GENEBRA - Muammar Gaddafi, ao contrário de Hosni Mubarak e Ben Ali, resolveu ficar e lutar, deixando a comunidade internacional sem alternativas realmente atraentes para reagir.
As opções disponíveis só não são zero porque sempre é possível torcer para que o regime se desmanche sem que o resto do mundo precise fazer mais do que condená-lo verbalmente ou impor sanções cujo efeito, se houver, será a médio ou longo prazo.
Enquanto isso não acontece, enquanto o sangue continua correndo e enquanto se arma nas fronteiras uma tragédia humanitária, o dilema de Sofia para o mundo é assim descrito na revista eletrônica "Jadaliyya" (Polêmica), editada pelo Instituto de Estudos Árabes de Washington:
"De um lado, a inação internacional em face das atrocidades na Líbia parece inaceitável. Do outro lado, o deplorável registro de anteriores intervenções internacionais inspira pouco entusiasmo", escrevem Asli Bali, professor de direito na Universidade da Califórnia em Los Angeles, e Ziad Abu-Rish, candidato ao doutorado no Departamento de História da universidade.
O envio direto de tropas está fora do cardápio, a julgar pelo que disse, na semana passada, o secretário norte-americano de Defesa, Robert Gates: "Na minha opinião, qualquer futuro secretário de Defesa que aconselhe o presidente a mandar de novo grande número de tropas americanas a Ásia, Oriente Médio ou África deveria ter sua mente submetida a exame".
Que tal então implementar uma zona de exclusão aérea sobre a Líbia, para evitar que Gaddafi bombardeie os rebeldes e seus territórios ou para impedir que traga mais mercenários para dar continuidade ao banho de sangue?
Respondem Bali e Abu-Rish: "Não protegeria a população civil do aparelho coercitivo do regime (que não é principalmente aéreo)", além de levantar dúvidas sobre a aplicabilidade ("as forças internacionais derrubariam um avião líbio?"). Mais: proibir voos poderia bloquear uma via de resgate de civis líbios e fecharia uma avenida para defecções por membros da Força Aérea.
Mandar armas para os rebeldes? Primeiro, eles precisariam ser treinados para usá-las, e não há instrutores disponíveis no terreno. Segundo, "poderiam cair nas mãos erradas e serem usadas contra nós", escreve James Lindsay, do Council on Foreign Relations.
Lindsay lembra que o pós-Gaddafi pode não ser um regime estável e, sim, "algo que se pareça mais à Somália" (um dos grandes fracassos das tropas norte-americanas).
Por fim, um grave risco político apontado na análise da Economist Inteligence Unit, braço de pesquisa da mitológica revista britânica: "Qualquer ação militar pelos governos ocidentais correria o risco de deslegitimar as rebeliões que já ocorreram e minar possíveis revoltas populares em outras partes".
Há virtual consenso, entre autoridades e acadêmicos, de que a propriedade da democracia que se busca tem que ficar com os locais. Os exemplos de Afeganistão e Iraque mostram que mudanças de regime a bordo de tropas estrangeiras não são um modelo a ser seguido.
A menos que a situação no terreno se resolva logo, a comunidade internacional terá que escolher o menor entre tantos riscos.
FONTE: FOLHA DE S. PAULO
As opções disponíveis só não são zero porque sempre é possível torcer para que o regime se desmanche sem que o resto do mundo precise fazer mais do que condená-lo verbalmente ou impor sanções cujo efeito, se houver, será a médio ou longo prazo.
Enquanto isso não acontece, enquanto o sangue continua correndo e enquanto se arma nas fronteiras uma tragédia humanitária, o dilema de Sofia para o mundo é assim descrito na revista eletrônica "Jadaliyya" (Polêmica), editada pelo Instituto de Estudos Árabes de Washington:
"De um lado, a inação internacional em face das atrocidades na Líbia parece inaceitável. Do outro lado, o deplorável registro de anteriores intervenções internacionais inspira pouco entusiasmo", escrevem Asli Bali, professor de direito na Universidade da Califórnia em Los Angeles, e Ziad Abu-Rish, candidato ao doutorado no Departamento de História da universidade.
O envio direto de tropas está fora do cardápio, a julgar pelo que disse, na semana passada, o secretário norte-americano de Defesa, Robert Gates: "Na minha opinião, qualquer futuro secretário de Defesa que aconselhe o presidente a mandar de novo grande número de tropas americanas a Ásia, Oriente Médio ou África deveria ter sua mente submetida a exame".
Que tal então implementar uma zona de exclusão aérea sobre a Líbia, para evitar que Gaddafi bombardeie os rebeldes e seus territórios ou para impedir que traga mais mercenários para dar continuidade ao banho de sangue?
Respondem Bali e Abu-Rish: "Não protegeria a população civil do aparelho coercitivo do regime (que não é principalmente aéreo)", além de levantar dúvidas sobre a aplicabilidade ("as forças internacionais derrubariam um avião líbio?"). Mais: proibir voos poderia bloquear uma via de resgate de civis líbios e fecharia uma avenida para defecções por membros da Força Aérea.
Mandar armas para os rebeldes? Primeiro, eles precisariam ser treinados para usá-las, e não há instrutores disponíveis no terreno. Segundo, "poderiam cair nas mãos erradas e serem usadas contra nós", escreve James Lindsay, do Council on Foreign Relations.
Lindsay lembra que o pós-Gaddafi pode não ser um regime estável e, sim, "algo que se pareça mais à Somália" (um dos grandes fracassos das tropas norte-americanas).
Por fim, um grave risco político apontado na análise da Economist Inteligence Unit, braço de pesquisa da mitológica revista britânica: "Qualquer ação militar pelos governos ocidentais correria o risco de deslegitimar as rebeliões que já ocorreram e minar possíveis revoltas populares em outras partes".
Há virtual consenso, entre autoridades e acadêmicos, de que a propriedade da democracia que se busca tem que ficar com os locais. Os exemplos de Afeganistão e Iraque mostram que mudanças de regime a bordo de tropas estrangeiras não são um modelo a ser seguido.
A menos que a situação no terreno se resolva logo, a comunidade internacional terá que escolher o menor entre tantos riscos.
FONTE: FOLHA DE S. PAULO
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