DEU NO VALOR ECONÔMICO
PT racha novamente na eleição para presidente da Câmara
O espectro de Severino Cavalcanti voltou a rondar o Palácio do Planalto, no momento em que o deputado Marco Maia (RS) ganhou a indicação do PT para presidir a Câmara dos Deputados, no próximo biênio legislativo. O nome de Maia não entusiasma a presidente eleita Dilma Rousseff - que contava como certa a indicação do deputado Cândido Vaccarezza -, rachou de cima abaixo a bancada do PT paulista e expôs algumas das insatisfações partidárias que permeiam a formação do novo governo.
Marco Maia não era o candidato favorito de Dilma, mas ela respeitou a decisão da bancada. No Rio Grande do Sul, Dilma era mais ligada ao ex-governador Olívio Dutra (1999-2003). Maia, ao ex-ministro Tarso Genro, que em 2002 tomou o lugar de Olívio na eleição e perdeu a eleição ao governo estadual para Germano Rigotto (PMDB).
A presidente eleita não se envolveu na disputa pela indicação da bancada, mas também - para quem perguntou - não deixou de dizer que o fato de ser gaúcho não tornava Maia o seu candidato. O deputado não é das relações mais próximas de Dilma, assim como a presidente eleita não faz parte das amizades mais estreitas de Maia, o que em absoluto significa dizer que ela não queira sua eleição para a presidência da Câmara dos Deputados. Apenas torna Maia um pouco mais vulnerável a ataques especulativos.
O que mais causa apreensão no Planalto e na equipe de transição é a divisão do PT de São Paulo, no qual se dá como certo o revide de Vaccarezza e de sua turma à "deserção" do deputado Arlindo Chinaglia e de seu grupo, que preferiram apoiar um gaúcho (Maia) a um dos integrantes da bancada paulista. A dúvida que paira é sobre a hora e o local do ajuste de contas. O atual e o novo governo trabalham para que não seja na eleição para a presidência da Câmara, em fevereiro de 2011, e para que o acerto entre os dois lados fique confinado aos limites estaduais. Problema: o que acontece com o PT de São Paulo em geral reverbera por todo o PT.
Gato escaldado, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva não se ilude com demonstrações públicas de união. Ele já se deu conta dos riscos da divisão petista e chamou o partido às falas: não quer que ocorra com Dilma o mesmo que aconteceu com ele em 2005, quando, de acordo com suas palavras, foi dormir certo de que o deputado Luiz Eduardo Greenhalgh (PT-SP) seria eleito presidente da Câmara e acordou, no dia seguinte, com Severino Cavalcanti (PP-PE) no comando da Casa - eleição que iria custar para o governo nada mais que o Ministério das Cidades para o PP.
Greenhalgh fora indicado pela bancada, mas o deputado Virgílio Guimarães (PT-MG), que disputara com ele a indicação, se manteve na disputa. O PT entrou na eleição com dois candidatos e abriu a porta para a vitória de um terceiro postulante ao cargo.
A diferença é que desta vez a bancada do PT rachou, mas Vaccarezza desistiu da disputa. Em 2005, apesar de Greenhalgh obter a indicação da bancada, Virgílio Guimarães ficou como candidato avulso, dividindo e enfraquecendo as forças governistas. Além disso, avalia-se no Planalto e na equipe de transição que o governo, em início de mandato, entrará com mais força na eleição de fevereiro próximo do que entrou na eleição de Severino, ocorrida no meio do primeiro mandato de Lula.
Há outros fatores favoráveis ao governo, dentre os quais o acordo de revezamento entre o PT e o PMDB na presidência da Câmara. Graças a esta aliança, o PMDB se tornou o principal interessado em assegurar a eleição do candidato indicado institucional do PT, seja ele quem for, uma vez que em 2013 precisará do apoio petista para garantir a eleição de um candidato pemedebista, provavelmente o do deputado Henrique Alves (RN), atual líder da bancada na Câmara.
O contexto é mais favorável ao governo que o de 2005. Mas por enquanto, o PT não tem como assegurar lealdade a Marco Maia, por mais que o discurso público seja o de apaziguamento. Na realidade, o ânimo na bancada paulista é de beligerância. "Aqui vai correr sangue", diz um conhecedor dos meandros petistas, cujo testemunho fala de um enorme ressentimento interno. O próprio Cândido Vaccarezza diz aos companheiros que só renunciou à candidatura porque não quer ser protagonista do enredo de traição que em 2005 derrotou o PT.
Lula tem razão ao demonstrar preocupação com a eleição para presidente da Câmara. Se é certo que o PT não cometerá o erro de concorrer com dois candidatos, como fez em 2005, o mesmo não se pode dizer da chamada base aliada. O deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP), ex-presidente da Câmara e ex-coordenador político do governo Lula, captou as dificuldades no território petista e analisa com cuidado o lançamento de sua candidatura. O caldo de cultura para sua eleição são os ressentimentos dos aliados insatisfeitos com a composição do governo Dilma, um contingente que cresce na medida em que a presidente eleita procura manter o futuro governo blindado ao controle de um ou outro agrupamento partidário.
A presidente eleita fez isso com o PMDB, que entra menor no governo Dilma do que sairá do governo Lula, e tenta fazer com o PSB, ao chamar Ciro Gomes para o ministério que toma posse no dia 1º de janeiro. O desafio da presidente eleita é encontrar o ponto de equilíbrio certo para que a engrenagem da base aliada, do PT ao PCdoB, do PMDB ao PP, se movimente sem provocar grandes marolas no início do novo governo. A eleição para presidente da Câmara dos Deputados será um bom teste.
Raymundo Costa é repórter especial de Política, em Brasília. Escreve às terças-feiras
PT racha novamente na eleição para presidente da Câmara
O espectro de Severino Cavalcanti voltou a rondar o Palácio do Planalto, no momento em que o deputado Marco Maia (RS) ganhou a indicação do PT para presidir a Câmara dos Deputados, no próximo biênio legislativo. O nome de Maia não entusiasma a presidente eleita Dilma Rousseff - que contava como certa a indicação do deputado Cândido Vaccarezza -, rachou de cima abaixo a bancada do PT paulista e expôs algumas das insatisfações partidárias que permeiam a formação do novo governo.
Marco Maia não era o candidato favorito de Dilma, mas ela respeitou a decisão da bancada. No Rio Grande do Sul, Dilma era mais ligada ao ex-governador Olívio Dutra (1999-2003). Maia, ao ex-ministro Tarso Genro, que em 2002 tomou o lugar de Olívio na eleição e perdeu a eleição ao governo estadual para Germano Rigotto (PMDB).
A presidente eleita não se envolveu na disputa pela indicação da bancada, mas também - para quem perguntou - não deixou de dizer que o fato de ser gaúcho não tornava Maia o seu candidato. O deputado não é das relações mais próximas de Dilma, assim como a presidente eleita não faz parte das amizades mais estreitas de Maia, o que em absoluto significa dizer que ela não queira sua eleição para a presidência da Câmara dos Deputados. Apenas torna Maia um pouco mais vulnerável a ataques especulativos.
O que mais causa apreensão no Planalto e na equipe de transição é a divisão do PT de São Paulo, no qual se dá como certo o revide de Vaccarezza e de sua turma à "deserção" do deputado Arlindo Chinaglia e de seu grupo, que preferiram apoiar um gaúcho (Maia) a um dos integrantes da bancada paulista. A dúvida que paira é sobre a hora e o local do ajuste de contas. O atual e o novo governo trabalham para que não seja na eleição para a presidência da Câmara, em fevereiro de 2011, e para que o acerto entre os dois lados fique confinado aos limites estaduais. Problema: o que acontece com o PT de São Paulo em geral reverbera por todo o PT.
Gato escaldado, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva não se ilude com demonstrações públicas de união. Ele já se deu conta dos riscos da divisão petista e chamou o partido às falas: não quer que ocorra com Dilma o mesmo que aconteceu com ele em 2005, quando, de acordo com suas palavras, foi dormir certo de que o deputado Luiz Eduardo Greenhalgh (PT-SP) seria eleito presidente da Câmara e acordou, no dia seguinte, com Severino Cavalcanti (PP-PE) no comando da Casa - eleição que iria custar para o governo nada mais que o Ministério das Cidades para o PP.
Greenhalgh fora indicado pela bancada, mas o deputado Virgílio Guimarães (PT-MG), que disputara com ele a indicação, se manteve na disputa. O PT entrou na eleição com dois candidatos e abriu a porta para a vitória de um terceiro postulante ao cargo.
A diferença é que desta vez a bancada do PT rachou, mas Vaccarezza desistiu da disputa. Em 2005, apesar de Greenhalgh obter a indicação da bancada, Virgílio Guimarães ficou como candidato avulso, dividindo e enfraquecendo as forças governistas. Além disso, avalia-se no Planalto e na equipe de transição que o governo, em início de mandato, entrará com mais força na eleição de fevereiro próximo do que entrou na eleição de Severino, ocorrida no meio do primeiro mandato de Lula.
Há outros fatores favoráveis ao governo, dentre os quais o acordo de revezamento entre o PT e o PMDB na presidência da Câmara. Graças a esta aliança, o PMDB se tornou o principal interessado em assegurar a eleição do candidato indicado institucional do PT, seja ele quem for, uma vez que em 2013 precisará do apoio petista para garantir a eleição de um candidato pemedebista, provavelmente o do deputado Henrique Alves (RN), atual líder da bancada na Câmara.
O contexto é mais favorável ao governo que o de 2005. Mas por enquanto, o PT não tem como assegurar lealdade a Marco Maia, por mais que o discurso público seja o de apaziguamento. Na realidade, o ânimo na bancada paulista é de beligerância. "Aqui vai correr sangue", diz um conhecedor dos meandros petistas, cujo testemunho fala de um enorme ressentimento interno. O próprio Cândido Vaccarezza diz aos companheiros que só renunciou à candidatura porque não quer ser protagonista do enredo de traição que em 2005 derrotou o PT.
Lula tem razão ao demonstrar preocupação com a eleição para presidente da Câmara. Se é certo que o PT não cometerá o erro de concorrer com dois candidatos, como fez em 2005, o mesmo não se pode dizer da chamada base aliada. O deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP), ex-presidente da Câmara e ex-coordenador político do governo Lula, captou as dificuldades no território petista e analisa com cuidado o lançamento de sua candidatura. O caldo de cultura para sua eleição são os ressentimentos dos aliados insatisfeitos com a composição do governo Dilma, um contingente que cresce na medida em que a presidente eleita procura manter o futuro governo blindado ao controle de um ou outro agrupamento partidário.
A presidente eleita fez isso com o PMDB, que entra menor no governo Dilma do que sairá do governo Lula, e tenta fazer com o PSB, ao chamar Ciro Gomes para o ministério que toma posse no dia 1º de janeiro. O desafio da presidente eleita é encontrar o ponto de equilíbrio certo para que a engrenagem da base aliada, do PT ao PCdoB, do PMDB ao PP, se movimente sem provocar grandes marolas no início do novo governo. A eleição para presidente da Câmara dos Deputados será um bom teste.
Raymundo Costa é repórter especial de Política, em Brasília. Escreve às terças-feiras
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