DEU EM O GLOBO
A presidente eleita, Dilma Rousseff, mal foi diplomada, e ainda nem tomou posse, e a possibilidade de Lula tentar retornar novamente à Presidência da República, uma especulação natural no meio político, ganhou materialidade política pela boca de ninguém menos que o próprio Lula.
Perguntado sobre se pensaria em se candidatar novamente, Lula não teve o cuidado de preservar sua pupila, ou pelo menos teve pouco cuidado.
Admitiu que receava que alguém, ao ver a entrevista, chegasse à conclusão de que ele anunciava que seria candidato.
Mas não se fez de rogado: "Eu não posso dizer que não, porque eu sou vivo, sou presidente de honra de um partido, sou um político nato, construí uma relação política extraordinária".
Mesmo quando disse que era muito cedo para falar do futuro, e que iria trabalhar "para a Dilma fazer um bom governo", Lula não colocou a hipótese de reeleição de Dilma como fato consumado: "Quando chegar a hora, a gente vê o que vai acontecer".
O assunto já havia sido abordado, até com mais detalhes, pelo secretário particular de Lula, Gilberto Carvalho, já nomeado ministro da Secretaria Geral da Presidência de Dilma Rousseff.
Carvalho, que já é apontado como um "espião"de Lula no futuro governo, colocou-se como intérprete do pensamento de Lula e, como tal, não preservou sua futura chefe de uma análise fria: "Num cenário de a Dilma fazer um governo bom, é evidente que ela vai à reeleição. Se houver dificuldades, e ele for a solução para a gente ter uma vitória, ele pode voltar".
Voltar não é "um dogma para ele", esclareceu Gilberto Carvalho, admitindo que seria um risco grande depois de sair com a popularidade recorde.
"Mas ele voltaria numa situação muito favorável. Ou muito necessária", esclarece o futuro secretário-geral da Presidência.
Diante do que ocorreu com o presidente Lula no seu primeiro mandato, quando estourou o escândalo do mensalão, fica-se sabendo que Dilma dificilmente teria estrutura política para resistir a uma crise daquelas, nem apoio dentro do PT.
A verdadeira história dos bastidores do governo vai sendo revelada por depoimentos de pessoas que viveram aqueles momentos ou pelos vazamentos de telegramas da diplomacia americana pelo WikiLeaks, desmontando a história oficial que os militantes e os blogueiros financiados pelo governo tentaram impingir à opinião pública.
Os telegramas revelaram as inseguranças do ex-ministro da Casa Civil José Dirceu, que deixou o governo em 2005 devido ao escândalo.
Dirceu revelou a um servidor americano que duvidava da capacidade do presidente Lula de se recuperar do escândalo, e seu receio de que ele seria derrotado se concorresse à reeleição.
Admitiu até mesmo a hipótese de o presidente ficar deprimido e desistir de concorrer a um novo mandato.
Também Gilberto Carvalho, em várias entrevistas, vem revelando detalhes daqueles dias de crise.
Segundo ele, houve momentos em que os assessores mais próximos nem sabiam se Lula chegaria ao final do governo.
Os dias "muito difíceis", segundo ele, foram o do depoimento do publicitário Duda Mendonça, que admitiu ter recebido "por fora" parte do pagamento de seu trabalho na campanha que elegeu Lula em 2002, e no dia em que um assessor do deputado petista José Nobre Guimarães, irmão de José Genoino, foi preso com dólares escondidos até na cueca.
"Dava a impressão de que, de fato, o impeachment estava muito vizinho", comentou Gilberto Carvalho.
Ele tem reafirmado também que os então ministros da Justiça, Marcio Thomaz Bastos, e da Fazenda, Antonio Palocci, chegaram a propor ao presidente Lula um acordo com a oposição, de não tentar a reeleição em troca de terminar o mandato.
Lula recusou-se a aceitar o acordo e mais tarde disse para Gilberto Carvalho que se candidataria e venceria a eleição por causa de sua "relação com o povo".
Carvalho admite que ele mesmo "tinha muitas dúvidas".
Pode-se supor que é com base nas experiências vividas nos dois mandatos do presidente Lula que tanto ele quanto Carvalho admitem que Dilma possa ter problemas em seu governo.
Um caso como o de Erenice Guerra, nomeada por Dilma para o Gabinete Civil de Lula em seu lugar por sua influência, poderia ter acabado com sua candidatura se Lula não estivesse muito popular.
E um caso semelhante em seu governo pode gerar crise política grave, e ela precisará de Lula para respaldá-la.
E não apenas isso.
Os problemas econômicos, que devem se agravar com a crise internacional que não dá trégua, devem proporcionar um quadro bastante complexo para uma presidente sem experiência, que vai ter que exercitar seu poder político tendo uma sombra do tamanho de Lula a acompanhar-lhe os passos.
Para o bem e para o mal.
Nas palavras tanto de Lula quanto de Gilberto Carvalho, é possível deduzir que Dilma não é o personagem principal do projeto petista de poder, e sim Lula.
Estando longe do poder de direito, Lula terá mais dificuldades de exercer seu poder de fato. E, para exercê-lo, muitas vezes terá que confrontar a presidente eleita.
Caberá a ela demonstrar na prática que tem vida própria em seu próprio governo. O exercício do poder político da Presidência da República certamente ajuda muito.
A presidente eleita, Dilma Rousseff, mal foi diplomada, e ainda nem tomou posse, e a possibilidade de Lula tentar retornar novamente à Presidência da República, uma especulação natural no meio político, ganhou materialidade política pela boca de ninguém menos que o próprio Lula.
Perguntado sobre se pensaria em se candidatar novamente, Lula não teve o cuidado de preservar sua pupila, ou pelo menos teve pouco cuidado.
Admitiu que receava que alguém, ao ver a entrevista, chegasse à conclusão de que ele anunciava que seria candidato.
Mas não se fez de rogado: "Eu não posso dizer que não, porque eu sou vivo, sou presidente de honra de um partido, sou um político nato, construí uma relação política extraordinária".
Mesmo quando disse que era muito cedo para falar do futuro, e que iria trabalhar "para a Dilma fazer um bom governo", Lula não colocou a hipótese de reeleição de Dilma como fato consumado: "Quando chegar a hora, a gente vê o que vai acontecer".
O assunto já havia sido abordado, até com mais detalhes, pelo secretário particular de Lula, Gilberto Carvalho, já nomeado ministro da Secretaria Geral da Presidência de Dilma Rousseff.
Carvalho, que já é apontado como um "espião"de Lula no futuro governo, colocou-se como intérprete do pensamento de Lula e, como tal, não preservou sua futura chefe de uma análise fria: "Num cenário de a Dilma fazer um governo bom, é evidente que ela vai à reeleição. Se houver dificuldades, e ele for a solução para a gente ter uma vitória, ele pode voltar".
Voltar não é "um dogma para ele", esclareceu Gilberto Carvalho, admitindo que seria um risco grande depois de sair com a popularidade recorde.
"Mas ele voltaria numa situação muito favorável. Ou muito necessária", esclarece o futuro secretário-geral da Presidência.
Diante do que ocorreu com o presidente Lula no seu primeiro mandato, quando estourou o escândalo do mensalão, fica-se sabendo que Dilma dificilmente teria estrutura política para resistir a uma crise daquelas, nem apoio dentro do PT.
A verdadeira história dos bastidores do governo vai sendo revelada por depoimentos de pessoas que viveram aqueles momentos ou pelos vazamentos de telegramas da diplomacia americana pelo WikiLeaks, desmontando a história oficial que os militantes e os blogueiros financiados pelo governo tentaram impingir à opinião pública.
Os telegramas revelaram as inseguranças do ex-ministro da Casa Civil José Dirceu, que deixou o governo em 2005 devido ao escândalo.
Dirceu revelou a um servidor americano que duvidava da capacidade do presidente Lula de se recuperar do escândalo, e seu receio de que ele seria derrotado se concorresse à reeleição.
Admitiu até mesmo a hipótese de o presidente ficar deprimido e desistir de concorrer a um novo mandato.
Também Gilberto Carvalho, em várias entrevistas, vem revelando detalhes daqueles dias de crise.
Segundo ele, houve momentos em que os assessores mais próximos nem sabiam se Lula chegaria ao final do governo.
Os dias "muito difíceis", segundo ele, foram o do depoimento do publicitário Duda Mendonça, que admitiu ter recebido "por fora" parte do pagamento de seu trabalho na campanha que elegeu Lula em 2002, e no dia em que um assessor do deputado petista José Nobre Guimarães, irmão de José Genoino, foi preso com dólares escondidos até na cueca.
"Dava a impressão de que, de fato, o impeachment estava muito vizinho", comentou Gilberto Carvalho.
Ele tem reafirmado também que os então ministros da Justiça, Marcio Thomaz Bastos, e da Fazenda, Antonio Palocci, chegaram a propor ao presidente Lula um acordo com a oposição, de não tentar a reeleição em troca de terminar o mandato.
Lula recusou-se a aceitar o acordo e mais tarde disse para Gilberto Carvalho que se candidataria e venceria a eleição por causa de sua "relação com o povo".
Carvalho admite que ele mesmo "tinha muitas dúvidas".
Pode-se supor que é com base nas experiências vividas nos dois mandatos do presidente Lula que tanto ele quanto Carvalho admitem que Dilma possa ter problemas em seu governo.
Um caso como o de Erenice Guerra, nomeada por Dilma para o Gabinete Civil de Lula em seu lugar por sua influência, poderia ter acabado com sua candidatura se Lula não estivesse muito popular.
E um caso semelhante em seu governo pode gerar crise política grave, e ela precisará de Lula para respaldá-la.
E não apenas isso.
Os problemas econômicos, que devem se agravar com a crise internacional que não dá trégua, devem proporcionar um quadro bastante complexo para uma presidente sem experiência, que vai ter que exercitar seu poder político tendo uma sombra do tamanho de Lula a acompanhar-lhe os passos.
Para o bem e para o mal.
Nas palavras tanto de Lula quanto de Gilberto Carvalho, é possível deduzir que Dilma não é o personagem principal do projeto petista de poder, e sim Lula.
Estando longe do poder de direito, Lula terá mais dificuldades de exercer seu poder de fato. E, para exercê-lo, muitas vezes terá que confrontar a presidente eleita.
Caberá a ela demonstrar na prática que tem vida própria em seu próprio governo. O exercício do poder político da Presidência da República certamente ajuda muito.
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