Pressionados pelas contas de início do ano, os brasileiros retiraram R$ 96,1 bilhões da caderneta de poupança em fevereiro. Desde abril de 2009, o volume de saques não superava o de depósitos. Despesas escolares puxaram a inflação do mês passado.
Saques da poupança para pagar dívidas
Apertados pelo acúmulo de contas no início do ano, trabalhadores sacrificam investimentos na caderneta, que perdeu R$ 745 milhões
Fábio Monteiro Jorge Freitas
Gastos com viagens, despesas escolares e impostos. O começo de ano do brasileiro é recheado de preocupações com diversas despesas. Para não entrar no vermelho nos primeiros meses, os consumidores juntam as economias com o objetivo de eliminar as dívidas. A caderneta de poupança, tradicional opção para quem quer proteger o patrimônio, é a principal vítima na hora da quitação dos débitos. Segundo dados divulgados ontem pelo Banco Central, os brasileiros sacaram R$ 96,1 bilhões dessa modalidade de investimento em fevereiro e depositaram R$ 95,4 bilhões. O volume de retiradas não superava o de entradas desde abril de 2009 — a diferença ficou negativa em R$ 745 milhões.
No ano, a caderneta já perdeu R$ 470 milhões, pior resultado desde o primeiro bimestre de 2006. Mesmo com a desesperada tentativa de torrar ativos para equilibrar as contas, o número de trabalhadores pendurados não para de subir. Em janeiro de 2011, o endividamento do brasileiro no sistema financeiro foi de R$ 787 bilhões. No mesmo período de 2010, eram R$ 643,9 bilhões. Em um ano, o salto foi de R$ 143,1 bilhões. Para Júlio Santos, educador financeiro do Instituto DSOP, sacrificar as economias para sanar dívidas é aceitável, mas não atinge a raiz do problema. “O importante é que o consumidor faça uma reflexão sobre as prioridades de gastos. Não adianta limpar as reservas se não houver mudança de comportamento”, disse.
Na avaliação da economista Marianne Hanson, da Confederação Nacional do Comércio (CNC), o endividamento está alto, mas o bom momento econômico facilita o pagamento dos compromissos. “O crescimento do emprego e da renda familiar permite a realização de mais empréstimos a longo prazo, mas que ainda cabem no bolso do consumidor”, explicou. “O nível de inadimplência é baixo. Tudo isso contribui para que as pessoas se sintam mais confiantes e tenham as dívidas sob controle, mesmo que, para isso, precisem gastar suas economias.”
Usar as reservas para pagar dívidas é uma forma de garantir a tranquilidade. No caso de Ana Paula Lima, 26 anos, professora de educação física e estudante de radiologia, o dinheiro retirado da poupança serve para garantir a permanência em Brasília, além de ajudar na preparação para o concurso de oficial da Marinha. “Peguei dinheiro da poupança para pagar a faculdade e o aluguel da minha casa. Gastei metade, mas vou poupar novamente, porque decidi não pular o carnaval, nem viajar nas férias”, disse.
No vermelho
O bancário Rodrigo Abraão, 23 anos, sacou economias para pagar roupas compradas no fim de ano. “Gastei mais da metade da minha poupança. Quase fiquei no vermelho. Agora, pretendo fazer novos investimentos”, disse. Abraão lamentou ter precisado gastar suas reservas. “O certo seria não ter tirado nenhum dinheiro, porque a poupança é segura, apesar de render pouco.”
A estagiária Noele Campos, 22 anos, economiza para concluir os estudos e entrar na carreira profissional com o pé direito. “Tenho poupança e raramente tiro algo de lá, porque não faço muitas despesas, já que moro com meus pais. Mas, às vezes, preciso sacar dinheiro para pagar viagens e livros”, afirmou. De acordo com a pesquisa de endividamento e inadimplência do consumidor, divulgada pela Fecomércio-SP, 53,8% dos consumidores paulistas estão encalacrados. Entre as dívidas mais comuns, estão as contas do cartão de crédito (68,3%), carnês (30,6%) e financiamentos de veículos (12,9%). Na semana passada, a CNC divulgou levantamento segundo o qual 65,3% dos brasileiros têm débitos.
A principal função da poupança, quando foi criada, era financiar projetos de habitação e de saneamento. Na década de 1970, muita gente aplicava todas as sobras na caderneta. Ainda hoje, a modalidade é considerada uma das mais seguras para a posterior aquisição de bens. O servidor público Bernardo Francisco de Moraes Neto, 48 anos, economiza para comprar um apartamento em Águas Claras. “Eu e a minha mulher economizamos para realizar esse sonho”, contou.
FONTE: CORREIO BRAZILIENSE
Saques da poupança para pagar dívidas
Apertados pelo acúmulo de contas no início do ano, trabalhadores sacrificam investimentos na caderneta, que perdeu R$ 745 milhões
Fábio Monteiro Jorge Freitas
Gastos com viagens, despesas escolares e impostos. O começo de ano do brasileiro é recheado de preocupações com diversas despesas. Para não entrar no vermelho nos primeiros meses, os consumidores juntam as economias com o objetivo de eliminar as dívidas. A caderneta de poupança, tradicional opção para quem quer proteger o patrimônio, é a principal vítima na hora da quitação dos débitos. Segundo dados divulgados ontem pelo Banco Central, os brasileiros sacaram R$ 96,1 bilhões dessa modalidade de investimento em fevereiro e depositaram R$ 95,4 bilhões. O volume de retiradas não superava o de entradas desde abril de 2009 — a diferença ficou negativa em R$ 745 milhões.
No ano, a caderneta já perdeu R$ 470 milhões, pior resultado desde o primeiro bimestre de 2006. Mesmo com a desesperada tentativa de torrar ativos para equilibrar as contas, o número de trabalhadores pendurados não para de subir. Em janeiro de 2011, o endividamento do brasileiro no sistema financeiro foi de R$ 787 bilhões. No mesmo período de 2010, eram R$ 643,9 bilhões. Em um ano, o salto foi de R$ 143,1 bilhões. Para Júlio Santos, educador financeiro do Instituto DSOP, sacrificar as economias para sanar dívidas é aceitável, mas não atinge a raiz do problema. “O importante é que o consumidor faça uma reflexão sobre as prioridades de gastos. Não adianta limpar as reservas se não houver mudança de comportamento”, disse.
Na avaliação da economista Marianne Hanson, da Confederação Nacional do Comércio (CNC), o endividamento está alto, mas o bom momento econômico facilita o pagamento dos compromissos. “O crescimento do emprego e da renda familiar permite a realização de mais empréstimos a longo prazo, mas que ainda cabem no bolso do consumidor”, explicou. “O nível de inadimplência é baixo. Tudo isso contribui para que as pessoas se sintam mais confiantes e tenham as dívidas sob controle, mesmo que, para isso, precisem gastar suas economias.”
Usar as reservas para pagar dívidas é uma forma de garantir a tranquilidade. No caso de Ana Paula Lima, 26 anos, professora de educação física e estudante de radiologia, o dinheiro retirado da poupança serve para garantir a permanência em Brasília, além de ajudar na preparação para o concurso de oficial da Marinha. “Peguei dinheiro da poupança para pagar a faculdade e o aluguel da minha casa. Gastei metade, mas vou poupar novamente, porque decidi não pular o carnaval, nem viajar nas férias”, disse.
No vermelho
O bancário Rodrigo Abraão, 23 anos, sacou economias para pagar roupas compradas no fim de ano. “Gastei mais da metade da minha poupança. Quase fiquei no vermelho. Agora, pretendo fazer novos investimentos”, disse. Abraão lamentou ter precisado gastar suas reservas. “O certo seria não ter tirado nenhum dinheiro, porque a poupança é segura, apesar de render pouco.”
A estagiária Noele Campos, 22 anos, economiza para concluir os estudos e entrar na carreira profissional com o pé direito. “Tenho poupança e raramente tiro algo de lá, porque não faço muitas despesas, já que moro com meus pais. Mas, às vezes, preciso sacar dinheiro para pagar viagens e livros”, afirmou. De acordo com a pesquisa de endividamento e inadimplência do consumidor, divulgada pela Fecomércio-SP, 53,8% dos consumidores paulistas estão encalacrados. Entre as dívidas mais comuns, estão as contas do cartão de crédito (68,3%), carnês (30,6%) e financiamentos de veículos (12,9%). Na semana passada, a CNC divulgou levantamento segundo o qual 65,3% dos brasileiros têm débitos.
A principal função da poupança, quando foi criada, era financiar projetos de habitação e de saneamento. Na década de 1970, muita gente aplicava todas as sobras na caderneta. Ainda hoje, a modalidade é considerada uma das mais seguras para a posterior aquisição de bens. O servidor público Bernardo Francisco de Moraes Neto, 48 anos, economiza para comprar um apartamento em Águas Claras. “Eu e a minha mulher economizamos para realizar esse sonho”, contou.
FONTE: CORREIO BRAZILIENSE
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