precisará editar nada. Basta mostrar Serra como .... Serra.
Serra levou
Não temos dúvidas a respeito do resultado do debate. Dilma saiu, mais uma vez, menor e certamente sangrou, em termos de intenções de voto. José Serra solidificou as intenções dos que pretendem votar nele e, é quase certo, avançou sobre os indecisos, os que pretendiam votar nulo e também sobre eleitores voláteis de Dilma, aqueles que declaram poder mudar de voto.
Sem partidarismos ou posicionamentos apriorísticos, podemos afirmar que José Serra ganhou o debate, de longe, e saiu maior do que entrou nele, em termos de imagem positiva no eleitorado. Era tudo o que sua campanha almejava com o debate da Record.
O debate foi visto por uma audiência muito superior, apesar do adiantado da hora, do que o debate da Rede TV. Somem-se ainda as demais emissoras de rádio e TV que replicaram e a internet.
Agora a batalha é de soma zero. Um perde, o outro ganha e vice-versa. Não há terceiros que possam faturar o duelo dos principais candidatos e pairar acima do bem e do mal.
Ali estão Serra e Dilma, desnudados perante a audiência e obrigados a duelar argumentos, proposições e imagem televisiva. Já passaram por vários debates e, neste penúltimo, parte da munição estratégica tem de ser usada. Algumas das chances para fazê-lo não surgirão de novo. O debate da Globo terá outro formato, com perguntas de eleitores indecisos. A oportunidade do confronto direto, a última, aconteceu nesta segunda-feira.
Direto ao ponto
Vamos deixar de lado aquilo que já falamos sobre outros debates. Dilma é desconexa, nervosa, troca alho por bugalhos, tem péssima imagem televisiva etc. Poupe-se teclado. Não será em alguns meses que a criatura-ungida saltará anos de vida político-eleitoral. Não dá.
Serra massacrou Dilma do começo ao fim no debate da TV Record. A candidata petista foi levada ao canto do ringue em todas as questões debatidas e ainda deve estar atônita diante da blitzkrieg do candidato tucano.
A petista até que tentou dar uma de esperta, com aquele papo se eu tenho Erenice, você tem “Paulo Preto”. A tática do “somos todos iguais” foi uma péssima escolha. Ficou sem saber o que dizer quando Serra lembrou que ela foi testemunha de Zé Dirceu, que Collor controlava uma das subsidiárias da Petrobrás e que Erenice era seu braço direito e virou ministra da Casa Civil por influência de Dilma. E por cima ainda trouxe à tona Walter Cardeal e o imbróglio do banco alemão, tudo no Ministério das Minas e Energias, “de Dilma”.
Dilma ainda não tinha visto um Serra tão firme, que foi para a ofensiva e deu respostas duras, quando se fez necessário. Pasmem, o tucano conseguiu emparedar a petista até na questão da Petrobrás. Colou na testa de Dilma a pecha de que ela é quem mais fez concessões ao capital privado – nacional e estrangeiro. Dilma tentou sair com uma história que o povão certamente não entende, que foi aquele papo de que no pré-sal a coisa será diferente. Enfim, longe de sair com a pecha de privatista, o tucano jogou a batata quente para as mãos da petista, que não soube o que fazer com ela. E no finalzinho, no apagar das luzes, Serra sacou a informação do Sindicato dos Engenheiros de que havia, sim, privatização no pré-sal.
Na questão da segurança, deixou Serra foi direto ao ponto: o combate ao narcotráfico, através do controle de nossas fronteiras terrestres e marítimas. Por isto, disse ele, vai criar o Ministério da Segurança e a Guarda Nacional, que atuará nas fronteiras em harmonia com as Forças Armadas e a Polícia Federal. Dilma apresentou algumas propostas corretas, sobre questões menores, tais como a separação física dos presos em função de sua periculosidade. Descobriu a pólvora.
Serra sacou mais uma jóia, para se somar ao “orelhão do PT”: o “disco voador da Dilma”. Trata-se da aeronave não tripulada que está quebrada, no solo, e não patrulha coisa alguma. E mais, que poderia ter sido feita com tecnologia nacional, de São José dos Campos, berço da indústria aeronáutica brasileira.
Na questão ambiental Dilma ficou tonta. Até por ser uma “produtivista”, que no encontro de Copenhague, foi o polo de resistência às propostas mais avançadas que finalmente o Brasil adotou, por influência, disse Serra, dele mesmo e de Marina da Silva, que conseguiram convencer Lula, apesar da oposição de sua ministra da Casa Civil.
Serra defendeu o desmatamento zero, tornou público o pau do governo de São Paulo e do Partido Verde com a Petrobrás, cujo diesel que produz tem os maiores teores de enxofre no mundo, é cancerígeno e contribui para o aumento do efeito estufa. A candidata petista não soube o que responder quando o tucano disse que a matriz energética que Dilma, como ministra das Minas e Energia, contribui para o aquecimento global. Se havia algum eleitor que se sensibiliza pela questão do meio-ambiente e está indeciso, com certeza ele saltou do muro e está dizendo: “Dilma, Deus me livre”!
Serra deu nó em pingo d’água quando Dilma quis trazer a discursão para o emprego, onde ela pretendia deitar e rolar com a citação de uma profusão de números.
O tucano pegou o que é central: os baixos investimentos públicos, a desindustrialização do país (de olho no voto ele falava muito de Paraná de Santa Catarina, do interior das regiões Sul e Sudeste), as altas taxas de juros. Deixou claro que o país não manterá o crescimento sustentado, e, portanto, não irá gerar os empregos necessários, se “a política econômica da Dilma continuar”.
Serra poderia ter feito uma longa dissertação sobre as épocas e contextos diferentes, que não poderiam ser medidas pela mesma régua, falar da inflação, do plano real, da reorganização do sistema financeiro, tudo em meio a três crises internacionais. Que nada! O tucano apontou para as questões que atravancam o desenvolvimento econômico, conseguindo trocar em miúdos para o grande público, que entende o que são juros altos, investimentos no piso, aeroportos e portos no limite etc.
Sempre que podia, Serra cravava a marca da mentira em Dilma. Por várias vezes jogou por terra os números e argumentos da adversária, tachados como mentirosos, como no caso da afirmação da candidata segundo a qual São Paulo pulou fora do programa de banda larga para as escolas, federal. Serra disse que São Paulo simplesmente não participou porque já tinha banda larga.
A candidata do “ora isso, ora aquilo” foi relembrada por Serra sempre que havia brecha.
Serra relembrou o discurso híbrido, de acordo com o “faro eleitoral”, no caso do aborto, da privatização (citando as teles e mesmo a Petrobrás) e do MST.
Serra só deixou sem resposta a questão da carta que assinou e registrou em cartório quando candidato a prefeito e que não foi seguida por ele quando se candidatou a governador. Serra poderia ter respondido que no momento em que assinou não poderia prever os acontecimentos posteriores e o fez em razão da chantagem de um jornalista numa sabatina, que insinuava que o candidato utilizava a prefeitura de São Paulo como mero trampolim. Serra poderia acrescentar que essa questão foi submetida ao povo paulistano quando da eleição de Kassab e quando se candidatou a governador. Os paulistanos e paulistas aceitaram sua opção, através das urnas.
Ao final, Dilma, em tom de lamúria, xingou Serra de arrogante e de dono da verdade, com vistas a sensibilizar o telespectador, pela sua condição de mulher. Não colou, pois “Dilminha paz e amor” não compareceu ao debate da Record. Não se pode subestimar a inteligência das pessoas em perceber a hipocrisia da argumentação e da postura.
Do ponto de vista da imagem e da linguagem televisiva não acreditamos que Serra tenha passado do ponto em sua firmeza e na tática do “bateu, levou”, “mentiu, desmascarou”. É preciso desmitificar esta lenda segundo a qual candidatos não podem falar mais duro, quando atacados.
Claro que cada candidato tentará vender sua versão sobre o debate da TV Record, em seus programas televisivos. O PT mostrará uma Dilma esfuziante, conexa, propositiva, com “as melhores propostas”. Haja montagem! O PSDB não precisará editar nada. Basta mostrar Serra como .... Serra.
Serra levou
Não temos dúvidas a respeito do resultado do debate. Dilma saiu, mais uma vez, menor e certamente sangrou, em termos de intenções de voto. José Serra solidificou as intenções dos que pretendem votar nele e, é quase certo, avançou sobre os indecisos, os que pretendiam votar nulo e também sobre eleitores voláteis de Dilma, aqueles que declaram poder mudar de voto.
Sem partidarismos ou posicionamentos apriorísticos, podemos afirmar que José Serra ganhou o debate, de longe, e saiu maior do que entrou nele, em termos de imagem positiva no eleitorado. Era tudo o que sua campanha almejava com o debate da Record.
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