Fonte: jornal O Globo |
O ex-presidente Lula assumiu a articulação política do Planalto para defender o governo Dilma e o ministro Palocci, diante das suspeitas sobre o aumento do patrimônio do chefe da Casa Civil. Em reunião com senadores do PT, Lula orientou o ataque e cobrou unidade para evitar a convocação de Palocci pelo Congresso. Segundo participantes do almoço, o ex-presidente chegou a acusar o tucano José Serra de estar por trás do vazamento de dados da empresa de Palocci. O ministro Gilberto Carvalho acusou a prefeitura de São Paulo.
Lula assume articulação para defender Palocci
Em reunião com senadores do PT, ex-presidente acusa Serra de estar por trás das denúncias e cobra unidade da base
Maria Lima
BRASÍLIA. Com a presidente Dilma Rousseff e o ministro-chefe da Casa Civil, Antonio Palocci, sem reação diante das suspeitas que pesam sobre o aumento substancial no patrimônio do homem forte do governo, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva assumiu ontem, de fato, a articulação política do Palácio do Planalto. E, a seu estilo, orientou o ataque. Num discurso inflamado, na reunião com senadores do PT, Lula exigiu unidade do partido na defesa de Palocci e acusou o ex-governador José Serra (PSDB) de estar por trás do vazamento de dados sobre o faturamento da empresa de Palocci em 2010 - que teria sido de R$20 milhões -, por meio da Secretaria de Finanças da Prefeitura de São Paulo.
Os petistas evitaram citar, em público, o nome do suposto "vazador", mas as suspeitas deles recaem sobre o secretário de Finanças de Gilberto Kassab na prefeitura de São Paulo, Mauro Ricardo Machado Costa, que foi também secretário de Fazenda do Estado de São Paulo quando Serra era governador.
Oposição é muito fraca, diz o ex-presidente
Depois do encontro com os senadores petistas, Lula permaneceu em Brasília para novas reuniões de articulação política. Deveria jantar à noite com a presidente Dilma - possivelmente com a presença de Palocci - e tem hoje reunião com líderes da base governista na casa do senador José Sarney (PMDB-AP).
Para Dilma, o ex-presidente deve relatar o que ouviu no almoço com os senadores petistas: muita reclamação contra a falta de ligação de Dilma e do Planalto com o PT; da impossibilidade de o ministro das Relações Institucionais, Luiz Sérgio, exercer o papel de articulador agora que Palocci está ferido; e cobrança de definição sobre as pendências no preenchimento dos cargos.
- No meu governo, eu comecei a apanhar depois de um ano e seis meses. O bombardeio ao governo da Dilma começou muito cedo, primeiro quando a imprensa começou a dar matérias me separando dela. Agora, com esse ataque ao Palocci, estão testando a Dilma, porque ele é seu principal ministro. A oposição hoje vem principalmente de setores da imprensa, porque no Parlamento é muito fraca - disse Lula, quando falava do suposto vazamento de informações pela prefeitura de São Paulo.
Lula não falou ainda em público sobre as denúncias que pesam contra Palocci. Ontem, entrou e saiu pela garagem sem dar entrevistas, mas disse frases fortes no encontro com os petistas.
- O governo está vivendo um momento ímpar de colher os frutos do que foi feito. A inflação começa a ser controlada, os índices de crescimento são muito bons, temos a maior base parlamentar da História e força junto à sociedade, muitas obras para mostrar. E a oposição vem com um negócio desse com o Palocci para atrapalhar? - reclamou Lula, segundo relatos.
Quando o ex-presidente pediu unidade do partido "para defender o companheiro", ouviu de volta um rosário de reclamações sobre a ausência total de interlocução com o Planalto e com o próprio Palocci para que eles façam sua defesa. Ontem mesmo o líder do PT, Humberto Costa (PE), foi ao Planalto em busca de informações e voltou sem respostas. Sequer falou com Palocci.
No caso dos cargos, os petistas disseram que Dilma tem que dar uma solução, nem que seja para desagradar, para não deixar essas pendências eternamente na pauta da base aliada.
- Você, Lula, é a pior pessoa para ouvir isso. Quem tinha que ouvir essas preocupações do partido era a presidente Dilma - disse Jorge Vianna (AC) durante o almoço.
Lula falou de seu contato permanente com Dilma, dos encontros quinzenais que os dois mantêm e das conversas por telefone nesses intervalos. Prometeu que a orientaria a sair do isolamento e dar mais "carinho" aos aliados no Congresso. Lula chegou a comentar que os políticos muitas vezes querem "apenas carinho".
Há somente ilações, diz líder do PT, Humberto Costa
Sobre a defesa de Palocci, todos concordaram que por enquanto ele ainda não enfrenta uma acusação cabal que inviabilize sua permanência no governo. E a estratégia para barrar sua ida ao Congresso é argumentar que é preciso esperar que Palocci encaminhe sua defesa à Procuradoria Geral da República.
- A posição do presidente Lula é semelhante à nossa. Até o presente momento não existe nenhuma acusação frontal contra o ministro Palocci que vá abalar nossa confiança nele. Apenas ilações, e cabe aos acusadores apresentar as provas - relatou Humberto Costa.
- O presidente Lula transmitiu a nós a necessidade de que o partido esteja unido na defesa do companheiro Palocci, que age com seriedade e é uma pessoa muito importante para o governo Dilma e para o Brasil - completou Eduardo Suplicy(SP).
Treze dos 15 senadores petistas compareceram ao almoço na casa da senadora Gleisi Hoffmann(PR) e do ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, também presente. Faltaram os senadores Delcidio Amaral (MS) e Walter Pinheiro (BA).
FONTE: O GLOBO
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