A presidente Dilma Rousseff vive uma saia justa entre a herança que considera "bendita", sendo ela mesma o fruto dessa herança, e uma inflação cada vez mais insinuante, produto da festa de gastos públicos a que se resumiu o governo Lula.
Nos dois últimos anos, o surgimento da inflação foi jogado nas costas largas da bolha especulativa das commodities, que tem um forte componente derivado do investimento prioritário feito na eleição da então candidata. De certa forma, Dilma é um pouco vítima de seu próprio projeto.
Confrontada com a realidade, longe dos fulgurantes fogos de artifício da propaganda que alimentou o governo passado, temos uma economia cujas bases foram irresponsavelmente solapadas em benefício de uma candidatura presidencial que vendeu a ilusão de um crescimento lastreado em gasto público e financiado pela poupança externa.
Obrigado a ajustar a economia à realidade, vemos o governo anunciar um corte da ordem de R$ 50 bilhões, visando combater a inflação que ele mesmo alimentou; o desequilíbrio do câmbio é fruto da valorização de nossas commodities e da desvalorização do dólar em nível mundial; e a taxa de juros é a mais alta dentre os países emergentes e uma das mais altas do mercado internacional. Acertar as coisas na área fiscal passa a ser uma necessidade e não uma opção.
Vista por seu "valor de face", tal corte parece à primeira vista muito grande. Ocorre que muito do que está sendo "cortado" são despesas infladas quando da feitura do orçamento pelo Congresso. Há uma boa distância entre valor autorizado e o empenhado. Assim como há entre valor empenhado e o de fato pago no exercício.
Qualquer que seja o critério que se observe, o anúncio do governo, no entanto, evidencia que haverá uma queda do ritmo da economia, antes negado peremptoriamente, e um decréscimo dos serviços prestados nas áreas de educação, saúde e segurança.
De outro lado, o que se convencionou chamar de investimento em nossa infraestrutura, mormente os voltados para a ampliação de nossos portos, aeroportos, energia, estradas e ferrovias sofrerão atrasos ou poderão ser cancelados.
Sem falar no que foi propagandeado à exaustão como os mirabolantes planos de dois milhões de casas populares e as seis mil creches que embalaram os sonhos de nosso povo durante a campanha eleitoral.
Apresentado como o "maior plano de metas já feito em nosso país", do PAC ninguém mais fala, a não ser para lembrar de atrasos, de obras superfaturadas paralisadas pelo Ministério Público e o TCU ou da gestão incompetente da maioria delas. O que fica evidente pela morosidade das obras necessárias para fazer frente ao desafio de realizar as Olimpíadas e a Copa do mundo.
Como no governo Lula, as medidas anunciadas no governo Dilma visam o curto prazo, mas a questão fiscal requer muito mais que cortes pontuais. Há que se pensar a longo prazo, montar estratégia e efetivá-las com ações competentes, o que o atual governo está longe de implementar, pela carga que carrega do governo passado.
Roberto Freire é presidente do PPS
FONTE: BRASIL ECONÔMICO
Nos dois últimos anos, o surgimento da inflação foi jogado nas costas largas da bolha especulativa das commodities, que tem um forte componente derivado do investimento prioritário feito na eleição da então candidata. De certa forma, Dilma é um pouco vítima de seu próprio projeto.
Confrontada com a realidade, longe dos fulgurantes fogos de artifício da propaganda que alimentou o governo passado, temos uma economia cujas bases foram irresponsavelmente solapadas em benefício de uma candidatura presidencial que vendeu a ilusão de um crescimento lastreado em gasto público e financiado pela poupança externa.
Obrigado a ajustar a economia à realidade, vemos o governo anunciar um corte da ordem de R$ 50 bilhões, visando combater a inflação que ele mesmo alimentou; o desequilíbrio do câmbio é fruto da valorização de nossas commodities e da desvalorização do dólar em nível mundial; e a taxa de juros é a mais alta dentre os países emergentes e uma das mais altas do mercado internacional. Acertar as coisas na área fiscal passa a ser uma necessidade e não uma opção.
Vista por seu "valor de face", tal corte parece à primeira vista muito grande. Ocorre que muito do que está sendo "cortado" são despesas infladas quando da feitura do orçamento pelo Congresso. Há uma boa distância entre valor autorizado e o empenhado. Assim como há entre valor empenhado e o de fato pago no exercício.
Qualquer que seja o critério que se observe, o anúncio do governo, no entanto, evidencia que haverá uma queda do ritmo da economia, antes negado peremptoriamente, e um decréscimo dos serviços prestados nas áreas de educação, saúde e segurança.
De outro lado, o que se convencionou chamar de investimento em nossa infraestrutura, mormente os voltados para a ampliação de nossos portos, aeroportos, energia, estradas e ferrovias sofrerão atrasos ou poderão ser cancelados.
Sem falar no que foi propagandeado à exaustão como os mirabolantes planos de dois milhões de casas populares e as seis mil creches que embalaram os sonhos de nosso povo durante a campanha eleitoral.
Apresentado como o "maior plano de metas já feito em nosso país", do PAC ninguém mais fala, a não ser para lembrar de atrasos, de obras superfaturadas paralisadas pelo Ministério Público e o TCU ou da gestão incompetente da maioria delas. O que fica evidente pela morosidade das obras necessárias para fazer frente ao desafio de realizar as Olimpíadas e a Copa do mundo.
Como no governo Lula, as medidas anunciadas no governo Dilma visam o curto prazo, mas a questão fiscal requer muito mais que cortes pontuais. Há que se pensar a longo prazo, montar estratégia e efetivá-las com ações competentes, o que o atual governo está longe de implementar, pela carga que carrega do governo passado.
Roberto Freire é presidente do PPS
FONTE: BRASIL ECONÔMICO
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