Tal como ocorreu com o DEM, e seguindo os passos recentes dos jovens liberais que encurralaram Gilberto Kassab e um contingente expressivo de políticos no beco de saída do partido, a direção do PSDB está empurrando porta afora um grupo de políticos, vários deles fundadores, tendo à frente o ex-governador José Serra. Começa, assim, a provar que a disputa interna do momento tem calibre para promover irrecuperável dissolução.
Até sábado, data de convenção, será possível saber se a crise no PSDB teve potencial para levar a facção paulista do partido às últimas consequências.
Disposição há. Como há, também, vontade de negociar à exaustão, nesses próximos cinco dias - e é o que ainda estão fazendo -, um espaço na direção partidária para um PSDB de fundadores, de redatores de seu programa, de seus estatutos, que ainda tem fôlego para resistir à pressão por deixar tudo no colo dos que chegaram por último.
Nas proximidades do gabinete de Fernando Henrique Cardoso, meio a uma discussão sobre a possibilidade de ele aceitar um convite para presidir o partido, foi feito um comentário que causou perplexidade, mas apenas em um primeiro momento. Disse o ex-presidente que, tal como criado, o PSDB acabou.
PSDB e PT encontraram seu denominador comum
Foi o sinal, evidenciou-se agora, de que os políticos de São Paulo, historicamente atados à legenda, já não consideram cláusula pétrea sua permanência. Uma coisa, porém, é a possibilidade de sair, outra diferente é ter isto no horizonte, como solução a curto prazo. Não está. A admissão da hipótese, contudo, tem efeito combustível.
Os grupos paulistas da legenda, tanto de José Serra como de Geraldo Alckmin, não pretendem morrer de véspera. Vão lutar, mas é forte a tentativa de aniquilamento, vinda do grupo do ex-governador de Minas, Aécio Neves, que depois de ter afastado Alckmin do eixo da disputa presidencial, concentrou-se na tarefa de emparedar Serra.
O pleito de São Paulo, para não perder contato com a direção partidária, é indicar o secretário geral do partido e o presidente do Instituto Teotonio Vilela, de estudos políticos. Na secretaria geral, Aécio, líder do processo, quer manter o seu mineiro Rodrigo de Castro. Para o Instituto, Alckmin convenceu Serra a aceitar a sua indicação. Segunda-feira passada, o governador paulista fez a proposta a Aécio; na terça, repetiu-a ao presidente do partido e candidato à reeleição, Sergio Guerra, hoje o principal operador do grupo aecista. Na quarta, Aécio e Guerra convocaram os senadores do partido para uma homenagem a Tasso Jereissati, no Senado, e ali apresentaram um documento de adesão e apoio ao ex-governador e ex-senadores cearense para a presidência do Instituto.
Aécio quer fazer da convenção de sábado a consagração de seu nome como candidato a Presidente da República em 2014, pelo PSDB. Está certo de que é a sua vez e o seu direito, e arma a direção partidária de forma que seja possível conduzir a caravana a seu modo, no seu tempo. José Serra quer ser candidato a presidente da República, em 2014, pelo PSDB. Acha prematura uma definição neste sábado por várias razões que tem relatado à direção do partido. Uma das principais é que não se sabe o que vai acontecer no Brasil. A análise, já feita para Sergio Guerra, é que o governo vai mal do ponto de vista moral, ético, programático, os projetos estão parados, as obras se deteriorando, a presidente recolhida, o principal ministro atingido por suspeitas.
Seria prematura uma definição dos candidatos, agora, até porque o PSDB sequer conseguiu organizar-se para atuar politicamente na oposição, com todo esse cenário a lhe facilitar a ação. Assiste, inerte, à abulia governamental. Não toma conhecimento de denúncias, das mais superficiais às mais graves.
Do ponto de vista institucional, nem o presidente do PSDB, Sérgio Guerra, nem o nominado candidato a presidente da República, Aécio Neves, deram sinal de que têm tomado conhecimento de qualquer dos casos que atormentam e expõem o governo. Oposição, não há. O que há é a guerra interna, o vale-tudo para definir agora a candidatura do PSDB em 2014. E sufocar Serra, antes que consiga protelar a definição. Tarefa para a qual, segundo a campanha da própria direção do partido, já não estaria apto.
A propaganda do PSDB de Aécio (presidência do partido, deputados mineiros, publicitários, pesquisadores, amigos e imprensa) tem decretado o isolamento de José Serra. O político que recebeu 44 milhões de votos para presidente da República em 2010, que já foi eleito senador, governador e prefeito de São Paulo, estaria acuado, no partido e na política. Porém, em contradição, é à sua figura que o partido recorre quando precisa de um culpado pelos seus desacertos e incompetências. Na direção do PSDB, hoje, Serra é culpado desde o racha dos parlamentares paulistas à criação de novo partido a partir da destruição do aliado liberal.
Quem está isolado, comanda?
As cúpulas do PT e do PSDB, finalmente, encontraram seu denominador comum. Desde o escândalo Waldomiro Diniz, o PT atribui a José Serra a condição de seu "adversário-responsável". Aproveitando-se da atual guerra de eliminação, o PT também sentiu falta e foi buscar o seu bode expiatório. Desde a semana passada, a ordem no principal partido governista é atribuir ao PSDB paulista, especialmente a José Serra, a autoria do vazamento sobre a arrecadação da empresa de consultoria do ministro Antonio Palocci, tendo como fonte dos dados de enriquecimento súbito o cálculo dos impostos pagos à prefeitura paulista. O superministro petista da Casa Civil sabe que seu inferno astral vem mesmo do fogo amigo, mas a estratégia definida pelo ex-presidente Lula tenta repetir o sucesso obtido em outros idênticos carnavais.
A direção do PSDB não assumiu sua identidade oposicionista nem nesse caso, seja para cobrar explicações sobre as suspeitas levantadas seja para combater o sofisma a que o PT recorre em todos os escândalos que protagonizou no governo federal.
Fulminar Serra é o que busca o grupo reunido em torno de Aécio. A forma, por truculenta, conseguiu até constranger Alckmin. O governador tem esfriado a já histórica disputa paulista entre o seu grupo e o de Serra. E não há razões para desconfiar da indicação que fez de Serra para o Instituto de estudos do partido, há testemunhas. Menos razões ainda para crer que apoie o enfraquecimento do PSDB em São Paulo, onde buscará, em 2014, sua reeleição ao governo.
Rosângela Bittar é chefe da Redação, em Brasília.
VALOR ECONÔMICO
Um comentário:
Companheir@s,
Esse artigo é uma convite para a reflexão ao XVII Congresso do PPS. Observamos que a chamada oposição debate siglas e posições nas máquinas partidárias com a perspectiva de se "cacifar" para eleições.
Não há a apresentação de um programa para a sociedade. Nossa derrota no segundo turno foi fruto desse "caldo" político pois a candidatura PSDB/DEM se desandou na campanha do "Fé em Deus". Os valores eclipsaram ainda mais a nossa política de oposição. Herdamos 44 milhões de voto sem alçar uma "bandeira política" clara para a sociedade.
Esse deve ser o papel político de nosso Partido se ele deseja ser ainda protagonista da política. Falta fazer uma oposição programática. Exemplos:1) alta inflacionária combatida com aumento da taxa de juros (até onde esse amargo remédio não implicará numa estagnação?); 2) a informação de que o país não pode crescer mais que 4% para evitar um "surto" inflacionário; 3) as constantes crises no Ministério da Educação sem que vejamos avanços na qualidade de ensino...
O PPS deve atuar com Programa para justificar melhor suas alianças. A ausência desse "norte político" nos levou a divisão na votação da reforma do Código Florestal Brasileiro. O tema foi "deliberado" em qual órgão partidário? Liberou-se a bancada para se votar conforme as circunstâncias de cada base eleitoral. Lamentamos que os filiados só tenham a abertura de uma Tribuna de Debate no site do partido apenas no dia da votação do Projeto. Muitos novos filiados estão insatisfeitos com essa postura que poderá gerar novas divisões no futuro. Portanto, a unidade se faz com Programa ao contrário dos "conchavos de cúpula" que não refletem nosso pensamento democrático da esquerda.
Saudações reformistas e ecológicas.
Vagner Gomes - PPS/Campo Grande-RJ
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