Paola de Moura
Rio - Pressionado por deputados estaduais e pela sociedade, o governador Sérgio Cabral (PMDB) saiu da linha de frente das negociações com os bombeiros e determinou que o novo comandante-geral da corporação, coronel Sérgio Simões, detém todos os poderes para negociar com os militares. O recado foi dado pelo presidente da Assembleia Legislativa, o deputado estadual Paulo Melo (PMDB), em discurso realizado na tribuna ontem de tarde. "O comandante esteve no quartel e ofereceu procurar a juíza [Ana Paula Pena Barros, da Auditoria Militar do Estado] para negociar a transferência dos presos para quartéis próximos a suas casas e eles não aceitaram", reclamou.O discurso deixou irritados os deputados de oposição que lideram a pressão sobre o governo. "O sentimento que eu tenho é que o governador fugiu da responsabilidade. Ele criou uma ruptura com a corporação na [entrevista] coletiva [de sábado] e depois determina que o comandante resolva? O comandante não tem poder de dar aumento, nem de libertar ninguém", afirmou o deputado estadual, Marcelo Freixo (PSOL), que ontem já tinha recolhido 30 assinaturas de parlamentares na nota de apoio aos bombeiros, incluindo os da base de governo de Cabral. Assinaram a lista os deputados Paulo Ramos (PDT), Wagner Montes (PDT), Zaqueu Teixeira (PT), Gilberto Palmares (PT) e mais 10 outros deputados que apoiam o governador.
Diante da ameaça da oposição de bloquear a pauta da Assembleia, ontem, o governo convocou os parlamentares da base para comparecerem em peso à Casa. "Normalmente, no início da sessão há apenas sete ou oito deputados no plenário. Ninguém exige o quórum mínimo, porque se fosse assim, não haveria sessão nunca", explica a deputada Jandira Rocha (PSOL). "Hoje, vieram mais de 20 da base aliada, para evitar que pedíssemos a contagem".
Desde a entrevista de sábado e a nota divulgada no domingo, quando o governador chamou os bombeiros que invadiram o quartel central da corporação no Rio, acompanhados de mulheres e crianças de "vândalos irresponsáveis", Cabral não fala mais do assunto publicamente e se recusa a responder a perguntas dos jornalistas.
No entanto, na noite de segunda-feira, ele se reuniu com parlamentares da base de apoio para discutir a crise e achar soluções. Nos bastidores, como apurou o Valor, Cabral já admite tentar negociar com a juíza a liberação dos 439 bombeiros.
Ontem, pela cidade, havia carros circulando com faixas e fitas vermelhas presas em sinal de apoio. Também era possível ver panos vermelhos hasteados nas janelas de residências. O Sindicato Estadual dos Professores de Educação (Sepe) decidiu parar em apoio aos bombeiros e convoca uma greve geral dos funcionários públicos.
Enquanto isso, os bombeiros permanecem acampados em frente à Alerj esperando a liberação dos companheiros. "A questão salarial ficou em segundo plano, o que nós lutamos agora é pela liberação dos nossos 439 companheiros. Só depois que eles forem soltos voltamos a negociar", afirma o sargento Narciso, um dos líderes da ocupação. Os bombeiros presos também divulgaram uma nota agradecendo as manifestações e determinando que ninguém seja autorizado a negociar antes da liberação.
Desde abril, os bombeiros fazem manifestações pela cidade pedindo melhores salários. Eles alegam receber o menor salário do país, R$ 1.031,38, sem direito a vale-transporte. Não foram recebidos pelo secretário de Saúde, Sérgio Cortes, a quem, atualmente a corporação é subordinado. O Corpo de Bombeiros faz parte da subsecretaria de Defesa Civil, incorporada à Pasta de Saúde no governo Cabral.
Em 25 de maio, pela primeira vez, foram recebidos pelo secretário de Planejamento, Sérgio Ruy. Naquela época, o secretário disse que os bombeiros receberiam, de janeiro de 2007 a julho de 2010, reajustes anuais que elevariam suas remunerações em 29,73%. Segundo a secretaria, em junho de 2010, nova lei permitiria aumento acumulado em oito anos de 100,8% na remuneração do soldado, que passaria para R$ 2.077,25 em dezembro de 2014, sem contar triênios e gratificações. No entanto, a corporação não está disposta a esperar até 2014 e quer o que o reajuste seja aplicado no salário-base, o que implicaria também em reajustes das gratificações.
FONTE: VALOR ECONÔMICO
Um comentário:
Por que o ato dos bombeiros cria um precedente perigoso
Os bombeiros assim como qualquer categoria têm o direito de pedir melhoria salarial, ocorre que por servirem junto com a PM, sob regime militar, lhes é vetado o direto à greve. Nos últimos dias o que tenho visto no Rio é um circo. Uma categoria que vem sendo “doutrinada” por políticos faz meses, chega ao ponto de rasgar sua lei militar, invadir um quartel, ocupar e inutilizar viaturas.
Ora, isso é inadmissível em um estado de direito. Imaginemos se médicos decidem fazer greve, invadir hospitais, furar pneu das ambulâncias e trancar as portas; E se um dia policiais em greve ocuparem os presídios e ameaçarem soltar os presos? Não obstante, teríamos ainda a possibilidade de Soldados do exército em greve, colocarem tanques para obstruir vias. Pergunto: Onde a sociedade vai parar? É esse o precedente que a sociedade deseja abrir com os bombeiros?
Para que não corramos esse risco há uma legislação militar que rege as FFA, Bombeiros e a PM. Independente de qualquer pleito salarial, ela tem de ser respeitada. No momento em que a sociedade permitir que essa lei seja ignorada, estará pondo em risco sua própria ordem.
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