Professor titular do Coppead/UFRJ e especialista em logística e transportes, Paulo Fleury critica a falta de uma entidade que coordene ações na área e a fiscalização do transporte de carga no país.
Alessandra Duarte
Este carnaval foi mais violento nas estradas que o de 2010. O que motivou isto?
PAULO FLEURY: É bom lembrar que os dados da Polícia Rodoviária Federal dizem respeito só às rodovias federais, apenas 25% das rodovias pavimentadas do país. Se considerarmos todas as rodovias, o número médio de mortes é de cerca de cem por dia, ou 36 mil mortes por ano. Corresponde em média a dois acidentes fatais de avião a cada três dias. É inaceitável para um país com o grau de desenvolvimento do Brasil. Entre os principais motivos para isso, está a falta de regulação minimamente adequada sobre o transporte rodoviário de carga. Por exemplo, não há limites de horas de direção para os transportadores autônomos; não é incomum um motorista dirigir 40 horas seguidas sem descansar. Quando há a legislação, não é cumprida por falta de fiscalização. Um exemplo é o peso máximo permitido numa carreta, que não pode ser fiscalizado pois cerca de 90% das balanças não estão funcionando. O excesso de peso desequilibra o veículo, aumentando a chance de um tombamento.
A sinalização tem melhorado? E a Lei Seca? Funciona nas rodovias como tem funcionado em áreas urbanas?
FLEURY: A falta de sinalização continua sendo um dos principais problemas, principalmente combinado com altas velocidades em estradas com retas seguidas de curvas. A Lei Seca nas estradas não tem funcionado pela falta de fiscalização; nas vias urbanas é bem mais fácil fazer inspeção.
Como avalia a atuação do governo Lula e desse início de governo Dilma na prevenção e redução de acidentes nas estradas?
FLEURY: Infelizmente nenhum governo deu ou tem dado a devida atenção ao problema. Mesmo tendo conhecimento dos números alarmantes. Acho que o Congresso deveria votar uma lei de responsabilidade dos dirigentes que mantêm estradas em condições de risco como se encontram as nossas. As iniciativas dos governos federal e estaduais são absolutamente insuficientes para interromper esta tragédia nacional.
Quais são os estados em melhor e pior situação?
FLEURY: O estado com o maior número de acidentes e mortes é Minas: há manutenção precária para uma rede extensa, sobretudo de estradas estaduais com traçado antigo. São Paulo, com o maior percentual de rodovias privatizadas, é o que tem avançado mais no combate aos acidentes, pelo monitoramento das concessionárias, por exemplo.
Quais órgãos federais têm mais responsabilidade nesse quadro?
FLEURY: Um dos principais problemas que levam à falta de ações efetivas é a inexistência de uma entidade que coordene esta política. Hoje, as principais entidades são a PRF, o Dnit, os DERs estaduais e o Conit (Conselho Nacional de Integração de Políticas de Transporte), de âmbito multiministerial, mas que não tem se reunido com uma frequência mínima.
FONTE: O GLOBO
Alessandra Duarte
Este carnaval foi mais violento nas estradas que o de 2010. O que motivou isto?
PAULO FLEURY: É bom lembrar que os dados da Polícia Rodoviária Federal dizem respeito só às rodovias federais, apenas 25% das rodovias pavimentadas do país. Se considerarmos todas as rodovias, o número médio de mortes é de cerca de cem por dia, ou 36 mil mortes por ano. Corresponde em média a dois acidentes fatais de avião a cada três dias. É inaceitável para um país com o grau de desenvolvimento do Brasil. Entre os principais motivos para isso, está a falta de regulação minimamente adequada sobre o transporte rodoviário de carga. Por exemplo, não há limites de horas de direção para os transportadores autônomos; não é incomum um motorista dirigir 40 horas seguidas sem descansar. Quando há a legislação, não é cumprida por falta de fiscalização. Um exemplo é o peso máximo permitido numa carreta, que não pode ser fiscalizado pois cerca de 90% das balanças não estão funcionando. O excesso de peso desequilibra o veículo, aumentando a chance de um tombamento.
A sinalização tem melhorado? E a Lei Seca? Funciona nas rodovias como tem funcionado em áreas urbanas?
FLEURY: A falta de sinalização continua sendo um dos principais problemas, principalmente combinado com altas velocidades em estradas com retas seguidas de curvas. A Lei Seca nas estradas não tem funcionado pela falta de fiscalização; nas vias urbanas é bem mais fácil fazer inspeção.
Como avalia a atuação do governo Lula e desse início de governo Dilma na prevenção e redução de acidentes nas estradas?
FLEURY: Infelizmente nenhum governo deu ou tem dado a devida atenção ao problema. Mesmo tendo conhecimento dos números alarmantes. Acho que o Congresso deveria votar uma lei de responsabilidade dos dirigentes que mantêm estradas em condições de risco como se encontram as nossas. As iniciativas dos governos federal e estaduais são absolutamente insuficientes para interromper esta tragédia nacional.
Quais são os estados em melhor e pior situação?
FLEURY: O estado com o maior número de acidentes e mortes é Minas: há manutenção precária para uma rede extensa, sobretudo de estradas estaduais com traçado antigo. São Paulo, com o maior percentual de rodovias privatizadas, é o que tem avançado mais no combate aos acidentes, pelo monitoramento das concessionárias, por exemplo.
Quais órgãos federais têm mais responsabilidade nesse quadro?
FLEURY: Um dos principais problemas que levam à falta de ações efetivas é a inexistência de uma entidade que coordene esta política. Hoje, as principais entidades são a PRF, o Dnit, os DERs estaduais e o Conit (Conselho Nacional de Integração de Políticas de Transporte), de âmbito multiministerial, mas que não tem se reunido com uma frequência mínima.
FONTE: O GLOBO
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