Temas em discussão no Congresso criam divergências e abrem feridas, incluindo ameaças de rebelião dos petistas. Apesar disso, o Planalto tem vencido os embates e imposto sua vontade
Izabelle Torres
As imposições do Planalto na pauta do Congresso e as reações contra o que nos bastidores apelidou-se de “trator governista” têm deixado à mostra as feridas abertas entre o governo e o PT. Se por um lado os petistas tiveram de atropelar o próprio discurso e calar-se diante de decisões como a privatização de aeroportos brasileiros, por outro, a cúpula palaciana diz que tem tido de negociar com a legenda como faz com aliados interessados em espaço político e cargos.
Não é pequena a lista de divergências entre o governo e seu partido. Um dos principais embates já ensaiados é em torno da proposta da jornada de trabalho de 44 para 40 horas sem redução de salários. O presidente do partido, Rui Falcão, eleito contra a vontade da presidente Dilma Rousseff, já anunciou que é o maior defensor da mudança e que ela faz parte de uma das prioridades da legenda no Congresso. O Planalto, por outro lado, não concorda com o teor da matéria e quer adiar a votação no plenário da Câmara.
O fim do fator previdenciário também é uma bandeira petista que contraria a vontade do governo. Integrantes da legenda no Congresso já fazem campanha há meses pela derrubada do veto presidencial à proposta. Deputados do partido, inclusive, apresentaram projetos este ano tratando do assunto, em uma tentativa de criar um plano alternativo para o caso de o trator governista impedir a votação do veto. O fator rende aos cofres públicos cerca de R$ 1,5 bilhão por ano, mas reduz algumas aposentadorias em até 40%. “Só quem perde com essa situação são os aposentados. Independentemente de partidos, o importante é garantir condições justas a essas pessoas”, defende o senador Paulo Paim (RS), um dos petistas mais revoltados com a posição palaciana sobre o assunto.
Tratorada
Apesar das reclamações e da choradeira nas reuniões da legenda — em uma delas, na semana passada, dois deputados sugeriram a rebelião —, o partido tem sido atropelado pelas decisões do governo. Crítico fervoroso das privatizações feitas pelo governo tucano, o PT teve de engolir calado o anúncio de que Dilma Rousseff vai privatizar aeroportos para facilitar as obras para a Copa do Mundo e as Olimpíadas. “Aceitar isso sem uma rebelião foi como rasgar nossa história. Falei isso na reunião da bancada e fui apoiado. As coisas não vão poder continuar assim”, desabafa um petista do Nordeste que, apesar do medo de retaliação, enumerou para os colegas uma lista de reivindicações não atendidas e posições ideológicas atropeladas.
Até em questões ambientais os integrantes do PT reclamam das orientações palacianas. Mais flexíveis às limitações para plantio de alimentos do que a ideia defendida pelo Ministério do Meio Ambiente, a bancada não tem consenso sobre o Código Florestal e promete cobrar caro se for obrigada a obedecer novamente às imposições do governo. As ameaças e a insatisfação têm rendido conversas frequentes entre membros do partido e o líder governista, Cândido Vacarezza (PT-SP), que já coleciona inimigos por ser considerado intransigente no cumprimento de ordens por medo de perder a função. Na última quinta-feira, o líder passou mais de duas horas conversando, afirmando a importância do PT e prometendo trabalhar para atender aos pleitos até agora relegados.
Para o deputado André Vargas (PT-PR), integrante do diretório nacional, as diferenças de posição estão sendo resolvidas com conversas e acordos entre o partido e o governo. “Tem de haver diálogo. Mas é preciso entender que a maioria dos definidores da política está no governo”, diz. A opinião de Vargas, na verdade, é uma forma conciliadora de dizer que, no fim dos embates, o Planalto sempre vence porque é o detentor do poder. “O PT tem tido que abrir mão dos próprios discursos e das ideias que defendia. Creio que não há como um partido fazer isso com boa vontade e sem desgastes”, avalia Antonio Augusto Queiroz, diretor do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap).
Os embates
Governo e PT já anunciam divergências sobre temas da pauta do Congresso. Conheça alguns deles:
» Redução da jornada de trabalho sem diminuição dos salários;
» Privatização de aeroportos;
» Fim do fator previdenciário;
» Possibilidade de o governo decidir por decreto sobre áreas e produtos que serão plantados em determinadas regiões do país.
FONTE: CORREIO BRAZILIENSE
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