DEU EM O GLOBO
Ex-presidente diz que Dilma terá que fazer ajuste nas contas: "Basta ver se ela terá capacidade"
FH: "O Brasil tem que olhar para questões que não sejam ufanistas"
Wagner Gomes
SÃO PAULO. O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso disse ontem em São Paulo que a política fiscal "está frouxa" e que é preciso tomar medidas para reduzir os gastos públicos promovidos pelo governo federal. Ele responsabilizou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva por ter elevado gastos correntes, aumentando o número de cargos públicos, e deixado de lado os investimentos. Disse que cabe agora à presidente eleita Dilma Rousseff promover um ajuste forte nas contas do governo.
- Dilma é teimosa e racional. Vamos ver o que vai prevalecer. Basta ver se ela terá capacidade de arbitragem (na necessidade de adoção de uma política de austeridade) - disse o ex-presidente, em um seminário para discutir o setor de cartões de crédito, o CardMonitor de Inteligência de Mercado.
Apesar disso, Fernando Henrique evitou dizer que a política fiscal "é uma herança maldita" deixada por Lula.
- Não se pode dizer que é uma herança maldita. Usaram essa expressão para me criticar, mas não tem herança maldita. O país está crescendo. Desde o governo Itamar e do meu temos feito avanços. Nós estamos avançando, isso é briga política. Quando a gente olha um pouco mais de longe, com objetividade, não tem herança maldita, tem problema, dificuldades e situações - afirmou.
Para ele, um dos grandes desafios da presidente eleita será lidar com o Congresso, já que ela terá menos apoio popular que Lula. Segundo ele, isso não significa que Dilma seja vulnerável, mas ele lembrou que o partido do presidente nunca é majoritário e tem que fazer um sistema de alianças que tem um custo. Fernando Henrique disse que isso não significa julgar de antemão, mas afirmou que Dilma terá um trabalho grande quando os partidos começarem com as suas exigências.
O ex-presidente citou como exemplo a formação do bloco com legendas da base aliada liderado pelo PMDB. Ao comparar os governos de Lula e Dilma, disse que as condições são menos favoráveis para a presidente eleita e que ela terá que desenvolver mais habilidade para equilibrar as forças. Segundo Fernando Henrique, o país deve passar por um aperto monetário, não por causa da posse da nova equipe econômica, mas porque os "ventos mudaram":
- Há sinais de retomada da inflação. Até pouco tempo, o vento foi favorável a nós, mas nós temos déficits internos e externos. Então, a nova equipe vai ter que rebolar um pouco mais.
Ele, no entanto, não acredita que a inflação vá sofrer uma aceleração, pois "o país já aprendeu que não se pode brincar com essas coisas". Segundo ele, é preciso ter também atenção com o câmbio e não atuar de maneira arbitrária na questão dos juros. Ele não vê risco no tripé macroeconômico de responsabilidade fiscal, câmbio flutuante e metas de inflação, mas afirmou que o Brasil não pode ficar no "oba-oba" do crescimento e esquecer que "ainda está tropeçando em muitas coisas":
- O Brasil tem que olhar para questões que não sejam simplesmente ufanistas, de oba-oba, de que estamos crescendo.
O ex-presidente afirmou que o Brasil tem que pensar de maneira estratégica, mas não pode se ocupar apenas em projetos de impacto como o trem-bala, que ligará São Paulo ao Rio. Para ele, o país precisa crescer de forma harmônica, pensando na educação e na segurança pública, e deixar de fazer "micagem" com grandes coisas. Ele não comentou a troca de acusações entre o PSDB de São Paulo e de Minas Gerais e disse que é errado pensar num partido dividido entre paulistas e mineiros.
- Tem de ser o PSDB do Brasil. Da minha parte, o candidato pode ser mineiro, cearense, carioca, paulista. Essa não é a questão - afirmou, acrescentando que é muito cedo para falar sobre as próximas eleições.
Ex-presidente diz que Dilma terá que fazer ajuste nas contas: "Basta ver se ela terá capacidade"
FH: "O Brasil tem que olhar para questões que não sejam ufanistas"
Wagner Gomes
SÃO PAULO. O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso disse ontem em São Paulo que a política fiscal "está frouxa" e que é preciso tomar medidas para reduzir os gastos públicos promovidos pelo governo federal. Ele responsabilizou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva por ter elevado gastos correntes, aumentando o número de cargos públicos, e deixado de lado os investimentos. Disse que cabe agora à presidente eleita Dilma Rousseff promover um ajuste forte nas contas do governo.
- Dilma é teimosa e racional. Vamos ver o que vai prevalecer. Basta ver se ela terá capacidade de arbitragem (na necessidade de adoção de uma política de austeridade) - disse o ex-presidente, em um seminário para discutir o setor de cartões de crédito, o CardMonitor de Inteligência de Mercado.
Apesar disso, Fernando Henrique evitou dizer que a política fiscal "é uma herança maldita" deixada por Lula.
- Não se pode dizer que é uma herança maldita. Usaram essa expressão para me criticar, mas não tem herança maldita. O país está crescendo. Desde o governo Itamar e do meu temos feito avanços. Nós estamos avançando, isso é briga política. Quando a gente olha um pouco mais de longe, com objetividade, não tem herança maldita, tem problema, dificuldades e situações - afirmou.
Para ele, um dos grandes desafios da presidente eleita será lidar com o Congresso, já que ela terá menos apoio popular que Lula. Segundo ele, isso não significa que Dilma seja vulnerável, mas ele lembrou que o partido do presidente nunca é majoritário e tem que fazer um sistema de alianças que tem um custo. Fernando Henrique disse que isso não significa julgar de antemão, mas afirmou que Dilma terá um trabalho grande quando os partidos começarem com as suas exigências.
O ex-presidente citou como exemplo a formação do bloco com legendas da base aliada liderado pelo PMDB. Ao comparar os governos de Lula e Dilma, disse que as condições são menos favoráveis para a presidente eleita e que ela terá que desenvolver mais habilidade para equilibrar as forças. Segundo Fernando Henrique, o país deve passar por um aperto monetário, não por causa da posse da nova equipe econômica, mas porque os "ventos mudaram":
- Há sinais de retomada da inflação. Até pouco tempo, o vento foi favorável a nós, mas nós temos déficits internos e externos. Então, a nova equipe vai ter que rebolar um pouco mais.
Ele, no entanto, não acredita que a inflação vá sofrer uma aceleração, pois "o país já aprendeu que não se pode brincar com essas coisas". Segundo ele, é preciso ter também atenção com o câmbio e não atuar de maneira arbitrária na questão dos juros. Ele não vê risco no tripé macroeconômico de responsabilidade fiscal, câmbio flutuante e metas de inflação, mas afirmou que o Brasil não pode ficar no "oba-oba" do crescimento e esquecer que "ainda está tropeçando em muitas coisas":
- O Brasil tem que olhar para questões que não sejam simplesmente ufanistas, de oba-oba, de que estamos crescendo.
O ex-presidente afirmou que o Brasil tem que pensar de maneira estratégica, mas não pode se ocupar apenas em projetos de impacto como o trem-bala, que ligará São Paulo ao Rio. Para ele, o país precisa crescer de forma harmônica, pensando na educação e na segurança pública, e deixar de fazer "micagem" com grandes coisas. Ele não comentou a troca de acusações entre o PSDB de São Paulo e de Minas Gerais e disse que é errado pensar num partido dividido entre paulistas e mineiros.
- Tem de ser o PSDB do Brasil. Da minha parte, o candidato pode ser mineiro, cearense, carioca, paulista. Essa não é a questão - afirmou, acrescentando que é muito cedo para falar sobre as próximas eleições.
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